Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
26/02/2006 - 13h34

Série da HBO mostra drama de um velho bicheiro

Publicidade

LAURA MATTOS
da Folha de S. Paulo

"É proibido filmar bundas!" A frase, bem esquisita de ler nesses dias de samba, é do cineasta Cao Hamburger. Dita em tom de brincadeira, simboliza o norte que ele escolheu para dirigir a série "Filhos do Carnaval", que estréia no próximo domingo, às 21h, na HBO (o primeiro dos seis episódios é aberto a todos os assinantes das principais operadoras de TV).

Essa é a segunda produção brasileira do canal norte-americano (a primeira foi "Mandrake"), com transmissão no Brasil e na América Latina. O tema foi definido pelos executivos da HBO, com a clara intenção de atrair o interesse internacional, já que há planos de exibição também nos EUA.

Hamburger, que é mentor do "Castelo Rá-Tim-Bum" e nunca havia feito uma obra "adulta", foi convidado a dirigir "Filhos do Carnaval" pela O2 Filmes (produtora do cineasta Fernando Meirelles, de "Cidade de Deus", associada à HBO nesse trabalho). Nas mãos, tinha apenas o tema determinado pelos "gringos" e gelou. Como fazer disso algo não estereotipado, diferente de clipes turísticos com mulatas e praias?

Ele e a roteirista Elena Soarez ("Casa de Areia") arrumaram uma solução: criar uma família de bicheiros, dona de uma escola de samba. Aí a quadra, os ensaios, as mulatas, tudo vira cenário, pano de fundo para o drama familiar. Mas sem bunda, que isso continue bem claro -ao menos nos dois primeiros episódios, apresentados à imprensa na semana passada, a ordem foi cumprida.

Filho do homem

E "Carnaval" ficou assim: um velho bicheiro tem quatro filhos, dois oficiais e dois bastardos. O primogênito, que cuidava dos negócios, se mata, e os outros três passam a disputar um lugar na "empresa" e no coração do pai.

O patriarca, Anésio Gerbara, é interpretado por Jece Valadão, 106 filmes nas costas, pelas suas contas. Na entrevista coletiva, uma jornalista pergunta se é o primeiro bicheiro de sua carreira. "Se eu já fiz algum bicheiro? Acho que eu só fiz bicheiro em toda a minha vida", comenta, soberano, cercado pelos atores-filhos.

Aos 75, Valadão é o Don Corleone de "Carnaval". Deprimido com a morte do filho Anesinho (Felipe Camargo), quase falido nos negócios, torna-se mais avô do que mafioso e passa os dias a mirar a praia de Copacabana do janelão de seu apartamento.

Enquanto isso, os Gerbara moços lutam para demarcar o território do crime. Claudinho (Enrique Diaz), o segundo e agora único reconhecido em cartório, tem tudo para ser um rapaz do bem. Casado, pai de um garotinho, morava em Campinas (interior de SP), onde "apenas" lavava o dinheiro da família. Agora insiste em assumir o "front" e quer fazer do caos nos negócios deixado pelo irmão mais velho um crime realmente organizado. Vira chacota ao levar um computador portátil numa reunião da "empresa" na quadra da escola de samba. Fica por conta dele boa parte da cota cômica dessa série trágica.

"Reality show"

Uma das boas surpresas de "Carnaval" é Thogum, que nunca havia sido ator e ganhou o papel central da série. Apesar de Valadão ser o patriarca, o estreante foi escolhido para narrar toda a história. Ele é Nilo, fiel segurança do bicheiro e seu filho bastardo.

Personagem de poucas palavras, costura os episódios com olhares e pensamentos. Negro, alto e forte, tinha o físico ideal para a missão, isso sem falar que sabia exatamente como um guarda-costas deve se portar: "Já fui segurança de bicheiro, puteiro, termas femininas, masculinas, de tudo o que você pode imaginar. E sempre fui um cara de desenrolar uma idéia, de não partir para a violência, do mesmo jeito que faço na série", disse Thogum, na entrevista coletiva em que ele se transformou num show à parte.

Um jornalista quer saber como foi a preparação para atuar em "Carnaval". "Cara, o legal mesmo foi aprender a chorar", responde, à vontade na cadeira de astro.

Hamburger o descobriu quando assistiu ao documentário "Fala Tu", sobre jovens da periferia carioca que tentam ganhar a vida como rappers.
O quarto filho é Brown (Rodrigo dos Santos), mestre de bateria, revoltado, louco por um baseado.

"Carnaval" custou R$ 6,5 milhões e utilizou verba do artigo 39 da Agência Nacional do Cinema, de incentivo fiscal a canais estrangeiros que investem em produção nacional. Pena que a HBO seja só para os filhos ricos do Carnaval.

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre Cao Hamburger
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página