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03/04/2006 - 14h12

Crítica: Vanessa da Mata chega lá e conquista SP

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SÉRGIO RIPARDO
Editor de Ilustrada da Folha Online

Vanessa da Mata, 31, chegou lá. Ela arrancou aplausos de uma platéia elitizada, em três shows (um extra) no Citibank Hall, em São Paulo, realizados no último final de semana. Com carisma e concessões ao gosto do público, ela se cacifa ao perfil de "cantora de multidões", mudando o patamar de sua carreira, antes restrita a redutos descolados e a lotações modestas do tipo "Sesc".

A intérprete matogrossense cativa com uma estética que remete a divas da MPB. O cabelo "rebelde" e a voz --ora aveludada, ora portentosa-- lembram a Gal tropicalista. Os vestidos longos e a ode à delicadeza brejeira trazem o espírito de Maria Bethânia. No palco, ela está descalça, se movimenta em rodopios, misto de deusa do candomblé ou hindu, algo Clara Nunes, tudo muito "raiz", multicultural. Hippie de butique?

Essas referências --só visíveis para trintões e quarentões-- parecem propositais. O repertório do show reforçou esse clima de nostalgia. Por exemplo, ela cantou "Eu Sou Neguinha?", de Caetano, e "História de uma Gata", versão de Chico para a música de Enriquez e Bardotti, do espetáculo "Os Saltimbancos". É nesse momento que ela apresenta seus músicos ("meus gatos"), senta no chão e destila meiguice e candura.

Há também seus próprios sucessos. "Não Me Deixe Só" empolgou e fez o público cantar ("Não me deixe só/Eu tenho medo do escuro/Eu tenho medo do inseguro/Dos fantasmas da minha voz"). "Onde Ir", também composta por Vanessa, emocionou com sua poesia ("Cada um pode com a força que tem/Na leveza e na doçura de ser feliz").

Como Marisa Monte, Vanessa se reveste da aura de porta-voz da tradição da música brasileira e suas eternas homenagens à periferia, ao universo sertanejo, aos som dos desvalidos. Tudo dentro de uma "embalagem" sofisticada. Isso fica patente na interpretação de "A Força Que Nunca Seca", parceria com Chico César ("Já se pode ver ao longe/A senhora com a lata na cabeça/Equilibrando a lata vesga/Mais do que o corpo dita").

No final do show da última sexta, Vanessa recorre ao hit "Ai, Ai, Ai" ("O que a gente precisa/É tomar um banho de chuva, um banho de chuva"), do segundo CD "Essa Boneca Tem Manual" (2004). A canção atingiu neste mês o topo da parada das rádios de São Paulo, na esteira do sucesso da trilha da novela "Belíssima". O público levanta da cadeira e dança. Os olhos emocionados de Vanessa percorrem toda a extensão do Citibank Hall (capacidade de 1.600 pessoas), meio surpresa com o momento glorioso de sua carreira.

Ela se rende e, no bis, volta a cantar "Ai, Ai, Ai". Vanessa sabe o que quer e onde pisa. Não há espaço para rebeldia nem discurso político no "Citibank Hall", onde na saída os espectadores recebem uma carta para virar correntista do maior conglomerado financeiro do mundo. Não é o Teatro Opinião do "Carcará" de Maria Bethânia nos anos de chumbo, na década de 60. São outros tempos, em que uma música lançada em 2004 só atinge o topo da parada em 2006 por causa de uma novela da Globo.

Na "Vejinha SP" desta semana, fica claro que a fashion Vanessa está longe do estilo inacessível de Marisa Monte. Na revista, ela --que tem 1,80 de altura-- fala sem constrangimento sobre futilidades, como chapinha no cabelo ("alisou dos 12 aos 14 anos"), roupas ("As estilistas Isabela Capeto e Nina Becker fazem vestidos muito bonitos, femininos e acinturados") e corpo ("Agora estou mais na bicicleta ergométrica e na musculação. Mas vou voltar a jogar capoeira, porque amo").

Vanessa parece amadurecida com esse sistema de coisas e topa fazer o jogo. Que não caia no estrelismo nem se deslumbre rápido com o efêmero e volúvel frenesi da mídia. Ou será mais uma Maria Rita --inflada quando era novidade, com risco de ser esnobada devido à repetição de fórmulas. Para a indústria, se não der certo, há sempre uma cantora Céu dando sopa, pronta para ser alçada à condição de nova musa da MPB.

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