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20/05/2006 - 18h05

Banda Animal Collective rebate rótulo de "cult"; leia entrevista

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DIÓGENES MUNIZ
Folha Online

Com mais de 60 mil CDs vendidos, shows requisitados e elogiados por onde passam e uma (falta de) divulgação deliberadamente amadora, a banda Animal Collective desperta curiosidade no cenário musical.

A relação entre mercado fonográfico e músicos ditos alternativos nunca foi das mais fáceis. Se vendem demais, fãs os acusam de "cooptados". Se vendem de menos, caem no desconhecimento. O grupo de rock psicodélico de Baltimore, porém, parece ainda não ter sido enquadrado por esta fórmula.

Divulgação
O Animal Collective pensa em tocar no Brasil em 2007
O Animal Collective pensa em tocar no Brasil em 2007
Ainda que se trate de mais um sucesso internético, fica difícil colocá-lo ao lado de Arctic Monkeys ou Franz Ferdinand, dado o abismo de acessibilidade no som destes dois grupos e do Animal.

Na volta do Festival Coachella, na Califórnia, Panda Bear (bateria, vocal e samples), cujo nome de batismo é Noah Lennox, concedeu entrevista à Folha Online, via e-mail.

O músico falou sobre a história da banda e mencionou uma provável vinda ao Brasil em 2007. Panda Bear também rebateu alguns rótulos: "Não temos nenhuma intenção de parecer 'underground' ou 'cult'", disse. E confirmou outros: "O Animal Colletive nunca vai ficar dependente de gravadora no sentido de nos mandarem tocar o que seja comercialmente mais vantajoso."

Confira, a seguir, entrevista concedida à Folha Online:

Folha Online - A banda mantém os mesmos integrantes desde o início, em 2000?

Panda Bear - No começo éramos só eu e Dave. As músicas e o próprio "Spirit They're Gone, Spirit They've Vanished" (primeiro álbum do grupo), no geral, eram dele. Fui convidado para tocar bateria, mas começamos antes mesmo do primeiro álbum, por volta de 1996. Desde então, muita coisa mudou, nossas vidas mudaram, nossa música mudou. Mas acredito que o espírito inicial tenha se mantido, continuamos querendo fazer um som diferente de tudo que conhecíamos, que seja novo pra nós também.

Folha Online - Por que montaram um selo independente?

Panda Bear - Como ninguém parecia querer produzir nossos discos, decidimos montar um selo independente --"Animal". Depois mudamos o nome para "Paw Tracks", porque descobrimos que alguém na América do Sul já tinha usado o nome. A intenção era que o selo fosse a primeira "casa" das produções do Animal Collective. As coisas não foram exatamente desse modo, lançamos nossos discos por meio de vários selos, mas estou orgulhoso do resultado.

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Grupo mescla psicodelia e folk
Grupo mescla psicodelia e folk
Folha Online - Quais são as influências musicais do grupo?

Panda Bear - Essa é sempre uma pergunta difícil, porque eu gostaria de dizer que minha família e meus amigos me inspiraram, ou que o espírito de uma banda me influenciou. Mas não posso negar influências de bandas específicas. The Police, Tornadoes, Jonathan Richman, The Orb Luono, Black Dice, Roy Orbison, Sam Cooke, Scott Walker, Isollee Vilalobos, Daft Punk e todo aquele "jazz leve" do Brasil que eram minhas canções favoritas quando eu era mais jovem --Caetano Veloso, Milton Nacimento, Antonio Jobim. Cara, eu poderia incluir muita coisa nessa lista.

Folha Online - Quando se ouve uma banda que tem influências psicodélicas, há a impressão de que o vocal sempre está perdido no escuro, buscando por algo. O que vocês procuram?

Panda Bear - Eu quero que a música me tire daqui e me coloque lá --se você entende o que eu quero dizer. Eu gosto quando a música me faz sentir mais do que eu era. Acho que estou procurando por sons que tem algum tipo de efeito positivo. Acredito que seja o melhor jeito de colocar isso.

Folha Online - Como vocês encaram os shows?

