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25/04/2006 - 10h41

Autor de HQ aborda violência em desenho infantil em SP

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DANIELA TÓFOLI
da Folha de S.Paulo

O filho pega a arma imaginária e mira no coração do pai. Grita "pum" e vê aquele homem gigante cair no tapete da sala. Com as mãos no peito, ele acaba de morrer de mentirinha. Se a cena choca os mais politicamente corretos da bancada do sim pelo desarmamento, é vista como natural pela turma que defende que mesmo crianças pequenas conseguem separar fantasia de realidade.

O tema ganha mais lenha hoje e amanhã, com debates no Sesc Pinheiros e no Consolação com Gerard Jones, jornalista, crítico cultural e escritor de quadrinhos como Batman e Homem-Aranha. Ele não será voz solitária. Há famílias e especialistas para os quais desenhos de luta, armas imaginárias e jogos violentos não tornam nenhuma criança mais agressiva.

"A criança precisa vivenciar os mitos dos heróis para entender a realidade. Até oito, nove anos, ela elabora os sentimentos por meio das brincadeiras", diz a psicóloga Andréa Nolf, do Núcleo de Pesquisa de Psicologia em Informática da PUC-SP. "Até essa idade, é natural que os filhos liberem a agressividade vendo desenhos violentos ou brincando de lutas."

Para ela, filme ou videogame só faz mal se for em excesso ou se não estiver adequado à idade. "Se formos analisar, histórias como "Chapeuzinho Vermelho" e "Branca de Neve" também são violentas. Nem por isso são proibidas."

Gerard Jones também pede atenção à faixa etária. "Crianças por volta de cinco, seis anos não têm boas experiências com personagens em perigo real, que mostram rostos com expressões convincentes de fúria, dor e medo", diz. "Mas crianças que precisam de desenhos agressivos aprendem a lidar com sentimentos em um ambiente imaginário. É bem melhor deixá-las liberar a agressividade nas brincadeiras do que forçá-las a represar o que sentem."

Pai de Nicholas, hoje com 13 anos, ele diz nunca ter proibido armas de mentira, pois é importante deixar a criança fingir ser o que sabe que nunca será. "Crianças que querem matar monstros e não têm permissão para isso sentem mais dificuldade de modular a agressão real. Apesar de pequenas, elas entendem que a fantasia é bem diferente da vida real."

Mãe de Róbson, 7, a decoradora Magda Ribeiro, 39, descobriu que a teoria se concretiza na prática. Adepta do "paz e amor a qualquer preço", ela sempre restringiu ao filho desenhos de luta e videogame. Até o cabo de vassoura que fazia as vezes de espada desapareceu de casa. "Era neurótica e não podia ver meu filho brincando de luta que o colocava de castigo."

Há dois anos, o menino começou a ficar agressivo na hora de comer, dormir e fazer as tarefas. "Após muita conversa com o psicólogo, percebi que ele precisava da violência do faz-de-conta para extravasar. Passei a permitir algumas brincadeiras e ele melhorou."

Para Rosa Crescente, diretora do Midiativa, ONG especializada em mídia para crianças e jovens, um jogo ou desenho só influencia a criança se ela viver em um ambiente agressivo. Mas ela defende uma programação mais educativa para os pequenos na TV aberta e mais atenção dos pais. "Hoje as crianças vêem programas feitos para adultos. Um pai tem de direcionar o que a criança assiste."

Coordenadora do Núcleo de Cultura, Estudos e Pesquisas do Brincar da PUC-SP, Maria Ângela Barbato Carneiro afirma que os pais não podem criar os filhos em redomas. "A violência faz parte do cotidiano. O importante é encontrar um meio-termo e oferecer diversas opções."

Debate: "O brinquedo e as Inquietações do Mundo Contemporâneo: o Encurtamento da Infância"
Quando: hoje, às 19h30
Onde: Sesc Pinheiros (r. Paes Leme, 195, 0/xx/11 3095-9400)

"A Violência em Jogo: Verdades e Mitos acerca das Armas de Brinquedo, Jogos Eletrônicos, Histórias em Quadrinhos, RPGs e Seriados de TV"
Quando: amanhã, às 19h30
Onde:Sesc Consolação (r. Dr. Vila Nova, 245, 0/xx/11 3234-3000)

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre Gerard Jones
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