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27/10/2000 - 12h32

Diretor diz que festivais de cinema podem levar filme ao Irã

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da Reuters
em São Paulo

Em visita a São Paulo como convidado da 24ª Mostra Internacional de Cinema, o diretor iraniano Jafar Panahi disse em entrevista exclusiva à Reuters que a premiação do filme "O Círculo" com o Leão de Ouro no último Festival de Veneza e sua exibição em festivais ao redor do mundo, como em São Paulo, poderão ajudar a liberação da obra, que continua proibida no Irã.

Ele revelou ter tido problemas já na fase da produção, adiada por cerca de 9 meses porque não obtinha permissão para filmar, como é seu hábito, nas ruas de Teerã.

Para que o filme fosse finalmente feito, ele ressaltou a importância do apoio que recebeu dos jornais independentes de seu país. Quanto à liberação para exibição, disse não ter idéia do tempo que levará para que a fita alcance os cinemas em seu país. "Tudo depende dos políticos do dia", afirmou.

O único país do mundo em que o filme já foi exibido comercialmente foi a Itália, onde ganhou um circuito de oito salas, em setembro passado.

"O Círculo" conta a história de dez mulheres, algumas ex-presidiárias, uma que procura fazer um aborto, outra que procura abandonar a filha e uma prostituta -esta última, parte de um problema nunca abordado no cinema iraniano.

Para o diretor, ter mostrado que no Irã existe a prostituição pode ter sido uma das causas da dificuldade de ter permissão para filmar a história. Panahi ressaltou que sua intenção foi apenas dizer que o problema existe, não apontar uma solução. "Um diretor deve ser um espelho do que existe na sociedade. Ele vê a dor, mas não é ele o médico que vai indicar a cura", comparou.

No entender de Panahi, a falta de liberdade de que sofrem as mulheres no Irã não é um caso excepcional. Ele explicou que apenas resolveu abordar esse assunto porque estava preocupado com o tema dos limites que cerceiam a vida de determinadas pessoas.

Nos seus dois primeiros filmes, "O Balão Branco" e "O Espelho", as protagonistas eram meninas. Para escrever o roteiro de "O Círculo", seu terceiro filme, ele especulou como seria a vida dessas meninas quando adultas numa sociedade como a iraniana, onde uma mulher desacompanhada não pode fumar nas ruas, pegar carona com um homem, tomar um ônibus intermunicipal ou fazer um aborto -permitido pelas leis do Irã desde que o homem faça o pedido junto com a mulher.

Esse círculo do título do filme para ele é a imagem perfeita de limitações que afetam várias pessoas em todo o mundo, não só no Irã e não só mulheres. Para ele, "todas as pessoas existem num círculo, que se baseia nas condições sociais, políticas, econômicas e culturais. É possível que esse círculo em países pequenos seja muito mais estreito do que no Irã. Mas em todos os lugares, as pessoas querem sair dele. Essa é a história da humanidade. A liberdade e o crescimento são necessários".

A importância de filmar suas histórias sempre nas ruas de Teerã e com uma esmagadora maioria de atores amadores (em "O Círculo", há apenas duas atrizes profissionais, de um elenco de 20 pessoas) traduz o estilo do diretor, que procura sempre a maior naturalidade e realidade possíveis. Um outro motivo é que, se ele faz uma cena interna com uma mulher, o governo exige que a filme sempre com o chador na cabeça, mesmo dentro da própria casa -uma situação que, segundo ele, não é mais a realidade no Irã de hoje.

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