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20/05/2006 - 04h00

Leia o 1º capítulo do livro "O Adiantado da Hora"

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da Folha de S.Paulo

Leia o primeiro capítulo do livro "O Adiantado da Hora" (ed. Objetiva), de Carlos Heitor Cony.

O que fui fazer em Cabo Frio?

Foi a pergunta que me fiz ao chegar a Cabo Frio, o verão ainda estava distante. seguindo as instruções do Dr. Evandro, eu teria de "captar" as informações que ele me pedira. Gostara daquele verbo que ele usara e daquela função na qual me investira, mas não sabia ao certo o que devia captar. Normalmente, nada teria a fazer, quando era rapaz freqüentava suas praias e dunas, tudo ali não passava de uma vila de pescadores, com nobre história, salinas e moinhos de vento que marcavam a paisagem, tantos e tão brancos que se tornaram símbolo da cidade e da região. Destacavam-se de um céu luminoso que parecia dourado, e do mar aberto que, embora verde em alguns pontos, era azul, de um azul escurecido e profundo.

Ali estava não a passeio ou de férias, nem mesmo a trabalho, mas para quebrar um galho circunstancial dos muitos que fazia, sucessivos e mal remunerados, para o Dr. Evandro, ou melhor, para o escritório da firma Evandro, Gouveia & Advogados Associados, estabelecida na rua da Ajuda, 313, no Centro do Rio.

Perdera o pai dois anos antes, tive de trancar a matrícula na Faculdade de Direito, faltava dinheiro para continuar os estudos, a mãe recebia uma pensão que mal dava para manter a casa, eu precisava ajudar com alguma coisa. Mas nada sabia fazer, não conhecia ninguém, cheguei a pensar num concurso para preencher vagas num banco, mas não gostaria de passar o resto da vida atrás de um guichê tendo à frente uma fila de clientes mal-humorados.

A mãe tomou coragem, procurou o escritório do Dr. Evandro, amigo do pai, colega dele na faculdade. Era um dos advogados mais notáveis do país. O pai não passara de um rábula, profissional de porta de xadrez, com pequenas causas e grandes aborrecimentos. Mesmo assim fazia questão de que me formasse, seguisse os passos dele, apesar de reconhecer que eu não tinha vocação para o ofício nem para qualquer outro.

Eu concordava com ele, detestava processos, leis, recursos, audiências, papéis e papéis, detestava sobretudo palavras e palavras. Mas não tinha como contrariar o pai. Eventualmente gostava de ler, mas ler outras coisas, coisas que não me dariam profissão nem dinheiro. E nem sempre sabedoria ou prazer.

Por solidariedade para com o colega de faculdade, mais por isso do que por necessidade de trabalho, Dr. Evandro topou o pedido de minha mãe, aceitou-me em seu escritório como um agregado, mistura de contínuo, de moço de recados, quase faxineiro. Ali trabalhavam cinco advogados, todos com secretárias, havia uma estrutura de empresa, eu sobrava naquele meio, fazendo tudo ou não fazendo nada, apenas para no fim do mês, sem carteira assinada, sem nenhum direito trabalhista, ganhar um salário de merda que deveria dar para minhas despesas pessoais e, em hipótese remota, ajudar lá em casa.

Cursara Direito até o terceiro ano, o suficiente para descobrir que nada tinha a ver com aquilo. Os estudos foram medíocres, comparecia às aulas para ter freqüência, passava raspando nos exames, na maioria das vezes em segunda chamada, levava bomba na primeira.

Tornei-me uma espécie de contínuo preferencial do Dr. Evandro, que realmente fora amigo do pai e parecia gostar de mim. Apesar das secretárias e dos outros contínuos, ele me distinguia mandando-me comprar cigarros, fazer entregas, excepcionalmente ia ao foro apanhar ou levar algum processo ou petição.

Dr. Evandro tinha amante, mulher suntuosa, casada com um industrial meio atrapalhado, sempre metido em enrascadas fiscais, exalando um cheiro genérico de corno (ele sabia que a mulher era amante do Dr. Evandro mas fingia não saber). Levava vantagem porque só pagava as custas dos processos em que se metia ou que se metiam com ele, esquecendo de pagar os honorários do escritório.

Fui encarregado de ser intermediário de suas trepadas, marcando encontros e evitando desencontros. E logo recebi uma função que muito poderia me honrar mas que achei suspeita. Pediu-me para comprar frutas-de-conde numa confeitaria da cidade, eram naquele tempo frutas de rico, vendidas em confeitarias de luxo e não em feiras livres e quitandas. E devia colocar no caprichado embrulho de papel metalizado um cartão do próprio Dr. Evandro, com o nome e endereço da destinatária, que se chamava Emma, com dois emes. Morava para as bandas do Jardim Botânico.