Panda Bear - Quando você está tocando ao vivo acredito que você deve sentir que está vivendo uma experiência especial e única, indiferentemente se o show estiver vazio ou não. Esses dias eu tomei um energético com cerveja antes de um show pra me preparar. Eu normalmente fico muito nervoso. Quando você está tocando ao vivo, não pode voltar atrás se algo sair errado. È bem diferente do estúdio.

Folha Online - Para quem assiste aos shows do Animal Collective, há uma forte impressão de que se está vendo uma cerimônia tribal. Existe essa influência?

Panda Bear - Sim, de algum modo. Acredito que seja importante que cada um se sinta parte de algo quando estamos tocando. Não quero que tenha uma parede entre nós e o público. É tribal no sentido de que somos um grupo, e é uma cerimônia porque levamos tudo o que fazemos muito a sério, queremos que todos sintam algo positivo.
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Animal Collective quer manter som apesar do mercado
Animal Collective quer manter som apesar do mercado


Folha Online - Ouvindo os primeiros CDs e comparando com o último, "Feels", parece que a banda está ficando mais acessível ao grande público. Há influências do mercado no som de vocês?

Panda Bear - Não, de maneira alguma. Queremos que nossa música seja ouvida por quem quer ouvi-la do jeito que ela é. Não tenho nenhuma intenção em ser "underground" ou "cult" só para me sentir "cool". Mas não quero mudar minha música só por pensar que mais pessoas vão gostar mais por causa disso. Acho, pelo contrário, se mudo meu som, as pessoas vão apenas odiar menos. Acredito que todos nós tentamos fazer coisas que nos sintamos bem com o resultado - se as pessoas gostarem, ótimo; se não, tudo bem também.

Folha Online - Mas vocês estão ficando mais populares...

Panda Bear - Acredito que sim. Nunca achei que pudéssemos ser tão populares como somos agora. Não que sejamos uma banda grande ou algo assim, pois ainda sinto que nossa música é estranha pra muita gente. Por isso sou forçado a pensar que as pessoas estejam mudando. Hoje, o público jovem está mais bem aberto a novos sons do que na minha juventude. Deve ser pela internet, porque você tem tantas fontes e tantos recursos disponíveis, que pode ouvir de tudo. Mas devo admitir que tudo isso me faz sentir um pouco velho. Não que isso seja ruim.

Folha Online - Como vocês se sentem fazendo um som, digamos, transcendental numa indústria tão competitiva?

Panda Bear - Não é fácil, mas é importante, porque quero fazer música que me faça sentir melhor e às pessoas também. Financeiramente falando é um risco, mas eu estou vivo e sobrevivendo e isso é o suficiente.

Folha Online - Ter um selo independente é um modo de conseguir manter a mesma linha?

Panda Bear - Sem dúvida. Mas independente disso, tenho certeza que o Animal Colletive nunca vai chegar ao ponto de ficar dependente de gravadora no sentido de nos mandarem tocar o que seja comercialmente mais vantajoso.

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Psicodelia atrai fãs para o Animal Collective, de Baltimore
Psicodelia atrai fãs para o Animal Collective, de Baltimore
Folha Online - Há algum tipo de mensagem por trás das referências animais?

Panda Bear - Não, não tem nada de intencional. Não sou nada político --não entendo muito. Não temos nenhum interesse em falar o que as pessoas deveriam fazer ou pensar. Se temos alguma mensagem em nossa música, elas estão internalizadas.

Folha Online - O que acham deste novo britpop, representado por bandas como Franz Ferdinand, Kaiser Chiefs e Arctic Monkeys?

Panda Bear - São legais. A Inglaterra é um lugar estranho para música popular, ficaria com medo caso o Animal Collective se tornasse bem conhecido por lá. A imprensa musical britânica é muito eufórica e mudam muito rápido de um assunto pra outro. Parece que se você se tornar muito popular, você tem cerca de um ano até ser substituído por algo mais "cool". Eu me sinto bem pelo modo como o Animal Colletictive tem tido uma ascensão mais lenta. Me sinto seguro.

Folha Online - Vocês já vieram ou têm planos de vir ao Brasil?

Panda Bear - Nunca fui, mas ouço falar muito. Provavelmente faremos uma turnê pela América Latina em 2007. A China é outro lugar onde quero muito tocar. Ah, também gostaria de dar uma volta pela Patagônia por um tempo.

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