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07/03/2006 - 10h09

Para autor, Globo destaca mais religião do que Record

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LAURA MATTOS
da Folha de S.Paulo

Neste trecho da entrevista, Lauro César Muniz diz que a Globo, onde trabalhou por 33 anos, "está mais preocupada com religião do que a Record", que é da Igreja Universal. Ele cita novelas ligadas ao espiritismo --"Alma Gêmea", "A Viagem" e "América"-- e a minissérie "JK", que considera "engajada no catolicismo".

Afirma que achava mais problemático receber salário da Globo quando "a emissora era absolutamente ligada à ditadura militar" do que ser agora um contratado do bispo Edir Macedo. Leia abaixo.

Folha - O sr. enfrenta censura?

Lauro César Muniz - Na Record, não sofri nenhum tipo de censura até agora, apesar de muito se falar sobre o controle da Igreja Universal. A igreja nunca sugeriu qualquer possibilidade de subliminarmente se fazer presente em alguma novela. Preste bem a atenção: quem está preocupado com religião? Não é a Record, é a Globo.

No "Vale a Pena Ver de Novo", estão reprisando "A Viagem", que é uma espírita. "Alma Gêmea" tem uma pincelada espírita, assim como tinha "América". "JK" é uma engajada no catolicismo. O que você viu na Record com alguma citação, ainda que subliminarmente, da Igreja Universal? Nada. Pode ser acaso, pode não ser. Eu queria colocar um padre surdo em "Cidadão Brasileiro", o que, ampliando, você imagina o que seja: ele não ouve confissões, não dá respostas... Desisti, ninguém me disse "não". Mas na cidade cenográfica tem uma igreja católica, e é o maior prédio do local.

Folha - Como é para um ex-membro do Partido Comunista receber salário do bispo Edir Macedo? Isso já foi um problema na sua cabeça?

Muniz - Já foi quando eu estava na Globo e recebia dinheiro de uma emissora absolutamente ligada à ditadura militar. Se for pensar assim, ninguém trabalha.

Folha - O sr. tem alguma religião?

Muniz - Não. Sou materialista, não acredito em Deus.

Folha - Ainda acredita na velha frase "A religião é o ópio do povo"?

Muniz - Já acreditei muito nisso. Hoje eu acho que não mais.

Folha - Então passou a achar que a religião tem o seu papel?

Muniz - Ela é importante nas guerras. A religião faz mais guerra do que qualquer instituição. Veja o que está acontecendo agora, pelo amor de Deus! Olha eu falando "pelo amor de Deus!" Viu, não sou tão materialista assim (risos).

Folha - Casal gay virou moda em novelas da Globo. Poderia abordar esse tema na TV da Universal?

Muniz - Não criei um casal gay na Record, mas se criar, vai ao ar.

Folha - Dessa maneira positiva que a Globo tem mostrado?

Muniz - [pausa] Não sei. Mas acho que na Globo também isso pode ser levado até certo ponto.

Folha - O sr. saiu da Globo dizendo que "maquinações" o afastaram do trabalho". O que aconteceu?

Muniz - Houve uma incompatibilidade intelectual com o Mário Lúcio Vaz [diretor-geral artístico desde 2000]. O que penso é o oposto do que ele pensa. Isso tudo que eu estou falando aqui ele acha que é desprezível. Penso diferente do grupo que hoje define os caminhos da telenovela na Globo. Eles estão querendo mexicanizar a novela brasileira, talvez para vender mais para o exterior.

Numa reunião da Globo, em que estava com vários colegas, ouvi um diretor -e não me peça para falar qual- dizer com toda clareza: "Estamos caminhando para a mexicanização de nossas novelas intencionalmente". A estrutura mexicana é pobre. É vendida para o mundo todo, mas para ser veiculada de manhã, a um público restrito.

Folha - Acha que "Cidadão" tem chance de vencer a Globo no Ibope?

Muniz - Acho que vai perder feio. Se conseguir 12, 13, 15 pontos, estou muito feliz. Vou competir com o "Jornal Nacional", que é uma instituição, e a novela das oito, que está com boa audiência e estará na fase final. "Belíssima" tem um elenco estelar. O meu é bom, não estelar. Não tem a menor chance. Seria um absurdo, contra a lei da gravidade. Mas é bom lembrar que não é Olimpíada, quero criar um caminho.

Folha - O sr. foi a um almoço com FHC (2000) criticar a portaria 796, considerada censura por obrigar a TV a exibir programas em horários determinados pelo governo. Hoje, a que causa emprestaria sua grife?

Muniz - Já estou emprestando ao contribuir para tentar acabar com o monopólio da Globo, que é terrível, nocivo. Quando a Record começou a crescer, os autores da Globo passaram a ter um reconhecimento maior lá dentro, a ser mais valorizados, seus salários foram rediscutidos. Com atores, houve a mesma coisa. Lutar contra esse monopólio transcende qualquer problema pessoal que possa ter tido na Globo. E meu problema foi com o Mário Lúcio e não com a emissora.

Se conseguirmos levantar a Record, todo mundo vai ganhar, sobretudo o público. Como em qualquer área, o monopólio é perigoso, porque a Globo faz o que quer, e o espectador não pode ver outra coisa. A Globo pode eleger o próximo presidente da república se quiser. Ela já elegeu e pode eleger de novo.

Folha - O sr. acha que a Globo elegeu Fernando Collor?

Muniz - Elegeu e destituiu. É extremamente perigoso para o país ter um poder tão imbatível.

Folha - O que pensa de a Record lutar contra a Globo com a programação clonada justamente dela?

Muniz - É uma estratégia que está dando certo, mas tenho certeza de que a Record vai encontrar a sua cara com um tempo.

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre a novela "Cidadão Brasileiro"
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