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06/04/2006 - 10h12

Para empresário, artista é marca a ser explorada

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LUIZ FERNANDO VIANNA
THIAGO NEY
da Folha de S.Paulo

A intenção das gravadoras em abocanhar parte do faturamento vindo de shows divide opiniões entre os empresários. Muitos deles gerenciam a carreira de seus artistas com a mesma lógica que uma companhia utiliza para cuidar de um novo produto.

A banda Detonautas, por exemplo, que acaba de lançar o terceiro álbum, faz divulgação particular de seus trabalhos. "Em 2001, quando contratei o grupo, a Warner estava em crise. Então montamos uma equipe de divulgação em oito Estados do Brasil", afirma Juca Muller, empresário da banda. "O Detonautas, hoje, é uma marca que se associou à Coca-Cola e ao Carrefour. É uma marca de sucesso, que dá ibope."

Para Muller, o mercado brasileiro ainda sofre com a falta desse tipo de visão. "Banda é marca. O empresário brasileiro tem de estudar mais, se profissionalizar. O artista é uma marca, e o empresário é um instrumento para levar essa marca ao seu público-alvo." É com esse pensamento que o Detonautas montaram uma estrutura de merchandising em que vendem de camisetas a pranchas de surfe, passando por mochilas.

Marcelo D2 segue pelo mesmo caminho. "Existe um negócio chamado Marcelo D2. Vendemos camisas, bonés, tênis, o D2 montou uma grife de roupas com seu nome", explica Marcelo Lobatto, que cuida da carreira do rapper.

Mentor dos Mamonas Assassinas e do projeto virtual Dogão, entre outros, o empresário e produtor Rick Bonadio vai contra. "Artista é artista. Não significa que não seja um produto que gera dinheiro, mas, se for encarado primeiro como produto, não vai funcionar." Proprietário do selo Arsenal (do CPM 22), Bonadio é também empresário de shows.

"Hoje não dá para ser apenas gravadora. O caminho é investir em novos artistas e participar dos shows. O problema é que as grandes gravadoras têm dificuldade em se relacionar com mercados diferentes. Não basta apenas incluir uma cláusula nos contratos."

Manoel Poladian, há 48 anos no mercado, empresário de Rita Lee, Simone, Zizi Possi, abre fogo contra a iniciativa dos executivos fonográficos. "Disco é disco, show é show. São negócios especializados. Eles [as gravadoras] não têm experiência nisso. Uma gravadora não conseguirá agenciar Daniel, Lulu Santos e Calypso, por exemplo. São mercados diferentes", diz. "Sou advogado, não deixo meus artistas assinarem contratos que tenham essa cláusula."

Para Lobatto, a idéia das gravadoras pode funcionar em eventos especiais. "Não acredito que elas entrem nos shows de turnê, de estrada. Já existem agências especializadas em todos os Estados do país, não sei em que as gravadoras serão úteis. Além disso, o cenário do show da Pitty custa R$ 160 mil. Elas vão investir nisso? Mas as gravadoras podem entrar nos shows especiais, corporativos, como aqueles de final de ano."

"Antigamente", continua ele, "a arte valia 80% e o mercado, 20% [referentes às partes que cabiam aos artistas e aos empresários nos shows]. Hoje, isso está quase em 50% a 50%. Porque aumentaram muito os custos de produção, de marketing. Se as gravadoras quiserem uma fatia do bolo, isso será retirado da parte do artista, porque não há como diminuir isso do que recebe o empresário."

"Temos concorrência multinacional", reagiu Leninha Brandão (Vanessa da Mata, Lenine...) ao ser questionada pela reportagem da Folha. Para ela, as gravadoras "vão aprender a trabalhar com shows. São os novos tempos. A concorrência é bem-vinda".

"É uma tendência do mercado", diz Lobatto. "Não temo isso, acho até que pode dar certo. A fatia de cada um vai diminuir, mas o bolo pode aumentar."

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