Publicidade
Publicidade
05/03/2006
-
14h26
AMIR LABAKI
Articulista da Folha de S.Paulo
"O Segredo de Brokeback Mountain" é favoritíssimo a levar hoje o Oscar principal. Conquistou o maior número de indicações (oito), acumulou uma dupla vitória nas associações de produtores e de diretores, venceu o Globo de Ouro, conquistou o Leão de Ouro em Veneza-2005.
Mas, se confirmado, será um Oscar conservador, ao menos do ponto de vista cinematográfico. "Brokeback Mountain" deverá triunfar não por suas qualidades, e elas existem, mas devido à sua maior fragilidade. Ang Lee limitou-se ao melodrama convencional. Um casal contra o mundo, amplas paisagens, música enobrecedora, largo arco temporal, narrativa lenta -em resumo, um épico do amor impossível.
A Academia adora a fórmula e suas variações. Exemplos recentes? "Laços de Ternura" (1983), "Entre Dois Amores" (1985), "Titanic" (1997). OK, mas se trata de um par romântico homossexual, em pleno território mítico da identidade americana --o universo dos caubóis. Boa sacada: ponto para Ang Lee e para o conto original de E. Annie Proulx. Mas o filme explora de forma tímida o arrojado ponto de partida.
Estabelecido o silencioso pacto amoroso entre Ennis (Heath Ledger) e Jack (Jake Gyllenhaal), nada se desenvolve com a complexidade dramática potencial. Ambos poderiam ser enigmáticos não fossem sobretudo rasos, apesar de seus intérpretes defenderem-nos com brio. As famílias que formam são esboços, transformado em mero clichê no caso da de Jack.
A breve e tocante seqüência final é a exceção, indicando a força emocional desperdiçada no conjunto do filme. A grandiosidade pisca para "Brokeback Mountain" naquele curto encontro.
A consagração do filme, mais que romper, parece inverter o preconceito. Um drama "gay" finalmente alcançou o "mainstream" cinematográfico. Só nos caberia aplaudi-lo. Ou não. Seria ceder à condescendência e ao oportunismo. Até para com Ang Lee. Ele já abordara, com maior equilíbrio, terreno similar em "Banquete de Casamento" (1993).
Mais: no mesmo universo dos indicados ao Oscar deste ano, há outro filme a lidar com a homossexualidade com muito maior maturidade e sutileza. "Capote" apresenta meios-tons e subentendidos nas duas relações centrais do escritor, com seu parceiro Jack Dunphy (Bruce Greenwood) e com um dos assassinos, Perry Smith (Clifton Collins Jr.), que "Brokeback" jamais chega a arranhar. A batalha pelos direitos dos homossexuais é uma nobre luta pelo respeito à liberdade e à diferença. "Capote" a serve muito melhor do que "Brokeback".
Premiar o desempenho quase mediúnico de Philip Seymour Hoffman como o autor de "A Sangue Frio" é fácil. Preferir os desajustados de Miller aos de Lee seria muito mais incômodo.
Leia mais
"Brokeback Mountain" conta história de amor quase impossível
Confira a lista completa de indicados
Especial
Veja a cobertura completa do 78º Oscar
Apostas: Quem serão os vencedores nas principais categorias?
"Brokeback Mountain" é favorito convencional do Oscar
Publicidade
Articulista da Folha de S.Paulo
"O Segredo de Brokeback Mountain" é favoritíssimo a levar hoje o Oscar principal. Conquistou o maior número de indicações (oito), acumulou uma dupla vitória nas associações de produtores e de diretores, venceu o Globo de Ouro, conquistou o Leão de Ouro em Veneza-2005.
Mas, se confirmado, será um Oscar conservador, ao menos do ponto de vista cinematográfico. "Brokeback Mountain" deverá triunfar não por suas qualidades, e elas existem, mas devido à sua maior fragilidade. Ang Lee limitou-se ao melodrama convencional. Um casal contra o mundo, amplas paisagens, música enobrecedora, largo arco temporal, narrativa lenta -em resumo, um épico do amor impossível.
A Academia adora a fórmula e suas variações. Exemplos recentes? "Laços de Ternura" (1983), "Entre Dois Amores" (1985), "Titanic" (1997). OK, mas se trata de um par romântico homossexual, em pleno território mítico da identidade americana --o universo dos caubóis. Boa sacada: ponto para Ang Lee e para o conto original de E. Annie Proulx. Mas o filme explora de forma tímida o arrojado ponto de partida.
Estabelecido o silencioso pacto amoroso entre Ennis (Heath Ledger) e Jack (Jake Gyllenhaal), nada se desenvolve com a complexidade dramática potencial. Ambos poderiam ser enigmáticos não fossem sobretudo rasos, apesar de seus intérpretes defenderem-nos com brio. As famílias que formam são esboços, transformado em mero clichê no caso da de Jack.
A breve e tocante seqüência final é a exceção, indicando a força emocional desperdiçada no conjunto do filme. A grandiosidade pisca para "Brokeback Mountain" naquele curto encontro.
A consagração do filme, mais que romper, parece inverter o preconceito. Um drama "gay" finalmente alcançou o "mainstream" cinematográfico. Só nos caberia aplaudi-lo. Ou não. Seria ceder à condescendência e ao oportunismo. Até para com Ang Lee. Ele já abordara, com maior equilíbrio, terreno similar em "Banquete de Casamento" (1993).
Mais: no mesmo universo dos indicados ao Oscar deste ano, há outro filme a lidar com a homossexualidade com muito maior maturidade e sutileza. "Capote" apresenta meios-tons e subentendidos nas duas relações centrais do escritor, com seu parceiro Jack Dunphy (Bruce Greenwood) e com um dos assassinos, Perry Smith (Clifton Collins Jr.), que "Brokeback" jamais chega a arranhar. A batalha pelos direitos dos homossexuais é uma nobre luta pelo respeito à liberdade e à diferença. "Capote" a serve muito melhor do que "Brokeback".
Premiar o desempenho quase mediúnico de Philip Seymour Hoffman como o autor de "A Sangue Frio" é fácil. Preferir os desajustados de Miller aos de Lee seria muito mais incômodo.
Leia mais
Especial
Publicidade
As Últimas que Você não Leu
Publicidade
+ LidasÍndice
- Alice Braga produzirá nova série brasileira original da Netflix
- Sem renovar contrato, Fox retira canais da operadora Sky
- Filósofo e crítico literário Tzvetan Todorov morre, aos 77, em Paris
- Quadrinhos
- 'A Richard's estava perdendo sua cara', diz Ricardo Ferreira, de volta à marca
+ Comentadas
- Além de Gaga, Rock in Rio confirma Ivete, Fergie e 5 Seconds of Summer
- Retrospectiva celebra os cem anos da mostra mais radical de Anita Malfatti
+ EnviadasÍndice