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21/05/2006
-
10h34
SÉRGIO RIZZO
Crítico da Folha de S.Paulo
Não haveria "2001, uma Odisséia no Espaço" (1968), de Stanley Kubrick, sem que antes viesse "Viagem à Lua" (1902), de Georges Méliès, assim como a série "Star Wars", de George Lucas, tem como seu antepassado, nascido quatro décadas antes, o seriado de ficção científica "Flash Gordon".
O personagem de HQs criado por Alex Raymond chegou ao cinema, em um longa-metragem e em uma série de 13 episódios, em 1936. Buster Crabbe já fazia o papel do herói espacial. "Flash Gordon Conquista o Universo", com dois discos, traz os 12 episódios da temporada de 1940, com 20 minutos cada um. À luz do cinema de fantasia contemporâneo, tudo é muito precário, dos cenários a uma concepção de avanço tecnológico que, hoje, parece terrivelmente ingênua. Há um certo charme aí, sobretudo para os fãs do gênero, mas o trabalho de arqueologia oferece recompensas mais substanciais.
É possível notar o perturbador espelhamento de fatos da época em produto destinado à diversão de crianças e adolescentes nas antigas matinês de sábado à tarde. Onde o vilão põe seus inimigos? Em campos de concentração. E o que pretende fazer com eles? Submetê-los ao "pó da morte" em uma câmara especial. Como as informações sobre o que fazia e planejava fazer o 3º Reich tinham ainda circulação restrita, a associação entre uma coisa e outra não produzia, em 1940, o significado que adquire hoje. Mas está lá, ao lado de um pequeno mostruário do que Lucas aproveitaria mais tarde.
Flash Gordon combate o déspota Imperador Ming, cujos soldados se vestem e se comportam como precursores das tropas de Darth Vader. A introdução dos episódios usa o estilo de letreiros de "Star Wars". E os combates entre espaçonaves, ao ignorar a falta de propagação do som no espaço, anunciam as ruidosas estripulias de Han Solo. O herói de Raymond fazia sucesso nos cinemas, mas o Super-Homem de Joe Shuster e Jerry Siegel foi desde sempre multimídia. Dos quadrinhos passou para o rádio, nos anos 40, e daí para a televisão, nos anos 50, com uma rápida passagem pelo cinema, em "Os Homens-Toupeira" (51).
A caixa "As Aventuras do Super-Homem" traz todos os 26 episódios da primeira temporada, com 25 minutos cada um. Eles foram produzidos antes do longa, que deveria preparar o terreno para a estréia na TV, mas demoraram dois anos para encontrar patrocinador e horário na grade. Décadas depois, continuavam a ser reprisados.
Foi na pele de George Reeves, portanto, que diversas gerações conheceram o personagem. Muito diferente, por sinal, de como era caracterizado nos quadrinhos e de como seria mais tarde popularizado, para novas gerações, na interpretação de Christopher Reeve. Seu Clark Kent não era frágil. Suas piscadas ocasionais para o espectador geravam divertida cumplicidade. E seus "inimigos públicos" eram criminosos típicos do cinema policial norte-americano, com uma atmosfera à "filmes B" --escola da qual veio, aliás, a maior parte do elenco e da equipe técnica.
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Crítico da Folha de S.Paulo
Não haveria "2001, uma Odisséia no Espaço" (1968), de Stanley Kubrick, sem que antes viesse "Viagem à Lua" (1902), de Georges Méliès, assim como a série "Star Wars", de George Lucas, tem como seu antepassado, nascido quatro décadas antes, o seriado de ficção científica "Flash Gordon".
O personagem de HQs criado por Alex Raymond chegou ao cinema, em um longa-metragem e em uma série de 13 episódios, em 1936. Buster Crabbe já fazia o papel do herói espacial. "Flash Gordon Conquista o Universo", com dois discos, traz os 12 episódios da temporada de 1940, com 20 minutos cada um. À luz do cinema de fantasia contemporâneo, tudo é muito precário, dos cenários a uma concepção de avanço tecnológico que, hoje, parece terrivelmente ingênua. Há um certo charme aí, sobretudo para os fãs do gênero, mas o trabalho de arqueologia oferece recompensas mais substanciais.
É possível notar o perturbador espelhamento de fatos da época em produto destinado à diversão de crianças e adolescentes nas antigas matinês de sábado à tarde. Onde o vilão põe seus inimigos? Em campos de concentração. E o que pretende fazer com eles? Submetê-los ao "pó da morte" em uma câmara especial. Como as informações sobre o que fazia e planejava fazer o 3º Reich tinham ainda circulação restrita, a associação entre uma coisa e outra não produzia, em 1940, o significado que adquire hoje. Mas está lá, ao lado de um pequeno mostruário do que Lucas aproveitaria mais tarde.
Flash Gordon combate o déspota Imperador Ming, cujos soldados se vestem e se comportam como precursores das tropas de Darth Vader. A introdução dos episódios usa o estilo de letreiros de "Star Wars". E os combates entre espaçonaves, ao ignorar a falta de propagação do som no espaço, anunciam as ruidosas estripulias de Han Solo. O herói de Raymond fazia sucesso nos cinemas, mas o Super-Homem de Joe Shuster e Jerry Siegel foi desde sempre multimídia. Dos quadrinhos passou para o rádio, nos anos 40, e daí para a televisão, nos anos 50, com uma rápida passagem pelo cinema, em "Os Homens-Toupeira" (51).
A caixa "As Aventuras do Super-Homem" traz todos os 26 episódios da primeira temporada, com 25 minutos cada um. Eles foram produzidos antes do longa, que deveria preparar o terreno para a estréia na TV, mas demoraram dois anos para encontrar patrocinador e horário na grade. Décadas depois, continuavam a ser reprisados.
Foi na pele de George Reeves, portanto, que diversas gerações conheceram o personagem. Muito diferente, por sinal, de como era caracterizado nos quadrinhos e de como seria mais tarde popularizado, para novas gerações, na interpretação de Christopher Reeve. Seu Clark Kent não era frágil. Suas piscadas ocasionais para o espectador geravam divertida cumplicidade. E seus "inimigos públicos" eram criminosos típicos do cinema policial norte-americano, com uma atmosfera à "filmes B" --escola da qual veio, aliás, a maior parte do elenco e da equipe técnica.
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