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07/11/2000 - 04h51

Mix 2000 homenageia alemão pornô

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FABIO CYPRIANO, da Folha de S.Paulo

Os amantes do cinema não vão se sentir órfãos com o término da Mostra de São Paulo, anteontem. Na próxima quinta, tem início o 8º Mix Brasil, que eufemisticamente se chama Festival da Diversidade Sexual, mas é na verdade um dos maiores festivais de cinema gay do mundo.

Neste ano, em dez dias, 31 longas e 135 curtas serão exibidos, divididos em 51 programas, seis a mais que no ano passado. Um dos destaques fica por conta da Retrospectiva, que homenageia o alemão Wieland Speck, mais conhecido por ser o diretor do Panorama, a sessão que apresenta os filmes mais badalados do Festival de Berlim.

Foi por escolha de Speck que "Um Copo de Cólera", de Aluizio Abranches, e "O Primeiro Dia", de Walter Salles e Daniela Thomas, tiveram suas estréias em Berlim. Agora é a vez do alemão estrear um filme no Brasil.
Será aqui o lançamento internacional de "Fuga para a Vida" ("Escape to Life"), nos dias 12 e 13, filme sobre a vida dos filhos do escritor alemão Thomas Mann, Erika e Klaus. De Wieland também serão exibidos filmes pornográficos que estimulam o sexo seguro.

Klaus é autor de "Mefisto - Romance de uma Carreira", livro que retrata o pacto de um famoso ator e diretor com o nazismo. A história é baseada na vida real. Sua inspiração foi Gustaf Gründgens, por quem era apaixonado, mas que se casou com sua irmã.

Speck já esteve por aqui há dois anos, mas ficou apenas trancado vendo filmes numa cabine do Rio. "Eu conheço mais as belezas do Brasil por meio do cinema do que pela vida real." Antes de chegar a São Paulo, o diretor alemão concedeu a seguinte entrevista à Folha, por e-mail.

Folha - "Fuga para a Vida" é seu primeiro longa após 15 anos. Por que tanto tempo sem filmar?
Wieland Speck -
Estou sentado numa pilha de roteiros, mas, por uma razão ou por outra, o sistema de financiamento alemão não me dá apoio. Por isso tenho de produzir meus próprios filmes sem dinheiro público, algo quase impossível na Alemanha, onde tanto o cinema como a TV só funcionam com recursos do Estado.

Folha- E por que a televisão não lhe dá recursos?
Speck -
Eles só querem patrocinar um ou dois filmes gays por ano e eu não tenho intenção de contar histórias heterossexuais... Mas, entre os longas, eu consegui fazer curtas e vídeos também.

Folha - E por que, então, a escolha de filmar a vida de Erika e Klaus Mann?
Speck -
Os dois participaram de um pequeno grupo de modernos nos anos 20. Ambos cresceram no mais moderno sistema político europeu, a República de Weimar, em que várias inovações foram criadas e que só agora influenciam nosso cotidiano, como alimentação natural, escolas livres, viagens pelo mundo, pensamento pan-europeu, liberdade de expressão e uma primeira maneira explícita de vida gay. Claro que eles eram crianças ricas, parte de uma elite intelectual, e usavam isso para chocar e provocar.

Folha - A relação entre os irmãos era bastante controversa e, em seu filme, isso é tratado de forma bastante eufemística. Por quê?
Speck -
Olhar a simbólica relação desses dois artistas é uma boa reflexão sobre nossa cultura. Basicamente, pode-se dizer que Klaus tem muitas qualidades consideradas femininas, como ser sensitivo, sensual, imaginativo, enquanto Erika era quem tomava decisões, sendo pragmática e descompromissada de todas as formas _ela dirigia carros de corrida e escrevia reportagens do front da Segunda Guerra Mundial como um soldado americano. Ambos sofreram muito com as investigações do FBI nos EUA. Naturalmente, a homossexualidade aberta de Klaus foi usada contra ele _após uma vida gay liberal na Alemanha e na Europa, ele finalmente teve de esconder sua opção na América livre! Os rumores da relação incestuosa também foram investigados lá, assim como os de serem comunistas, o que mais tarde foi usado pelo regime macartista para expulsar Erika dos EUA nos anos 50. Se a parte controversa à qual você se refere na pergunta é sobre o incesto, não usei no filme porque ela não é comprovada.

Folha - É verdade que seu vídeos pornográficos de "safe sex", que serão exibidos no festival, tiveram enorme sucesso na Alemanha Oriental?
Speck -
Sim, porque foram os primeiros vídeos pornográficos que os alemães orientais viram! Minha intenção era questionar a indústria pornô, que até então divulgava sexo sem meios seguros, quando já era certo que o único meio de prevenção à Aids era a camisinha.
 

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