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01/01/2006 - 10h40

Para analistas, queda da baixaria marcou 2005

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MARCELO BARTOLOMEI
Colaboração para a Folha de S.Paulo, no Rio

A entrada da Record na dramaturgia e o fim de algumas baixarias como os programas de João Kléber e Márcia Goldschimidt, ambos retirados do ar, marcaram 2005 na televisão brasileira.

As opiniões são de cinco especialistas convidados pela Folha para fazer uma análise do ano e dar palpites para 2006. Os acadêmicos Gabriel Priolli e Laurindo Lalo Leal Filho; os novelistas Gilberto Braga e Lauro César Muniz; e o ator Juca de Oliveira concordam que a programação não é ideal, pois é feita com base em audiência e objetivos comerciais.

Eles criticam programas de auditório que exploram a vida de pseudo-artistas, fofocas na TV e cenas de sexo e violência em horários impróprios. Para 2006, fica a esperança de uma programação melhor. Abaixo, as opiniões:

Folha - 2005 foi um bom ano para a TV brasileira? Por quê?

Gabriel Priolli - As minisséries da Globo se destacaram. Por conta da situação política, foi um ano mais ocupado pelo jornalismo. A crise enfatizou a importância dos canais públicos e o interesse que as pessoas têm em acompanhar os debates. Em dramaturgia, tivemos outras emissoras investindo em produção, fato positivo, não pelo volume, mas pela qualidade; e a Globo abrindo espaço para a produção independente.

Gilberto Braga - Muito bom, especialmente pelo fato de a Record dar força à dramaturgia.

Juca de Oliveira - Foi um bom ano. Houve importante estímulo a uma programação mais ousada com "Hoje É Dia de Maria". A Record se firmou como produtora de novelas de qualidade.

Laurindo Lalo Leal Filho - Foi um bom ano, especialmente para a sociedade. O episódio do João Kleber [que começou com o pedido de reclassificação e terminou com o corte do sinal e a apresentação de programa educativo] foi um fato inédito na história na TV brasileira. 2005 também marcou uma padronização das programações, cada vez mais parecidas.

Lauro César Muniz - Foi muito bom, principalmente para a teledramaturgia, gerando uma concorrência positiva e salutar.

Folha - O que mais lhe agrada na TV?

Priolli - Gosto de futebol, teledramaturgia e telejornalismo. Acho que a parte de shows anda fraca. Programas de auditório, de variedades e programas para jovens também estão limitados.

Braga - Não sou um típico espectador de TV aberta. Mesmo assim, tenho visto "Belíssima" com grande interesse.

Oliveira - Na TV aberta, os jornais da Record, Rede TV! e SBT, mais completos que os da Globo.

Leal Filho - Programas que rompem com a rotina como as minisséries da Globo, que mostram a potencialidade criativa da televisão brasileira. Temos uma TV acomodada, com programas que demoram a se renovar.

Muniz - Gosto de jornalismo. Na TV aberta, acompanho futebol e novelas.

Folha - Qual programa deveria ser banido da TV em 2006?

Priolli - Por imposição de influência externa, nenhum. A atitude democrática em relação à TV é fazer críticas quanto a conteúdos inadequados, levando os produtores à reforma ou as emissoras à punição. O que houve com João Kléber foi uma reação da sociedade, e o Estado agiu em defesa do interesse público. São programas que não deixarão saudades.

Braga - Não tenho motivo para responder. Acho agressivo. Eu sou da geração paz e amor.

Oliveira - Os programas que exploram o aviltamento do ser humano: as pegadinhas, o estímulo a que participantes comam coisas nojentas e os de estilo "Big Brother", que exigem dos participantes uma pré-condição degradante. Se todos forem íntegros, de caráter e de princípios morais e éticos, o programa se torna chato.

Leal Filho - Não gosto do termo "banido". Programas de fofoca no meio da tarde não trazem nenhuma contribuição para a sociedade. É uma forma de entretenimento pobre e pouco criativa. A sociedade precisa criar mecanismos, apoiada pelo Estado, para discutir o papel da televisão. Tiraria do ar programas que atentam contra direitos humanos, dignidade das pessoas, visões de mundo e de grupos. Isso não pode ser decidido por uma pessoa ou um órgão do Estado, mas por um grupo que represente a sociedade.

Muniz - Não gosto de programas de auditório onde se exploram coisas fáceis, escândalos marginais. Não incluo nisso os rapazes do "Pânico", que fazem um tipo de humor satírico, crítico e forte, sem barreiras e até sem cuidado. É preciso saber conviver com eles.

Folha - O que falta à TV brasileira? Que programas integrariam uma TV ideal?

Priolli - Será aquela quando tivermos um país dos sonhos, possível apenas quando tivermos outro padrão educacional e cultural.

Braga - Não sei responder. Eu não sou um homem de televisão.

Oliveira - Nossa TV é comercial. Essa TV dos sonhos, com uma programação de elevação cultural, não é uma aspiração realista. Quando se eleva o nível de informação, cai proporcionalmente a audiência. Assim como está, nossa televisão é muito boa.

Leal Filho - Falta muita coisa. Em jornalismo, documentários sobre o cotidiano, além de debates políticos e mesas-redondas. A TV, entendida como serviço público, deveria prestar serviços. Na programação infanto-juvenil, há um vazio grande em dramaturgia.

Muniz - Acho que a série "Mandrake" (HBO) é um caminho interessante, mesmo não sendo a TV aberta um veículo para tamanha liberdade de dramaturgia. A produção independente deve crescer e demonstrar força.

Folha - A nova classificação indicativa, que está em discussão no Ministério da Justiça, pode ajudar a controlar o que as crianças vêem?

Priolli - Eu defendo, estimulo e apóio toda revisão da legislação do audiovisual brasileiro. Qualquer regulação se configura em ordenamento legal por meio de leis ou estatutos. Nossa regulação é atrasada e insuficiente.

Braga - Espero que possa, mas não é assunto que eu acompanhe.

Oliveira - Não sei por que, de vez em quando, o governo tenta ressuscitar procedimentos autoritários. O povo brasileiro tem vivíssimo na lembrança e na carne o que sofreu com a censura da ditadura.

Leal Filho - Embora seja apenas indicativa, a classificação estabelecerá um parâmetro visual com selos para que os pais saibam a quem se destinam. O efeito pode ser limitado, mas vai atingir as emissoras, que operarão com mais cuidado.

Muniz - Censura não controla qualidade em hipótese alguma. Os produtores têm de responder pelo que levam à TV. Acho que seria melhor outra maneira de selecionar o que se vê em casa.

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