Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
27/03/2006 - 10h07

Líder do LCD Soundsystem fala sobre show em SP

Publicidade

THIAGO NEY
da Folha de S.Paulo

O tal "maior festival de música eletrônica da América Latina" vai ser invadido por um penetra. Ainda bem. O Prodigy é o nome popular do Skol Beats, que acontece em 13 de maio no complexo do Anhembi, em São Paulo, mas a banda a não ser perdida é a roqueira LCD Soundsystem.

Criada e liderada pelo vocalista/produtor James Murphy, o LCD Soundsystem foi a banda que praticamente empurrou para as massas essa história de "disco punk", do rock falando a mesma língua que a dance music.

Mais do que isso, James Murphy é fundador do selo DFA (Death from Above), que colocou bandas como The Rapture, !!! (lê-se chik, chik, chik) e The Juan McLean nas pistas de dança do mundo inteiro.

O LCD Soundsystem já tocou no Brasil, em 2004, no festival sonarsound. Na ocasião, o grupo se apresentou no mesmo horário do lendário DJ americano Jeff Mills, e não tinham lançado ainda o álbum de estréia. No mês que vem, a situação será bem diferente. Várias das canções do grupo, como "Tribulations", "Too Much Love" e "Disco Infiltrator", já são bem conhecidas do público, tanto nas versões originais como nos remixes feitos para as pistas. É, na essência, rock para dançar (veja na página E4 as atrações do festival, com os horários e preço).

A banda ganhou boa atenção em 2002, com o single "Losing my Edge", manifesto em que Murphy ataca esnobes musicais.

Além do Brasil, o LCD Soundsystem se apresenta também na Argentina. Serão os únicos shows da banda neste ano. Porque James Murphy já está preparando o próximo álbum do grupo, que deve sair em 2007.

Murphy é o cabeça da banda. É ele quem escreve todas as letras e cria as canções. Nas turnês, o grupo é formado pelo baixista Tyler Pope (das bandas !!! e Out Hud), pelo guitarrista Phil Mossman, pela tecladista Nancy Whang e pelo baterista Pat Mahoney.

Neste mês, Murphy colocou em sites de download o disco "Introns", álbum com lados B, versões raras e remixes da canções da banda. O disco está disponível para compra apenas pela internet.

Na semana passada, James Murphy falou à Folha, por telefone. Aos 36 anos, mesmo sendo um dos artistas mais requisitados do mundo pop, ele diz que já se sente velho e ultrapassado. Veja o que ele tem a dizer sobre sua banda e sobre a inclusão do rock nas pistas de dança.

Folha - O LCD Soundsystem tocou em um festival no Brasil há dois anos. Gostou do show?

James Murphy - Tive uma dor de cabeça terrível no dia, mas o show foi bom.

Folha - No ano passado, vocês tocaram no Reading, na Inglaterra, que é basicamente um festival roqueiro. Já o Skol Beats é mais eletrônico. Você vê diferença entre tocar nos dois tipos de eventos?

Murphy - Gosto de tocar em festivais bons, não importa se sejam roqueiros ou eletrônicos. Tive experiências boas tocando em festivais eletrônicos, com público realmente animado, com o espírito aberto. Mas também já estive em alguns festivais horríveis, comerciais demais. Sentia como se estivesse perdendo meu tempo ali.

Folha - Você cresceu ouvindo bandas punk. O que o atraía nesse tipo de música?

Murphy - Quando era adolescente, ouvia rock clássico, discos do meu irmão mais velho. O punk foi a primeira coisa que senti que fosse realmente minha. Gostava de Led Zeppelin, mas aquilo era a música do meu irmão. A primeira vez que ouvi Black Flag, Violent Femmes, The Replacements, parecia que aquilo tinha sido feito especialmente para mim, por pessoas como eu. Isso me fez mergulhar no punk. Depois vieram Bowie e hip hop.

Folha - O punk e o rock podem ser ouvidos hoje em clubes dance. "House of Jealous Lovers" [música do Rapture produzida pelo selo DFA] ajudou a impulsionar isso. Mas você não acha que essa coisa de "dance rock" pode ter se tornado uma fórmula fácil?

Murphy - Sim, claro. Nós fizemos aquele single porque, primeiro, achávamos que era uma canção boa feita por uma banda boa. Depois, porque era um tipo de música realmente nova, que preenchia um espaço vazio. Na época, parecia que a dance music estava envelhecida, chata, então queríamos fazer algo diferente. E detesto ir a festas em que os DJs tocam "dance rock". Não é minha idéia de boa festa.

Folha - Qual é a sua idéia de boa festa?

Murphy - Festa com música boa. Pode ser um DJ de tecno, de house, de disco music ou alguém que toque várias coisas. Alguém que realmente goste do que esteja tocando, e não um DJ que faça isso porque vai parecer cool ou coisa parecida. Alguém que te faça ouvir música de maneira diferente. Na DFA, nunca tivemos a pretensão de criar um novo gênero, que já nasce chato e ultrapassado. Nos interessamos tanto por Carl Craig quanto por The Clash, ou Larry Levin, Malcolm McLaren. Música que flua, que não seja estática.

Folha - Em "Losing My Edge", você brinca com músicos e fãs esnobes, que dão muito valor ao que é underground, que se subdividem em várias tribos. Isso parece acontecer bastante hoje, tanto no rock quanto na eletrônica...

Murphy - Isso sempre aconteceu. A cena underground sempre foi cheia de esnobes. Se você tiver que definir o que é o underground, diga que é algo cheio de esnobes. Não que seja bom ou ruim, mas é o que acontece. Eu também sou assim, de certa forma. Mas não quero julgar ninguém. Gosto de pessoas que correm riscos. É isso que às vezes me irrita nos indies. Eles parecem ter medo de correr riscos.

Folha - Depois que você iniciou a DFA, há alguns anos, muito se falava sobre disco punk, sobre a cena musical de Nova York. Como está essa cena hoje?

Murphy - Bem ruim. Acho que as pessoas são muito preguiçosas. Acho que Nova York está em uma fase ruim, mas isso pode até ser saudável, pois ajuda a impulsionar algo novo. Em 1998, quando a DFA começou, era assim também. Era uma época com tantos DJs e promotores chatos que fazer algo novo não era muito difícil. Eu, com 36 anos, na verdade já deveria estar ultrapassado...

Folha - Você se sente velho com 36 anos?

Murphy - De certa forma, sim. Acho que esse espaço deveria ser ocupado por gente mais nova e interessante, mas não sei onde elas estão. Fico imaginando onde estão os mais novos, que vão nos dar um chute no traseiro. Porque eu estou pronto para ser derrotado, para ser derrubado. Se é para dar lugar a algo melhor, tudo bem, eu aceito a derrota.

Folha - Há DJs e produtores, como François Kevorkian, que têm mais de 50 anos e continuam tocando...

Murphy - Sim, mas ele é uma instituição. Eu ainda não sou uma instituição. Acho que deveria aparecer alguém de 23 anos para nos tirar daqui.

Leia mais
  • Bandas: Conheça o LCD Soundsystem

    Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre o LCD Soundsystem
  • Conheça o Dicionário de Bandas
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página