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24/02/2006
-
09h03
MARY PERSIA
da Folha Online
Seu nome ficou para a posteridade, como teriam previsto os que o cercavam. Truman Capote (1924-1984) foi o homem que marcou o início do "new journalism", escola que imprime características literárias a textos jornalísticos. A que preço essa "eternidade" é conquistada é o que faz pensar "Capote", que estréia nesta sexta nos cinemas brasileiros.
Dirigido por Bennett Miller, com roteiro de Dan Futterman baseado no livro de Gerald Clarke, o longa-metragem faz uma reconstituição do período em que o escritor e jornalista se dedicou a produzir uma reportagem especial para a revista "The New Yorker" que acabou virando o livro "A Sangue Frio", marco do "new journalism". Com jeito de ficção, a obra narra o assassinato de uma família fazendeira, os Clutters, em Holcomb, Kansas (EUA), no ano de 1959.
Capote, autor de "Bonequinha de Luxo" e queridinho em seu círculo nova-iorquino, viaja ao cenário bucólico da região central dos Estados Unidos. Torna-se uma peça fora de lugar, deslocado, praticamente incompatível com aquelas pessoas do interior do país, e isso menos pelo lugar de onde veio do que pela sua indisfarçável homossexualidade, de voz aguda e afetada, trejeitos femininos e figurino além do sóbrio. Uma personalidade tão bem assumida por Philip Seymour Hoffman que o ator passou a ser a grande aposta para o Oscar de melhor ator neste ano, cuja cerimônia acontece em 5 de março.
O filme também concorre nas categorias de melhor filme, direção, roteiro adaptado e atriz coadjuvante, esta última indicação para Catherine Keener, que vive Harper Lee, a fiel companheira de trabalho com quem o escritor vai para Holcomb. Lá, é ela, e não ele, quem trava o primeiro contato com os habitantes da cidadezinha, amenizando o eventual "estranhamento" que uma figura como Capote causaria.
No longa, Miller não esconde que teve a intenção de resgatar a personagem do esquecimento (ela, que pouco depois ganhou o prêmio Pulitzer e fez sucesso com o livro "O Sol é Para Todos") e mostrar que o vulto idealizado Capote não corresponde em seu todo ao profissional e, mais profundamente, à pessoa.
A ética diz respeito à pessoa, antes de concernir ao profissional, e é o que ressalta o filme, que mostra um jornalista que adiciona ficção à própria vida pessoal, já foi acusado de ser egoísta e megalomaníaco (num teatro social do qual ele era sempre o centro das atenções) e, dizem, chegou a usar a compaixão de quem lhe tomava as dores por ser vítima de preconceito para extrair o que queria da tal alma piedosa.
Levantando a lebre (apenas uma delas) da metacrítica, tudo o que Miller mostra nessa produção pode ser (não necessariamente é) verdade, assim como tudo o que Capote escreveu sobre o crime e a mente de Perry Smith (Clifton Collins Jr.), que matou a família com a cumplicidade de Dick Hickock (Mark Pellegrino).
Com Smith, o jornalista tece a relação capital do filme e de sua produção literária, e é com ele que Capote utiliza todas as suas ferramentas de persuasão, entre elas o bom e velho argumento "vão falar de você de qualquer forma, então é melhor você dar a sua versão". São tentativas de quebrar a resistência de um acusado de homicídio, já no corredor da morte, que passa a ver no jornalista o único amigo possível.
Se é possível uma amizade nessas circunstâncias, e se essa amizade pode ser verdadeira, o longa não responde. Apenas joga as perguntas na tela. A única certeza que se terá é a do próprio Capote, que disse a seu biógrafo, Gerald Clarke: "Nunca houve alguém como eu, e nem haverá ninguém depois que eu partir".
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Indicado ao Oscar, "Capote" opõe ética e persuasão
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da Folha Online
Seu nome ficou para a posteridade, como teriam previsto os que o cercavam. Truman Capote (1924-1984) foi o homem que marcou o início do "new journalism", escola que imprime características literárias a textos jornalísticos. A que preço essa "eternidade" é conquistada é o que faz pensar "Capote", que estréia nesta sexta nos cinemas brasileiros.
Divulgação |
Truman Capote foi precursor do "new journalism" |
Capote, autor de "Bonequinha de Luxo" e queridinho em seu círculo nova-iorquino, viaja ao cenário bucólico da região central dos Estados Unidos. Torna-se uma peça fora de lugar, deslocado, praticamente incompatível com aquelas pessoas do interior do país, e isso menos pelo lugar de onde veio do que pela sua indisfarçável homossexualidade, de voz aguda e afetada, trejeitos femininos e figurino além do sóbrio. Uma personalidade tão bem assumida por Philip Seymour Hoffman que o ator passou a ser a grande aposta para o Oscar de melhor ator neste ano, cuja cerimônia acontece em 5 de março.
O filme também concorre nas categorias de melhor filme, direção, roteiro adaptado e atriz coadjuvante, esta última indicação para Catherine Keener, que vive Harper Lee, a fiel companheira de trabalho com quem o escritor vai para Holcomb. Lá, é ela, e não ele, quem trava o primeiro contato com os habitantes da cidadezinha, amenizando o eventual "estranhamento" que uma figura como Capote causaria.
No longa, Miller não esconde que teve a intenção de resgatar a personagem do esquecimento (ela, que pouco depois ganhou o prêmio Pulitzer e fez sucesso com o livro "O Sol é Para Todos") e mostrar que o vulto idealizado Capote não corresponde em seu todo ao profissional e, mais profundamente, à pessoa.
Divulgação |
Philip Seymour Hoffman interpreta Capote |
Levantando a lebre (apenas uma delas) da metacrítica, tudo o que Miller mostra nessa produção pode ser (não necessariamente é) verdade, assim como tudo o que Capote escreveu sobre o crime e a mente de Perry Smith (Clifton Collins Jr.), que matou a família com a cumplicidade de Dick Hickock (Mark Pellegrino).
Com Smith, o jornalista tece a relação capital do filme e de sua produção literária, e é com ele que Capote utiliza todas as suas ferramentas de persuasão, entre elas o bom e velho argumento "vão falar de você de qualquer forma, então é melhor você dar a sua versão". São tentativas de quebrar a resistência de um acusado de homicídio, já no corredor da morte, que passa a ver no jornalista o único amigo possível.
Se é possível uma amizade nessas circunstâncias, e se essa amizade pode ser verdadeira, o longa não responde. Apenas joga as perguntas na tela. A única certeza que se terá é a do próprio Capote, que disse a seu biógrafo, Gerald Clarke: "Nunca houve alguém como eu, e nem haverá ninguém depois que eu partir".
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