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17/02/2006 - 02h17

Bono e Mick Jagger: muito em comum

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BIA ABRAMO
Colaboração para a Folha de S.Paulo

Agora, em 2006, eles têm mais em comum do que parece.

Em primeiro lugar, são os principais ocupantes do posto de "grandes grupos de rock". Às vésperas de sua vinda para o Brasil, a revista "Forbes" elaborou uma lista em que Rolling Stones e U2 aparecem como os dois grupos que mais produzem dinheiro no mundo da música. A lista considerou vendas de CDs e ingressos para shows nos EUA. Os "rebeldes" Stones geraram US$ 168 milhões (cerca de R$ 370 milhões), enquanto o "politizado" U2, US$ 150 milhões (R$ 330 milhões).

Em segundo, Stones e U2 conseguiram vencer o tempo manipulando habilmente as lendas que criaram. Por razões absolutamente distintas, as duas bandas mantêm uma aura de seriedade e de relevância quase inabaláveis. Combinam, coisa rara no mundo pop, sucesso de massa e uma legitimidade, a esta altura muito maior que crítica, histórica. Mesmo com a erosão dos anos e, pior, com o desgaste de sentido que o rock sofreu em algum momento dos anos 80, o pessoal ainda acredita nesses caras.

Porque, embora pareça o contrário, Stones e U2 são mais próximos que distantes. Só 14 anos separam o início de cada uma delas e, digamos, o mundo em 1976 era mais parecido com o de 1962 do que com o de 2006.

Tanto nos anos 60 como no fim dos 70, havia uma sensação de que fazer (e ouvir) canções com alguma fúria juvenil --sexual, política ou existencial-- tinha algum poder de abalar o estado das coisas. E é aí que começam as diferenças.

Os Stones encarnaram tudo o que o rock tinha de mais desafiador em termos comportamentais. Jagger exalava energia sexual bem ao modo dos anos 60, ou seja, ambígua, narcísica e inenquadrável. Keith Richards era a epítome do junkie brilhante.

Os Stones surgem com um pendor maior para a transgressão, pois em vez de explorar o pop já estabelecido com os Beatles, eles voltam às raízes do rhythm n'blues e de sua sensualidade mais explícita. Pelo confronto sexual, os Stones representaram o que os 60 tiveram de menos domesticável.

Sua política era a de afirmação do desejo e do individualismo, o que, nos anos 60, estava imbricado com inquietações políticas. Sua permanência atesta o quão poderosas são essas forças, a contestação via sexual e a negação dos valores burgueses. Só que, agora, estão, para boa parte desse público, circunscritas ao imaginário, como relíquia para os mais velhos ou como nostalgia do que os mais jovens não viveram.

Bono, ao lado de Jagger, parece um padre, não só por abusar de pretinhos básicos e coturno, enquanto Jagger quer mostrar o corpo esguio e a língua gigantesca.

O U2 pulou a parte da rebeldia mais crua --essa ficou com os punks--, ignorou a moral sexual --essa ficou a cargo de Smiths, Madonna e a dance music-- e foi direto ao rock de protesto, versão anos 80. Que era muito mais comportado do que o dos anos 60. À veemência das letras e das motivações havia que colar uma imagem responsável, construtiva, propositora. A revolta exigia, vejam só, respeitabilidade no mundo adulto. Talvez ninguém melhor do que o U2 tenha compreendido isso.

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