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17/03/2006 - 06h00

Três shows mostram em SP a pororoca musical do Pará

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ADRIANA FERREIRA SILVA
da Folha de S.Paulo

Prepare-se: vem do Pará, Estado que fez o Brasil inteiro rebolar ao som da lambada nos anos 80, e que hoje reúne multidões ao som do tecnobrega da banda Calypso, outro estilo com potencial para causar barulho: a guitarrada.

Ouça "São Domingos do Surf", do La Pupuña (Problemas de conexão ou software podem prejudicar a audição do som)

A invasão paraense já deu brechas de seu potencial em festivais em Pernambuco e no Rio e agora chega a São Paulo com o evento Terruá Pará, shows que reúnem expoentes dessas e de outras vertentes musicais de hoje a domingo, no auditório Ibirapuera.

Ainda não dá para comparar o público fã de tecnobrega, cujas festas mobilizam até 60 mil pessoas por fim de semana em Belém, com o da guitarrada, que lota bares mais modestos. Mas, em 2005, o estilo reuniu cerca de 20 mil pessoas no festival de verão, em Algodoal, ilha que fica a três horas da capital.

Além disso, caiu no gosto de pessoas como o antropólogo Hermano Vianna, que costuma defender a cena de Belém, e os produtores Carlos Eduardo Miranda --um dos curadores do Terruá-- e Pena Schmidt, que, em entrevista à Folha, ressaltaram a criatividade dos músicos paraenses.

"Acho muito promissor. O interessante é que essa movimentação começa em uma região meio esquecida", fala o produtor Gutie, 45, que há cinco anos inclui expoentes do Pará no festival pernambucano RecBeat. "Por ser uma região remota, com influências indígenas, acho que podem surgir coisas curiosas de lá."

Segundo o pesquisador e músico Pio Lobato, 34, um dos articuladores deste cenário, "a guitarrada é a lambada instrumental". "Ela agrega vários ritmos, como rock, jazz. É uma música que, apesar de ser instrumental, é bastante popular", explica Lobato. É por isso que, ao contrário do tecnobrega e da lambada, a guitarrada atrai um público diverso: universitários, fãs de rock independente, de MPB etc.

Surfe da pororoca

Lobato, integrante de um grupo que mescla guitarrada e rock, o Cravo Carbono, estará na banda que acompanha os convidados do minifestival Terruá Pará.

Entre eles, há representantes de algumas dessas misturas, como a banda La Pupuña, que faz um mix com surf music batizado de "surfe da pororoca". "O andamento da surf music e da guitarrada se encaixam muito bem", afirma o percussionista e guitarrista Luiz Félix, 23. "Não é uma guitarrada tradicional, mas não foge muito de seu sotaque."

O estilo puro e simples será mostrado pelo trio Mestres da Guitarrada, formado pelos músicos Curica, Aldo Sena e Vieira. A este último, é creditada a invenção da guitarrada em 1977. Outro destaque do evento é o baixista MG Calibre, que tem influências de jazz e rap.

A movimentação de bandas que acontece hoje na capital do Pará lembra o burburinho que ocorreu no início dos anos 90 no Recife, que resultou no mangue beat.

"Belém estava numa situação muito parecida, de não ter nada", conta Pio Lobato. Apesar disso, o músico acredita que as semelhanças param por aí. "Não há a articulação de produtores que tinha em Recife", diz Lobato. "Belém é cheio de conceito, mas é preciso também saber vender."

Apoio oficial

Por enquanto, quem está "vendendo" os músicos aos outros Estados é a Fundação de Telecomunicações do Pará (Funtelpa). Segundo o presidente do órgão, Ney Messias Jr., nos últimos três anos, R$ 5 milhões foram investidos em eventos como o Terruá Pará.

"Ao contrário do mangue [beat], lá eles têm apoio oficial para que essa cena potencial aconteça", lembra Gutie.

Ainda que a moda sejam as guitarras, há no Terruá Pará gente que nada tem a ver com elas, como o compositor Mestre Laurentino, 80. Ele pegou carona no bonde da guitarrada para mostrar aqui sua "Lourinha Americana", música famosa do repertório do grupo Mundo Livre S/A.

Tradições do Norte, como o carimbó e o boi-bumbá, além da MPB (música popular paraense), serão representadas por atrações como Boi Veludinho, Arraial da Pavulagem e Nilson Chaves.

Por fim, não faria sentido um festival dedicado ao Estado sem o tecnobrega. Quem irá mostrar a música eletrônica do Pará é o DJ Iran, o cara que inventou o cibertecno, versão do brega feita somente no computador. Diversidade, realmente, não vai faltar.

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