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24/12/2005 - 11h20

Museus de SP recebem obras de Edemar

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FABIO CYPRIANO
da Folha de S.Paulo

Uma revolução está em curso em alguns museus paulistanos, graças à decisão do juiz Fausto Martin de Sanctis, da 6ª Vara Federal Criminal, que, no último dia 6, fez com que Edemar Cid Ferreira deixasse de ser o "depositário judicial" de sua coleção e deu um prazo de 40 dias para que o banqueiro e sua família saiam de sua mansão na rua Gália.

Por conta dessa ação, as mais de 9.000 obras da chamada Cid Collection, de Edemar, que estavam em estado de deterioração no galpão que abrigava a coleção, foram distribuídas em regime de "guarda provisória" para sete instituições da cidade, quatro delas vinculadas à Universidade de São Paulo. Só o Museu Paulista, no Ipiranga, recebeu cerca de 6.000 peças.

"Esse acervo chega num momento de expansão de nosso museu. Usamos hoje 40% de nosso espaço expositivo, mas iremos transferir todo o setor administrativo e a reserva técnica para prédios anexos, o que permitirá que tornemos essa coleção publica", diz Eni de Mesquita Sâmara, diretora do Museu Paulista.

Durante dez dias, 15 pessoas do museu trabalharam com lanternas, já que as contas de luz, água e aluguel do galpão não eram mais pagas --um dos principais motivos que levou o juiz a tomar a medida de distribuição do acervo--, para resgatar as obras do local. Só com acréscimo de pessoal, a instituição gastou R$ 16 mil. "A coleção completa nosso acervo, e vamos disponibilizar o que não for exposto para consulta externa."

Já o Museu de Arte Sacra de São Paulo recebeu um número de obras bem menor, mas não sem comemoração. "A decisão do juiz é muito importante, pois cuida de um patrimônio que é do país", afirma Mari Marino, diretora da instituição, que está em fase de catalogação das obras recebidas. Uma delas, o forro de uma igreja ainda não identificada, chegou a ser danificado num alagamento que houve no galpão. Entre outros destaques recebidos, estão quatro réplicas em cobre dos profetas de Aleijadinho, já em exposição no local. "Essas obras já se tornaram o local onde as pessoas fazem foto no museu."

O Museu de Arqueologia e Etnologia da USP (MAE) passou a cuidar de cerca de 2.000 peças, "uma das maiores coleções amazônicas em todo o mundo", segundo Murillo Marx, diretor do MAE. A instituição já gastou R$ 26 mil para cuidar do novo acervo, além de ter dobrado a segurança do local.

Por conta do alagamento, parte da coleção de arte plumária foi danificada, mas já se encontra no Memorial da América Latina, que deve expô-la no próximo ano. O Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP também recebeu um aporte significativo, só comparado ao que ocorreu na época de sua fundação, em 1963, pelo mecenas Ciccillo Matarazzo.

Toda a coleção de catálogos das exposições organizadas por Edemar, como a Mostra do Redescobrimento, em 2000, e demais eventos na Oca e no exterior, foi, ainda segundo a decisão do juiz, entregue à Secretaria de Estado da Cultura, para distribuí-la a bibliotecas de escolas da cidade. "Decisão de juiz não se discute, se cumpre", disse Fabio Magalhães, secretário-adjunto da Cultura.

Na última terça, a decisão do juiz Sanctis ganhou um forte aliado. O Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultura e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp) decidiu, em reunião extraordinária e por apoio unânime dos conselheiros, "abrir processo para tombar o conjunto de obras e documentos de valor artístico, histórico e cultural" da coleção de Edemar, segundo o conselheiro Walter Pires. Se o processo final for pelo tombamento, as obras não poderão sair de São Paulo.

Acusações

O advogado de Edemar, Sergio Bermudes, afirmou que entrou com mandado de segurança no Tribunal Regional Federal contra a decisão do juiz em retirar a casa do banqueiro, mas que, "em relação à coleção, isso será providenciado no devido tempo".

Edemar é acusado de gestão fraudulenta, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. Ele nega. O Banco Santos faliu em setembro deixando um rombo de R$ 2,2 bilhões.

Mesmo que seja questionada, a "guarda provisória" deve durar no mínimo quatro anos, por conta dos trâmites necessários. Edemar pode ter saído da cena das grandes mostras, mas o legado que agora chega aos museus vai fazer com que seu nome continue a circular, curiosamente, como resposta a um questionamento comum ao banqueiro: ter investido muito em mostras sem deixar um legado às instituições.

Especial
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