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07/01/2006 - 09h45

Com minissérie, editoras pegam carona na moda JK

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SYLVIA COLOMBO
da Folha de S.Paulo

Juscelino Kubitschek está na moda. Na carona da minissérie global e agarrado às efemérides de 50 anos da posse daquele que ficou conhecido como o "presidente bossa nova" e de três décadas de sua trágica morte, o mercado editorial se assanha, colocando ou recolocando nas livrarias biografias e outros títulos que remontam o período de euforia vivido pelo Brasil em seu governo (1956-1961).

Na mesma onda, a Casa do Saber promove, em abril, em São Paulo, um curso sobre os anos em que o país embarcou no sonho da modernização acelerada.

Mas será que são apenas os belos olhos do ator Wagner Moura e a voz de José Wilker que estão chamando a atenção para Juscelino? Há quem defenda, como o sociólogo Francisco de Oliveira, que a população brasileira, "ressabiada com a falta de crescimento do país, veja-o hoje como símbolo de um desenvolvimento possível". Outros, como o historiador Francisco Alambert, crêem que JK se transformou numa "metáfora de poder a que todos os presidentes do Brasil pós-redemocratização quiseram se agarrar, de Collor a Lula, passando por FHC".

Corrupção e inflação

Para Oliveira, o resgate que se faz hoje da imagem de JK é um erro. "O povo o elogia, mas isso é um anacronismo, pois ele foi um estadista burguês que não tinha política social nenhuma", diz.

O coro dos que discordam do clima de oba-oba não é pequeno. O veterano Flávio Tavares, ex-repórter da "Última Hora", chama a atenção para um velho problema do período JK, que continua em cena --a corrupção. "Após Juscelino, não sabíamos se o Brasil se submetera a uma cirurgia plástica ou se sofrera um acidente, mudando de rosto. A corrupção institucionalizada surgiu e não nos abandonou jamais."

Para o economista Eduardo Giannetti, "JK tentou acelerar artificialmente o desenvolvimento, sem fazer um esforço de popupança. Ele optou por emitir moeda para pagar os gastos públicos". O resultado foi um estímula à inflação. "O atalho utilizado pelo presidente foi um mecanismo de fraude sobre a população", diz.

Para Giannetti, o pior de JK foi "ter eleito um capital que não é produtivo. Num país que não tem saneamento básico, um presidente não poderia ter se dado o luxo de construir Brasília".

Oliveira não acha que a construção de Brasília tenha sido um erro econômico. "Foi um erro político, por afastar a capital da realidade brasileira e transformá-la numa ilha da fantasia onde a política se processa de modo rarefeito", diz.

Para o biógrafo Cláudio Bojunga, a idéia de que Juscelino criou a inflação é obra de oposicionistas "histéricos" e de militares. Giannetti discorda. Ele diz que a aceleração da inflação é "um fato empírico". "Havia uma teoria de que a inflação, ao gerar desenvolvimento, resolveria os problemas sociais. A modernização seria calcada na industrialização e na urbanização, o que foi um equívoco, pois se desprezava a educação."

Ressaca

O economista compara o período a uma embriaguês "da qual até hoje vivemos a ressaca". Oliveira rebate. "É um absurdo. A ressaca que temos é a da falta de desenvolvimento. Dizer que JK fundou a inflação é uma visão empobrecida do pensamento único."

Se a questão econômica divide opiniões, do ponto de vista cultural ninguém discorda que o país viveu um período fervilhante. "Foi uma espécie de segunda revolução modernista", diz Alambert, responsável pelo curso na Casa do Saber. "Curiosamente, isso é associado a JK e não ao contexto favorável, pois o mundo vivia uma euforia pelo fim da Segunda Guerra e pelo fato de que o capital fluía de modo inédito."

Não há dúvida de que a produção cultural do Brasil naquela época foi arrojada e exuberante. Em 1956, ano da posse de JK, foi lançado um dos mais festejados clássicos modernos brasileiros --"Grande Sertão: Veredas", de Guimarães Rosa. Na poesia e nas artes plásticas, os poetas e pintores concretos mostraram seus experimentos em duas exposições nacionais, no Rio e em São Paulo.

Em 1958, sob influência do projeto de Lucio Costa e Oscar Niemeyer para Brasília, Décio Pignatari e os irmãos Haroldo e Augusto de Campos lançaram o manifesto "Plano Piloto para Poesia Concreta". Nas telas, Nelson Pereira dos Santos já havia anunciado o cinema novo, com "Rio 40 Graus" (55). Na música, a bossa nova encontrava sua mais perfeita versão no LP "Chega de Saudade" (59), no qual João Gilberto trazia a gravação definitiva da canção de Tom Jobim e Vinicius de Moraes.

Artistas talentosos levavam adiante o projeto moderno brasileiro, enquanto mudanças sociais, econômicas e tecnológicas iam fomentando um novo mercado --ou uma indústria --cultural.

É claro que JK não teve nada a ver diretamente com a criação da bossa nova, com a literatura vanguardista ou com o cinema novo, mas a "sua" era passou a ser lembrada também por tudo isso.

Especial
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