03/02/2006 - 09h23

"Memórias de uma Gueixa" é espetáculo descalibrado

SÉRGIO RIZZO
do Guia da Folha

Algumas das melhores e das piores características de Hollywood bafejam "Memórias de uma Gueixa", baseado em romance homônimo de Arthur Golden. A excelência técnica industrial dá o ar de sua graça na direção de arte, na fotografia, nos figurinos. Há também o apelo estelar --Gong Li ("Lanternas Vermelhas") e Ziyi Zhang ("Herói") em papéis antagônico-- e a ambientação exótica, em espaço e tempo muito distantes das coordenadas do espectador.

Seis indicações para o Oscar em categorias técnicas expressam o padrão de qualidade prezado pelo "sistema". É esse mesmo "sistema", no entanto, que lança as cascas de banana pelo chão --com a escolha de atrizes chinesas e de uma malaia (Michelle Yeoh, de "O Tigre e o Dragão") com trânsito no mercado internacional para o papel de japonesas, na opção duvidosa de fazer com que todos os personagens se expressem em inglês macarrônico, ou na primazia da embalagem sobre o restante.

Gong Li e Zhang Ziyi têm seus ótimos momentos nessa crônica amargurada de rivalidades e infelicidades femininas no Japão da primeira metade do século 20, mas a beleza de ambas parece uma das poucas coisas verdadeiras no ambicioso e descalibrado espetáculo dirigido por Rob Marshall ("Chicago") e produzido por Steven Spielberg.

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