Saí-me bem da missão e logo mereci outra, mais transparente e meritosa: comprar uma coroa no Mercado das Flores, na praça Olavo Bilac; morrera um desembargador importante, digno da homenagem coletiva do escritório. E de uma outra coroa, suplementar, do próprio Dr. Evandro. Fui comprar as duas, com a incumbência de mandar imprimir os dizeres das faixas - a função mais importante que até então recebera. Na primeira, pedi para colocar "Último tributo de Evandro, Gouveia & Advogados Associados". Na segunda, "Saudades imorredouras do Evandro".

Acho que também me saí bem. Quando voltei e prestei contas, ele não apenas elogiou o que mandara gravar nas coroas como queria falar comigo em particular. Pediu que fechasse a porta de sua sala:

- Rapaz, fui amigo de seu pai, colega dos melhores que tive na faculdade e na vida. Nunca pude fazer nada por ele, era muito orgulhoso, e, aqui entre nós, se era um bom, excelente homem, não era lá essas coisas como advogado. Não tinha faro e sempre me pareceu que não tinha jeito. Mas isso nunca interferiu em nossa amizade, via-o pouco ultimamente, ele parecia ter vergonha de ter ficado tão por baixo e eu, colega dele desde o primeiro ano dos bancos universitários, ter subido na vida.

Fez uma pausa para fumar um cigarro, aproximei-lhe o cinzeiro, como sempre fazia e ele apreciava, era meio desmazelado e, sem cinzeiro, sujava mesa, processos, papéis e, não raras vezes, a roupa com a cinza que esquecia de quebrar.

Não podia imaginar onde a conversa nos levaria. A porta fechada, o desabafo sentimental pelo colega de faculdade. Na véspera, eu já cumprira missão exemplar, levando para a amante dele uma dúzia de rosas do tipo Príncipe Negro, que eram as mais valorizadas no mercado. Além do mais, eu atravessava boa fase profissional, ele aprovara com entusiasmo os dizeres que mandara gravar na faixa das duas coroas enviadas ao enterro do desembargador.

- Bem, vamos ao que interessa. Preciso de pessoa de absoluta confiança para a missão. Evidente que confio em todos aqui... gente solícita... gente de mérito... mas confiança é coisa especial... muito pessoal... e...

Olhou-me fundo, para ver se eu estava preparado para a misteriosa cruzada de que me encarregaria. Não podia ser um maço de cigarro, frutas-de-conde para a amante, nem coroas de defunto para um desembargador que viesse a morrer nos próximos dias:

- Só tenho você para me ajudar neste trabalho. É um caso enrolado, bastante enrolado, em que não posso me meter nem meter o escritório... na realidade, não há nada de concreto, apenas a suspeita de que um escritório rival está na jogada e eu preciso ficar informado... ainda não tenho e acho que dificilmente terei oportunidade de entrar na ação... não chega a ser a minha especialidade, mas o negócio envolve prestígio, o Brasil está negociando com a Alemanha um programa de energia nuclear... não, não se assuste, você não correrá perigo com nenhuma bomba atômica... nem criará caso algum com a Alemanha, que é chata pra burro quando resolve criar caso... a coisa é mais simples...

Na realidade, eu estava começando a ficar assustado. Percebia que seria missão acima de minhas possibilidades. Mas como nada entendera até aquele ponto, adotei a postura reverente a que me habituara diante dele e dos demais. E quanto menos entendia, mais cara fazia de que estava disposto a topar tudo pelo bem do escritório Evandro, Gouveia & Advogados Associados, pelo bem do Dr. Evandro e pelo bem de mim próprio.

O caso, embora importante e complicadíssimo, apesar de exposto com a clareza profissional e própria do Dr. Evandro, me pareceu obscuro e acima do que se poderia esperar de mim:

- Zé Mário, você vai passar umas semanas, talvez dois ou três meses, em Cabo Frio... evidente, por conta do escritório... quer dizer, por minha conta particular, não quero mais gente metida nisso...

Nunca ninguém me falara assim e eu me senti importante. Mas que diabo? Por que Cabo Frio?

Foi o que perguntei.

-Você conhece a região? Conhece alguém lá?

Conhecia vagamente a cidade, havia muito que não a freqüentava, e ali não mais conhecia ninguém. Dr. Evandro gostou de ouvir isso, era de pessoa assim que precisava, nem muito por dentro nem muito por fora de seus objetivos. Mas precisava de mim para quê?

Começou a explicar os detalhes:

- Preciso de uma pessoa insuspeita (fiquei sabendo então que ele me considerava insuspeito) que fique por lá uns tempos, tomando informações...

Que tipo de informações? Sobre a energia nuclear, sobre a Alemanha? Fiz a besteira de perguntar isso e Dr. Evandro sorriu, enquanto espantava um mosquito imaginário que imaginariamente passou-lhe pela testa:

- Não, meu caro, a coisa é simples... muito mais simples... bem mais simples...

