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15/05/2006 - 10h37

Poetas da periferia ganham CD e sarau na Pinacoteca

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MARY PERSIA
da Folha Online

Os saraus de quarta-feira organizados pela Cooperifa já ultrapassaram as dimensões do boteco do Zé Batidão, na Chácara Santana (zona sul). Conduzida pelo produtor cultural Sérgio Vaz, uma horda de poetas da periferia vai deixando a sua marca em quem decide se deslocar até as imediações da estrada do M'Boi Mirim.

De professor a estudante, de operário a músico, feirante, taxista, rapper, babá, funileiro --de tudo e de todos, as reuniões têm vez como a voz da periferia, e não apenas para a periferia. Um trabalho que se expande ainda mais com um registro em CD, recém-lançado, e um sarau na Pinacoteca do Estado, no próximo dia 20, dentro da Virada Cultural.

Divulgação
Saraus no bar do Zé Batidão reúnem até 400 pessoas
Saraus no bar do Zé Batidão reúnem até 400 pessoas
O projeto liderado por Vaz, 41, começou há quatro anos, em Taboão da Serra (Grande SP). Eram não mais do que 15 pessoas. Foi para Piraporinha, na zona sul paulistana, e enfim bateu à porta do Zé Batidão. "O único espaço público que temos é o bar. Não temos outras áreas de lazer", diz o produtor, também --e principalmente-- poeta.

Hoje, os saraus chegam a reunir 400 pessoas. "Virou um movimento dos sem-palco", considera Vaz. "Nossa bússola, que antes apontava para o centro, agora aponta para a periferia."

O CD, intitulado "Sarau da Cooperifa", traz autores declamando suas poesias. É a segunda parceria com o instituto Itaú Cultural --a primeira, a antologia poética "O Rastilho da Pólvora", saiu em 2004, com 53 autores. O material pode ser adquirido por meio de Vaz (poetavaz@ig.com.br).

Origens

Para o registro em áudio foram convidados 26 poetas. A seleção não seguiu critérios subjetivos. "Os participantes foram escolhidos pela freqüência [nos saraus], não pela qualidade. A gente não julga ninguém melhor do que ninguém", explica Vaz.

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CD traz registro de 26 poemas
CD traz registro de 26 poemas
Nesse apanhado, surgem autores que trazem à sua produção traços das suas origens e realidades. O paulistano criado no sertão da Bahia Carlos Silva sustenta "Cibernético (Estrangeirismo 2)" como um cordel urbano: "Apertei o control P e depois o control Del/ Mas nada tava impresso naquele fino papel/ Vou mudar todo o sistema, botar cabos no input/ Só pra ver se eu consigo ver melhor o seu orkut/ Meu lap top é possante e de última geração/ Inseri fotos pornô, mas sempre acabo... na mão".

Nascido em Boa Esperança (MG), Mavotsirc une o "mineirês" às corruptelas da capital paulista em "Pobreza": "Nóis não tem o que comer nem no armoço/ Ah! Mas nóis é feliz seu moço/ Se não tiver nada na panela/ Ela me come, eu como ela".

Tão diversos quanto seus autores, os poemas trazem todo tipo de métrica, cadência e tema. Há tanto a melancolia de Binho em "Campo Limpo Taboão" ("Já não caibo dentro de mim/ E, de tão solitário,/ Sou meu próprio vizinho") quanto a combatividade de Marcelo Veronese em "Ratos, Ratos, Ratos" ("Se você já matou um/ Sabe o que significa essa palavra [...] Chuva também chove ratos/ Sua casa, cimento ou mato").

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Sérgio Vaz, poeta e produtor cultural, organiza os saraus
Sérgio Vaz, poeta e produtor cultural, organiza os saraus
Remetendo à idéia de Vinicius de Moraes em "Receita de Mulher", Allan da Rosa traz o seu "Precisão" --que encerra no tema as semelhanças com a obra do poeta morto em 1980. Ele, que já foi feirante, office-boy e vendedor, versa uma mulher "que seja meu partido político, minha televisão, meu futuro caindo em pétalas". "Uma mulher sem dinheiro/ pra ficarmos ricos por uma semana/ juntos, na praia/ [...] Que não use relógio/ e que ferva sua vaidade em tabletes [...] Que me dê paçocas e incensos/ Uma mulher que conceda a graça de ir embora/ sem que o sangue das minhas veias entre na contramão".

A cadência do rap também está presente, claro. O taxista e rapper Jairo Rodrigues Barbosa traz "Um Rolê (Periafricania)", Cocão e Leandro, do grupo Versão Popular, chegam com "A Vida É Cantada", e Raphael Pereira da Silva, vulgo PH Bone, mostra "Uniosversos": "Sou condutor/ Do meu próprio consumo/ Papel e caneta e fui/ Para longe me expressar/ Eu assumo/ E olha só que louco/ Olha só que intuito/ Uma pá de beco/ Com vários grupos/ Aí eu curto/ Ô ô ô maluco".

Programação

No próximo sábado (20), às 19h, a Cooperifa faz seu sarau na Pinacoteca do Estado (bairro da Luz), dentro da programação do 2º Virada Cultural, promovido pelas secretarias Municipal e Estadual da Cultura. No dia seguinte, participa do 9º Favela Toma Conta, evento organizado pelo escritor Alessandro Buzo no Itaim Paulista (zona leste).

Saraus da Cooperifa
Quando: toda quarta-feira, às 20h30
Onde: bar do Zé Batidão (r. Bartolomeu dos Santos, 797, Chácara Santana, zona sul)
Quanto: grátis

Sarau da Cooperifa na 2º Virada Cultural
Quando: sábado (20), às 19h
Onde: Pinacoteca do Estado (pça. da Luz, 2, tel. 0/xx/11 3229-9844)
Quanto: grátis

9º Favela Toma Conta
Quando: domingo (21), a partir das 14h
Onde: r. Antônio Castanha da Silva, s/nº (em frente ao CDHU), Itaim Paulista, tel. (0/xx/11) 6567-9379
Quanto: grátis

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre a Cooperifa
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