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28/04/2006 - 10h42

"Tempo de Valentes" ironiza a "prisão" do casamento

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SILVANA ARANTES
da Folha de S.Paulo

Na nova e exuberante safra de cineastas argentinos, há os que nasceram prontos, como Lucrecia Martel ("O Pântano", "A Menina Santa"), e os que burilam seu talento a cada filme. É este o caso de Damián Szifrón, 30.

"Tempo de Valentes", segundo longa do diretor, que estréia hoje no Brasil, aprofunda o tema que Szifrón abordou em seu primeiro filme, "El Fondo del Mar" (2003), e que continua a atraí-lo: "A rivalidade entre a aventura e o casamento. A dicotomia entre ser um herói e ser um marido", segundo define o cineasta.

Aventura, aqui, tomada não no sentido do "affaire" extraconjugal, mas designando um modo de vida livre de amarras e rotina.

Solteiros

"Quando penso nos grandes heróis da história do cinema, percebo que todos são solteiros", diz o diretor, que assina também o roteiro de seus filmes.

Heróis às avessas, os protagonistas de "Tempo de Valentes" são dois homens casados e em crise com suas respectivas.

O investigador de polícia Alfredo Díaz (Luis Luque) fica arrasado ao descobrir que é traído pela mulher. Solidários, os colegas da corporação põem em prática um plano para ajudá-lo.

A idéia é manter Díaz ocupado com o trabalho, desviando sua atenção do problema. Mas não totalmente. Mariano Silverstein (Diego Peretti), psicanalista em dívida com a polícia (devido a um atropelamento), é convocado para atender Díaz, in loco.

"Se há saída, não há tragédia", diz o analista ao analisando, em seu primeiro encontro, na delegacia/consultório. A fórmula deverá ser aplicada ao longo de todo o filme e também pelo próprio Silverstein, quando ele descobre, com a ajuda de Díaz, que sua mulher tem um amante.

A revelação joga o psicanalista numa crise pessoal idêntica à de seu paciente. Enquanto discutem seus problemas mais íntimos, os dois tentam desvendar um caso aparentemente banal --o desaparecimento de dois amigos que saíram para pescar.

As investigações os conduzem a uma trama de corrupção na polícia e nos altos escalões do serviço de inteligência do governo, envolvendo tráfico de urânio.

Em suma, o filme escapole da fórmula "de policiais bons enfrentando os vilões", como diz o diretor, para colocar "os policiais também no papel de vilões".

É quando explora o gênero propriamente policial que o longa toca uma realidade particularmente argentina e latino-americana.

Szifrón usou em seu roteiro pitadas de um fato real ocorrido na Província de Córdoba. "Explodiram uma fábrica militar, para esconder o desfalque de armas vendidas ilegalmente."

A história argentina registra também a prisão do presidente Carlos Menem (1989-1989), acusado de facilitar uma venda ilegal de armas para Croácia e Equador, depois de deixar o cargo.

São muitas as pessoas no país vizinho que associam as "ligações perigosas" do governo Menem com o maior atentado terrorista ocorrido no país --a explosão da associação israelita Amia, que matou 85 pessoas em 1994.

Em "Tempo de Valentes", um chefão fictício da Side (Secretaria de Inteligência do Estado, que existe na realidade), diz ao policial Díaz: "Já coloquei e tirei presidentes [da República]. Você não imagina como isso é fácil".

Conta na Suíça

Em entrevista à Folha, Szifrón comenta: "Um presidente que vai embora do país havendo resolvido problemas e criado bons programas sai com glória. Mas, por alguma razão, nossos presidentes [na América Latina] escolhem ir embora com milhões de dólares numa conta na Suíça".
Na vida privada, o cineasta diz estar próximo de encontrar a solução para o dilema central retratado em seu filme. "Estou cada vez mais me convertendo num marido e deixando voar a imaginação no cinema."

A imaginação do diretor atraiu também a atenção da TV argentina, desde seu primeiro filme. Hoje, ele prepara para um canal aberto a série "Los Detectives Montero", estrelada por Rodrigo de la Serna, o amigo de Che em "Diários de Motocicleta", e Rodrigo Noya, conhecido no Brasil como o protagonista de "Valentín".

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