Adiantou:

- Uma mulher desapareceu misteriosamente por lá... era uma alemã, de seus 40 anos, bonita... livre... trabalhara como modelo em Hamburgo... sabe como é (eu não sabia), lá tem o Quarteirão dos Prazeres, famoso em toda a Europa... depois passara um tempo como comissária de bordo da Lufthansa... fazia a rota da América do Sul, gostou do Brasil, gostou principalmente da Região dos Lagos... abandonou tudo e foi morar por lá, em Búzios... Cabo Frio... Arraial do Cabo... parece que se envolveu em contrabando não sei de quê... de drogas ou de qualquer outra coisa... o fato é que desapareceu... há dois meses a polícia e a Interpol procuram saber o que houve com ela, o consulado da Alemanha mostrou interesse pelo caso... consultou um escritório rival... meu caro Zé Mário, tenho motivos para suspeitar de que há caroço por baixo deste angu...

A imagem do caroço e do angu traía a origem baiana do Dr. Evandro. Eu não a ouvia habitualmente, pois nunca apreciei o falar dos baianos, embora goste deles e lhes inveje o jeito e o sestro.

Com jeito, mas sem qualquer sestro, perguntei como deveria proceder para tomar as informações. Que informações exatamente? Ele me garantiu que eu não precisava sair por Cabo Frio, Búzios, Rio das Ostras, Arraial do Cabo e São Pedro da Aldeia perguntando pela alemã, nem metendo o nariz onde não fosse chamado.

Bastava captar o clima da cidade, os hábitos das pessoas, nacionais ou estrangeiras, que lá se radicam ou lá passam temporadas, saber o que fazem, como vivem, de que vivem, com quem se relacionam, o que pretendem.

Usou - como já disse - o verbo "captar" e acreditou que eu captara bem a coisa.

Para ser sincero, eu não captara porra nenhuma, mas não custava tentar. E assim cheguei a Cabo Frio, com algum dinheiro no bolso e nenhuma vontade de entender o que realmente iria fazer ali. Tomar informações era vago, conversaria com pessoas, freqüentaria bares, praias, poderia fazer um relato dos hábitos locais, mas nada que me comprometesse ou comprometesse a Alemanha e o programa nuclear do Brasil.

Aluguei um bom quarto no hotel que estava sendo inaugurado na praia do Forte, diante do mar e do extenso areal que parece se perder até Araruama. Numa agência de carros usados arranjei um fusca em bom estado, cor azul-pavão, que era novidade na época, e de certa forma combinava com o azul do mar em redor. Às poucas pessoas que se interessavam em saber o que estava fazendo ali, eu dizia que precisava tomar sol, escrever um livro talvez, levei a pequenina máquina Olivetti, lettera 22, na qual o pai batia suas petições de advogado de porta de cadeia.

No terceiro dia após minha instalação na paisagem e no meio, chei que era hora de iniciar o trabalho de captação e captei, sem querer, uma visão noturna e marinha que muito me impressionou.

Numa das casas de veraneio, a mais imponente naquele local, um deque elegante dava diretamente para o trecho que prolonga a praia do Forte em direção ao Centro da cidade. E boiando nas águas, iluminadas por refletores escondidos junto a coqueiros-anões do jardim, um objeto estranho, que parecia inicialmente um peixe luminoso, mas logo descobri que não era peixe, mas um pequeno navio artesanal, do tamanho de um bote dos menores, feito de isopor ou material equivalente. Pelos buraquinhos abertos no casco macio e branco, viam-se os camarotes iluminados.

Fiquei olhando aquilo, deslumbrado, e achei que devia começar por ali a captação de minhas informações. No dia seguinte, perguntei de quem era aquela casa, de quem era aquele navio, quem o encomendara, quem o fizera, como fora parar ali. Tomei conhecimento de um banqueiro, Magalhães Coelho, de Minas, de seu gosto pelo mar e pelos navios, de como encomendara a monstruosidade a um forasteiro que chegara a Cabo Frio, estendera um plástico azul junto ao antigo Mercado de Peixe, e fazia brinquedinhos de madeira ou lata para crianças, barquinhos, carrinhos, cavaquinhos.

Era pouco e achei que não valia abrir a Olivetti para registrar a primeira e inofensiva captação.

Xxx

No dia seguinte ao da visão do barco iluminado, fosforescente, brilhando nas águas do lago artificial de um banqueiro natural de Minas, pensei em iniciar a minha pesquisa pelo próprio banqueiro, porque era de Minas, devia ter alguma culpa naquilo tudo, se é que havia culpa na embrulhada em que me metera. E pelo fato de ser banqueiro, também devia ter alguma culpa, não há notícia de existir no mundo um banqueiro inocente.

