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29/04/2006 - 14h56

Bailarina de 102 anos ainda atua na Broadway

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CATHERINE HOURS
da France Presse, em Nova York

"Acham que sou jovem demais para dançar?", pergunta ao público, com picardia e levantando uma perna, Doris Eaton Travis, que aos 102 anos é a única bailarina viva do histórico espetáculo da Broadway "Ziegfeld Follies", ainda demonstrando disposição para se apresentar em um show beneficente pela luta contra a Aids em Nova York.

Seu segredo? "Vejamos... Eu como muito pouco", diz após refletir um pouco em seu camarim, depois de apresentar seu número. "Além disso, eu faço exercícios caminhando de um lado para o outro, eu administro um rancho, você sabe?"

A cada ano, a minúscula velhinha de cabelos brancos viaja de seu rancho, em Oklahoma (sul) para participar desta gala, organizada no mesmo Teatro da Nova Amsterdã, onde ela estreou na peça de Ziegfeld, em 1918, com apenas 14 anos.

Tudo mudou muito sob os neons da Times Square. O teatro, que foi transformado em cinema pornô e ameaçado de demolição, apresenta atualmente a comédia musical "O Rei Leão".

Doris Eaton Travis olha com pesar para a Broadway atual. "Corpos (nus) demais! Sem aquela elegância que contava tanto no reinado de Ziegfeld", diz ela.

Na época, Florenz Ziegfeld se inspirou no Folies Bergères de Paris para montar uma versão com os grandes atores do momento e as mais belas coristas de então, entre as quais algumas que se tornaram celebridades como Paulette Goddard e Louise Brooks. De 1907 a 1931, toda a Nova York queria assistir ao Follies. "Mesmo que as belas jovens usassem pouca roupa, os shows não eram nunca vulgares... E havia humor, mas nunca escabroso, sempre alegre", acrescenta.

Doris foi estrela do espetáculo entre 1918 e 1920. Depois de Nova York, ela se aventurou em Hollywood, atuando em filmes mudos. No show Hollywood Music Box, ela foi "a primeira a interpretar 'Singing in the Rain'", lembra, revelando que na época era apaixonada pelo célebre Gene Kelly.

Mas em 1936, por causa da Depressão, Doris ficou sem trabalho e precisa trocar o "showbiz" pela dança de salão. Dez anos depois, ela administrava 18 escolas. Nos anos 60, começa uma nova vida ao lado de seu marido, no rancho do casal em Oklahoma. Doris se dedica à contabilidade e à dança country.

Sempre inquieta, em 1991, aos 87 anos, ela obteve o diploma de História na Universidade de Oklahoma. Em 1999, aos 95 anos, atua ao lado de Jim Carrey no filme "O Mundo de Andy", de Milos Forman. Quatro anos depois, aos 99, enfim escreve seu livro de memórias, "The Days we danced".

"Às vezes, quando começo a pensar, eu digo a mim mesma, 'Meu Deus! Eu realmente fiz tudo isto?', é maravilhoso", diz ela, com os olhos fixos em seus interlocutores. Atualmente, o resto da dinastia Eaton desapareceu.

Mas toda noite, antes do jantar, Doris dança durante 20 minutos com seu assistente. "Isto me mantém em forma. E às sextas-feiras, o clube da universidade tem uma orquestra, nós vamos lá e dançamos um pouco", conta.

Na segunda-feira passada, algumas horas antes do show de caridade, ela não se sentia bem e quase não se apresentou. Mas o público não foi privado de assistir à Doris resplandescente em seu vestido de cetim dos anos 30, dançando com um jovem bailarino um jazz do Follies 1913.

"Eu me saí bem", constata logo após, aliviada. "Eu sempre encontro inspiração para chegar aqui".

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