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29/04/2006 - 14h22

"Brasília 18%" estréia no Festival de Tribeca em NY

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da Efe, em Nova York

"Brasília 18%", uma história de amor e corrupção política colocada sob a estética de um filme policial, marca o retorno à ficção do pai do Cinema Novo, Nélson Pereira dos Santos.

O filme, que estréia esta noite no Festival de Cinema de Tribeca, narra a história de um médico forense, Olavo Bilac (Carlos Alberto Riccelli), que deve realizar a autópsia no suposto cadáver da jovem assistente de um senador, desaparecida há meses em Brasília.

Pela suposta morte da jovem, Eugênia Câmara (Karine Carvalho), está detido e acusado seu namorado, o cineasta Augusto dos Anjos (Michel Melamed).

Câmara, que descobre que os políticos para os quais trabalha são corruptos e ameaça denunciá-los, desaparece, e enquanto avança a investigação o forense Bilac é pressionado por estes mesmos políticos para que certifique que o corpo é da jovem.

Embora a história tenha sido concebida há mais de dez anos e os personagens sejam fictícios, o filme, que estreou no Brasil em 21 de abril, causou polêmica devido aos supostos casos de corrupção no Governo brasileiro.

"Alguns políticos que o viram no Brasil simplesmente não dizem nada, mas fui vítima de pressões políticas: há um boicote contra a distribuição do filme. Mas é preciso lutar", disse Nélson Pereira dos Santos, 77.

O cineasta conta que para a estréia do filme no Brasil convidou cerca de 700 pessoas, das quais "a metade gritava que finalmente se denunciava a corrupção e a outra metade saiu da sala congelada, sem dizer nenhuma palavra".

"Acho que é um filme que terá repercussão apenas nos meios intelectuais do Brasil, porque pouca gente vai ao cinema. É difícil assumir uma posição neste filme, porque não sou um moralista", afirmou.

O filme, de fato, não tem resolução, mas um final aberto, porque segundo o cineasta "assim ocorre na vida real: os casos de corrupção ficam impunes".

A idéia de "Brasília 18%" --título que se refere ao "nível de umidade mais baixo da capital brasileira, sob o qual começam a aflorar os cadáveres dos que foram assassinados" -- surgiu em 1993, durante o Governo de Fernando Collor de Mello.

"Pensei em uma história sobre Brasília como centro de poder vinculada a uma relação amorosa ao estilo policial, onde sempre há um detetive", explicou o diretor.

Pereira dos Santos abandonou o roteiro, retomou-o e, pouco antes de começar a filmar, explodiu a crise no interior do PT, o que o levou a fazer modificações na história. "Originalmente, o político mais corrupto era um empresário, mas depois troquei por um publicitário", disse o cineasta, para quem o filme coloca que a corrupção, definitivamente, não tem partido nem ideologia.

"O filme não menciona partidos de esquerda ou de direita e está carregado de ambigüidades. É muito comum que nas histórias políticas se contem fatos, mas os fatos não existem, o que existe são versões dos fatos", afirmou.

Ironicamente, os personagens de "Brasília 18%" levam os nomes de grandes escritores brasileiros, como Olavo Bilac, Machado de Assis, Rui Barbosa e Augusto dos Anjos. "São grandes nomes do passado para pequenas pessoas do presente", diz o diretor.

A ironia também se reflete no personagem de Bilac, um homem de uma profissão muito racional, mas que também vê aparições de sua esposa morta e se imagina na intimidade com Eugênia Câmara.

"Todos os personagens são uma metáfora. O cineasta, por exemplo, representa o artista censurado e condenado pela falta de recursos para criar sua obra", disse o cineasta, cuja estréia, "Rio 40 graus" (1955), foi proibida por modelar a crua realidade social brasileira.

"É o cinismo de nossas sociedades latino-americanas; que a realidade deve ser escondida ou disfarçada", afirma Pereira dos Santos, que acaba de se tornar no primeiro cineasta a entrar para a Academia Brasileira de Letras.

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