Sendo um dos mais importantes do país, certamente seria amigo íntimo ou distante do próprio Dr. Evandro, que é amigo íntimo ou distante de todos os personagens importantes.

A alternativa seria procurar o fabricante do navio, fiz perguntas que me pareciam inteligentes na medida em que eram aleatórias, nada sabiam dele, afora sua condição de forasteiro, sem raízes no lugar, chegado de repente com seu plástico azul e seus brinquedinhos de lata e madeira. Pouco para começar a esclarecer o mistério de uma alemã transviada, que um jornal da região, A Gazeta do Cabo, quando de seu desaparecimento, louvara-lhe as "coxas teutônicas". E pouquíssimo para descobrir qualquer coisa parecida com uma bomba atômica que ali estaria sendo feita.

E passaria uns dias sem nada fazer ou investigar se não encontrasse, andando no cais junto ao canal, onde o forasteiro costumava estender o plástico azulado, um homem pensativo que caminhava de lá para cá, como se também procurasse alguma coisa. Eu também fazia o mesmo, andando de um lado para outro. Fatalmente teríamos de tomar conhecimento recíproco.

Da primeira vez, mal nos olhamos. Da segunda, olhamos mais um pouco. Na terceira, fizemos um ligeiro aceno de cabeça, como se nos cumprimentássemos.

Por coincidência ou não, no dia seguinte, mais ou menos à mesma hora, fui ao local para ver se o forasteiro resolvera aparecer. Quem apareceu foi o mesmo homem, que logo me cumprimentou com intimidade que julguei exagerada. Retribuí ao cumprimento e percebi que ele ia dizer qualquer coisa mas não foi preciso. Um rapaz aproximou-se dele e entregou-lhe um pequeno ramo de flores roxas, das quais eu não sabia o nome.

Comentei:
- Bonitas flores... são hortênsias?
O homem riu:
- Não. Hortênsias são maiores e de azul mais claro. Dão muito em Petrópolis, Teresópolis, em regiões serranas. Estas aqui são monsenhores...

Nunca ouvira falar que houvesse na flora nacional uma flor com aquele nome, nome de dignatário eclesiástico, impróprio para qualquer tipo de coisa ou pessoa que não fosse um próprio monsenhor.

- Nome estranho para uma flor - voltei a insistir.
- O senhor gosta delas?
- Acho que gosto... não sei... não tenho opinião firmada...
- Há gente que não gosta... servem para enfeitar defunto...

A informação era inútil para o que eu procurava, mesmo assim fiquei intrigado.

- Existe flor especial para enfeitar defunto?
- É tradição, aqui e em outros lugares...
Olhou-me com admiração:
- O senhor não é daqui, nunca o vi antes, certamente não me
conhece...
- Não tenho a honra...
- Sou bastante conhecido, fui vereador, deputado estadual...
jornalista, sou o Seabra, quem nunca ouviu falar no Seabra em toda
a Região dos Lagos?
- Francamente, nunca tinha ouvido falar no senhor... sou do
Rio, faz tempo que não ando por aqui...
- Percebe-se. Está veraneando?
Não era verão ainda, mas entendi o que ele queria dizer. Achava que eu estava de férias ou a passeio, não podia suspeitar que trabalhava para o Dr. Evandro, que procurava uma coisa provável, a alemã, e uma outra improvável, a bomba atômica que ali estaria sendo feita.

- Mais ou menos - respondi. - Estou atrás de um cara que costuma ficar por aqui, fazendo e vendendo brinquedinhos... um forasteiro...
- Coincidência! Eu também estou procurando o mesmo homem... sumiu de repente, como de repente apareceu por aqui... parece que, além de forasteiro, é também feiticeiro... andou uns tempos em Búzios, metido com uma alemã...

Xxx

Apesar de não ter dado bola até então para a missão que procurava desempenhar sem entusiasmo, fiquei alvoroçado. A coisa estava saindo mais fácil do que esperava. Já captara coisas admiráveis, a saber:

1) Um navio iluminado.
2) Um forasteiro.
3) A possibilidade do forasteiro acumular as funções de
feiticeiro.
4) Uma alemã com coxas teutônicas, conforme atestara A Gazeta
do Cabo, fundada no início do século e de absoluta credibilidade
local.
5) Um Seabra.

Era muito e não era tudo.
Não abri o jogo, com receio de perder tão valiosa pista. Preferi mudar de assunto, voltando aos monsenhores:
- Essas flores... o senhor vai a algum enterro, enfeitar algum
defunto?
O homem riu.
- Não. Não vou a enterro nenhum, nem gosto de enfeitar defuntos.
É uma encomenda para...
Olhou-me com seriedade, sondando-me, para ver se merecia confiança. Acho que não mereci.
 

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