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17/02/2006 - 21h42

Filme sobre futebol no Irã fecha Festival de Berlim

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da Efe, em Berlim

O iraniano Jafar Panahi encerrou o Festival de Berlim com chave de ouro com "Offside", filme sobre repressão e futebol no Irã, país milagrosamente classificado para a Copa do Mundo, enquanto a mostra competitiva terminou com destaque para "Requiem", um representante do novo cinema alemão.

Um encerramento adequado para um festival que despertou muitas discussões políticas, com um filme sobre o Irã, os direitos da mulher e futebol, a cinco meses do ínicio da Copa do Mundo.

Ainda não se sabe se "Offside" poderá estrear no país de origem de Panahi, um dos principais diretores iranianos.

O Festival de Berlim mostrou que valoriza feitos como rodar um filme praticamente em um dia, sem saber qual será seu fim e colocar cinco moças em um estádio, em um país onde seu acesso a partidas é proibido, faz parte do prodígio de "Offside".

Todos esses elementos confluem no filme de Panahi, uma história simples de meninas que se disfarçam de meninos para entrar no estádio onde acontece a partida Irã e Barein, decisiva na classificação para a Copa do Mundo.

Em vez de entrarem escondidas, acabam encurraladas entre as cercas de segurança e descobertas por soldados iranianos. Em lugar de assistir ao jogo ao vivo da escadaria e com outros 100 mil torcedores, precisam se conformar com a locução improvisada de um soldado, que vê apenas parte do campo.

Limitações, insultos, medo das conseqüências da travessura de cinco moças que amam tanto o futebol quanto seu país, representam a repressão imposta pelo regime de Teerã a sua população, na qual a censura ao cinema é só uma parte.

"Até cinco dias antes da filmagem, as autoridades não sabiam que eu estava por trás do roteiro, porque o registrei com outro nome. Quando souberam, não puderam mais impedi-lo", disse Panahi, que não sabe ainda se seu filme chegará a estrear no Irã.

"Fazer o filme era como um sonho, assim como era que o Irã estivesse na Copa do Mundo da Alemanha, e espero que meus compatriotas possam ver o filme. Mas não deixarei que cortem nem uma cena", disse.

Seus atores são "rapazes e moças que não sabem nada de cinema", as ações foram filmadas ao vivo, em paralelo ao que acontecia no estádio e sem saber o que seria do filme sem a classificação do Irã, e chegaram a Berlim com o compromisso de continuar trabalhando pela sobrevivência do cinema iraniano.

"Voltarei a meu país e continuarei trabalhando lá", afirmou Panahi, que apesar do conteúdo de seu filme e da denúncia da opressão da mulher, não faz um retrato amargo do Irã, mas trata o tema com ares de comédia, sem tiranos "visíveis".

"Os iranianos são uma grande família. O serviço militar é obrigatório e os soldados não podem quebrar as regras, mas são parte desta família", disse o diretor sobre a cumplicidade que se estabelece entre os oficiais e as moças detidas.

"Offside" é o segundo filme iraniano na competição depois de "Zemestan", de Rafi Pitts, e representa o retorno deste cinema à seleção oficial da Festival de Berlim após trinta anos.

"Requiem", de Hans-Christian Schmid, é o quarto filme alemão na mostra competitiva e mostrou que, guardadas as distâncias, o fanatismo religioso não é exclusivo de países como o Irã.

O inquietante filme do jovem diretor alemão - que em 2003 competiu com "Lichter" - recria um caso real de exorcismo na Floresta Negra alemã dos anos 70.

Sandra Hüller, atriz indicada ao Oscar este ano, interpreta uma estudante epiléptica, filha de uma família extremamente cristã, que em vez de recorrer ao neurologista procura a ajuda de um exorcista.

"Considero a religião algo ameaçador. A fé transforma Michaela (personagem de Hüller) em uma mártir", explicou Schmid.

Com a projeção de "Requiem" foi encerrada a mostra competitiva. Até hoje, as apostas indicavam "The Road to Guantánamo", de Michael Winterbottom, e "A Prairie Home Companion", de Robert Altman, entre os favoritos. No entanto, o júri presidido por Charlotte Rampling só distribuirá os Ursos amanhã.

A projeção de "Offside" pode mudar a situação, assim como o gol de Mohammed Nosrati, aos 47 minutos, que classificou o Irã para a Copa do Mundo.

Especial
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