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23/01/2006 - 09h19

"Mercado não é só bilheteria", diz secretário do Audiovisual

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SILVANA ARANTES
da Folha de S.Paulo

Secretário do Audiovisual do ministro Gilberto Gil (Cultura), o cineasta Orlando Senna ouviu não poucas reclamações neste mês. Não eram protestos do ministro, mas do setor privado.

O concurso de patrocínio de filmes do BNDES, cujo resultado foi divulgado na última quinta-feira, com a distribuição de R$ 10 milhões a 18 filmes, polarizou durante semanas opositores e defensores da política da secretaria.

Nesse período, intensificaram-se as críticas de que o MinC erra ao privilegiar a produção autoral em detrimento da industrial.

Senna acha improcedente a avaliação. O secretário diz que a conquista de mercado pelo filme brasileiro é o objetivo das políticas do MinC e afirma que o conceito de obra comercial, hoje, não é o mesmo válido 40 anos atrás.

A seguir, sua entrevista à Folha.

Folha - Como o sr. avalia a seleção dos 18 filmes que terão patrocínio do BNDES neste ano? Divulgado na quinta, o resultado havia sido criticado antecipadamente por cineastas e produtores, por suposto privilégio à produção experimental, de reduzido potencial de bilheteria.

Orlando Senna - O resultado aponta para outra direção, e não para essa [do privilégio aos filmes experimentais]. Hoje, é complexa a questão do filme de mercado, principalmente como está sendo tratado por esse grupo queixoso. Um filme de mercado, na consideração antiga, é o que tem êxito enorme nas bilheterias de cinema. Hoje, um filme de mercado não é isso. Alguns sucessos têm êxito apenas relativo nas salas de exibição e garantem arrecadação enorme por meio das outras mídias de difusão, como DVD, telefonia, vendas para iPod.

O viés das novas tecnologias causou mudanças nos planos de negócios e demonstra que um filme de mercado não pode ser considerado hoje com os parâmetros de 30 ou 40 anos atrás.

O resultado do BNDES aponta um processo muito qualificado de seleção, que trabalhou nessa direção de filmes de qualidade artística com empuxo mercadológico. A resposta [às críticas] é estarmos com 14% do nosso mercado [participação do filme brasileiro nas bilheterias do país em 2005].

Folha - Se o sr. considera os 14% de 2005 um bom resultado, avalia os 21% de 2003 como um ponto fora da curva?

Senna - Foi um pique excelente. Se você começa uma partida de futebol fazendo um gol no primeiro minuto é uma maravilha. Mas, obviamente, foi algo fora dos parâmetros da economia do audiovisual e de qualquer outra.

Uma subida de mercado de 6% para 21% é excepcional. Ninguém espera que se repita de forma corriqueira. O que se espera é a manutenção de um padrão.

Tivemos agora um início de ano com um filme de bilheteria enorme ["Se Eu Fosse Você", de Daniel Filho: 1 milhão de espectadores em duas semanas]. A ocupação do mercado tende a crescer em 2006. Não será um crescimento fenomenal, mas um crescimento real, baseado numa política.

Folha - As maiores polêmicas da gestão Gil no MinC tiveram início ou foram alimentadas por produtores e cineastas e têm como questão de fundo o financiamento ao cinema. A Secretaria do Audiovisual pretende fazer mudanças nas regras de financiamento?

Senna - Temos de manter o que é positivo no financiamento através da renúncia fiscal e tentar aprimorar os poucos aspectos que podem ser aprimorados. Há proposta de modificações na Lei Rouanet, feita a partir de uma longa consulta pública realizada em 2003 e 2004 e que será examinada pelo Congresso. Qualquer mudança na Lei do Audiovisual só será feita este ano, se for necessária, com consulta pública. O que devemos fazer todos, governo e iniciativa privada, é pensar novas formas de financiamento.

Folha - Quando o MinC propõe descentralização dos recursos e regionalização da produção audiovisual, está interessado em desenvolver o aspecto de expressão cultural do cinema ou a sua vertente de arte industrial?

Senna - Ambos. São vasos comunicantes. A política do MinC é abrangente, estimulando ao mesmo tempo a diversidade da criação, a diversidade de modelos negociais e a distribuição, porque se trata do mesmo sistema, da mesma cadeia de produção, com áreas específicas, mas integradas.
O alimento artístico do chamado "filme de mercado" ou "filme comercial" é a livre invenção dos ousados, dos experimentalistas, do curta-metragem. O oxigênio econômico do filme de vanguarda depende do sucesso de bilheteria dos filmes de maior apelo comercial. Um veste o outro.

Folha - Quando estabeleceu os critérios de patrocínio das empresas estatais, o que o MinC almejava para a área de cinema? O sr. julga que o atual modelo dos editais e das comissões de seleção nas estatais atingiu a sua melhor forma ou pode ser aperfeiçoado?

Senna - O que houve foi uma maior integração dos investimentos das estatais a uma política federal. Almejávamos maior racionalidade mercadológica, aumento pluralizado da produção e transparência. Ou seja, o resultado que estamos alcançando. O modelo pode ser aperfeiçoado, com resultados ainda melhores.

Folha - O que o sr. recomenda ao representante do MinC nas comissões de seleção de projetos para patrocínio das estatais?

Senna - O MinC tem representantes no comitê das empresas estatais que define os investimentos em projetos culturais. Esses representantes são apoiadores das empresas no desenvolvimento das políticas públicas que estão sendo executadas, são elos entre o MinC e as empresas. E tem um representante nas comissões de seleções. A recomendação a esses representantes é a mesma feita aos outros integrantes das comissões: trabalhem com critérios de qualidade artística e mercadológica e de valor cultural.

Folha - Ao assumir a Secretaria do Audiovisual (2003), o sr. disse que havia "falhas de Estado" na gestão dessa área, apontou existência de práticas monopolistas no setor da distribuição e de dumping no da exibição, ligadas à atuação de empresas estrangeiras no mercado interno. As falhas foram corrigidas?

Senna - Algumas dessas falhas foram corrigidas, como a nacionalização dos recursos e ações do governo, a democratização do acesso a esses recursos, a abertura de linhas de exportação. Outras, estamos tentando corrigir, como a legislação deficitária e ultrapassada e a instrumentação da Ancine para fiscalizar as mídias de distribuição e cobrar os impostos.

Estamos com as energias apontadas para instituir o Fundo Público do Audiovisual e montar um circuito de salas voltado prioritariamente a filmes brasileiros

Especial
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