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28/05/2006 - 09h00

Sem entender de futebol, Fátima Bernardes volta como estrela da Copa

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LAURA MATTOS
EDUARDO ARRUDA
da Folha de S.Paulo

Ela não entende de futebol, mas tem acesso privilegiado a Parreira e aos jogadores da seleção brasileira. Com credencial especial, fornecida somente a veículos que pagaram pela transmissão da Copa, a jornalista Fátima Bernardes desembarca na quarta na Alemanha e passa a circular nas áreas mais cobiçadas da sede do Mundial.

Desde 2002, eleita por jogadores "musa do penta", a apresentadora do "Jornal Nacional" tornou-se, para a cobertura da Globo, uma estrela da dimensão do veterano Galvão Bueno.

Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
Fátima Bernardes, que embarca na proxima semana para cobrir mais uma Copa do Mundo
Fátima Bernardes, que embarca na proxima semana para cobrir mais uma Copa do Mundo
Em entrevista à Folha, Fátima, 43, negou que o interesse comercial da emissora na Copa seja responsável pela tão festiva cobertura que a emissora tem apresentado. Segundo ela, a importância financeira do evento não ditou o tom da sorridente conversa que teve com Parreira no "JN" em plena segunda-feira do PCC em São Paulo. "A opinião do Parreira sobre o PCC importa tão pouco quanto a minha. Você está vendo pêlo em ovo", disse sobre o questionamento da Folha.

Leia abaixo o que a apresentadora falou a respeito de seleção, desentendimento entre Roque Júnior e Galvão, Felipão, filhos, e do polêmico episódio em que seu marido, William Bonner, comparou o telespectador médio do "JN" ao bobão Homer Simpsons.

FOLHA - O mundo futebolístico é permeado por certo machismo. Você já enfrentou algum preconceito?

FÁTIMA BERNARDES - Nenhum. Não sou repórter de campo, não vou cobrir vestiário. Vou cobrir o jogador no treino, no jogo. Além disso, meu trabalho não é ligado à parte mais técnica e tática dos jogos, não tenho esse compromisso. Nunca fui repórter de esportes. A idéia é que eu tenha um outro olhar, e acho que isso facilita meu trabalho. Também nunca cheguei dizendo ou acreditando que entendo de futebol, e falo isso de coração. Sou como qualquer um, mas privilegiada porque posso ser a palpiteira a quem as pessoas dão ouvidos. Porque todos nós viramos palpiteiros nessa época, entendendo ou não. Que bom que posso dar meu palpite, mas não vão cobrar de mim a análise. Minhas reportagens vão ser sempre mais voltadas ao jogador como um ser humanos, suas fraquezas, o que ele sente estando longe de casa, com tanta pressão.

FOLHA - Já que é palpiteira, o que acha do quadrado da seleção [ataque formado por Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Kaká e Adriano]?

FÁTIMA - [risos] Como palpiteira? Eu adoro, espero que dê muito certo, fico feliz que o Parreira diga que vai começar a Copa com esse quadrado. Exatamente por não entender, acho o seguinte: se os quatro são bons, que bom que podem jogar os quatro, né? Então que joguem os quatro e que façam todo mundo muito feliz, que o jogo seja bonito. Acho que vai ser muito legal, torço para que dê certo. Mas acho que o Parreira deve ter umas cinco cartas na manga para o caso de isso não dar certo no primeiro jogo. Ele me disse no "JN" que mudará a seleção não de acordo com os adversários, mas em função dos próprios erros. Acho isso muito interessante, as outras equipes é que tem que mudar o jogo em função de nós.

FOLHA - Que seleção escalaria?

FÁTIMA - Atualmente escalaria o time que o Parreira escalou. Qualquer mudança seria trocar seis por meia dúzia. Talvez se o Roque Júnior estivesse em condições, será que iria ele ou o Cris? Mas acho que faz pouca diferença, porque os expoentes, aqueles que são o diferencial, todos estão. Não temos, com em outras vezes, um Romário brigando para entrar no grupo. Estou confortável, acho que está muito bom.

FOLHA - Por falar em Roque Júnior, ele teve um desentendimento com Galvão Bueno e, apesar de ter sido um dos jogadores que mais atuaram nas eliminatórios, não foi convocado. Acha que isso pode tê-lo prejudicado na convocação?

FÁTIMA - De jeito nenhum, né. Imagina... O Galvão mesmo elogiou demais o Roque em várias partidas. Acho que isso jamais seria um critério, ainda mais com um técnico com a experiência do Parreira. Ele não iria nunca colocar o nome dele em discussão por causa de uma discussão que foi pessoal, nem sei direito o que ele falou. O Roque Júnior vinha de uma contusão, o Parreira tinha outras pessoas do mesmo padrão para o lugar e fez uma opção, que acho certa. Não tem por que não ter sido uma escolha extremamente técnica.

FOLHA - É verdade que você foi responsável por reconciliar a Globo com o Felipão às vésperas da Copa de 2002, que ele teria se encantado com sua simpatia numa reunião?

FÁTIMA - [risos]Não, de jeito nenhum, gente. Conciliar a Globo com o Felipão? Não, imagina. Olha, você tem que perguntar isso para ele, porque eu jamais tive essa percepção. No início, tivemos um trabalho de conquista de espaço, de eu pedir as entrevistas. Eu era um carrapato, não saía da porta do hotel, trabalhei demais. Ele saía para correr, eu estava na porta. Então, claro, eu tive a oportunidade de estar com ele em alguns momentos em que não havia nenhum repórter acordado, inclusive o pessoal da Folha [risos]. Acredito em trabalho, realmente não saio do pé deles.

FOLHA - A Globo tem mostrado reportagens fortemente positivas da seleção, muitas exclusivas, como as do programa de Luciano Huck, Tino Marcos acompanhando Ronaldo no carro até o hotel de Weggis [Suíça]. Esse relacionamento muito próximo da TV Globo não pode atrapalhar a visão crítica da cobertura?

FÁTIMA - De jeito nenhum. Antes de a Copa começar, existe uma preparação do evento, que a Globo vai transmitir porque pagou caro por ele. Mas fizemos isso em Olimpíadas, em vários momentos, de enaltecer o trabalho de um atleta que chega a um momento de ápice, mas não deixamos de ser críticos quando o jogo não foi bom. O que estamos fazendo agora é o esquentar dos tamborins, é preparar a cobertura. Mas Luciano Huck não tem nada a ver com jornalismo. E as reportagens que estamos exibindo agora no "JN", da série "Um País, uma Paixão", foram gravadas em agosto, setembro.

FOLHA - O que acha de a Globo ter exclusividade na transmissão?

FÁTIMA - Olha, isso é em qualquer lugar do mundo, gente. Você pagou pelo evento. Muita gente poderia ter pago junto. Eu, sinceramente, nem sei como é todo esse mecanismo de negociação. Mas sei que quem pagou pelo evento tem acesso a determinadas áreas, chamadas áreas Fifa. Quem não pagou vai ter outros acessos.

FOLHA - Há relação com a pauta?

FÁTIMA - Não, isso não tem nada de jornalístico.

FOLHA - E a segunda-feira do PCC, que foi também a da divulgação dos convocados da seleção? Bonner ancorou de SP e você, na bancada, entrevistou Parreira. Na conversa, parecia haver uma tentativa de não contaminar a Copa, evento de interesse comercial para a Globo. Não seria jornalisticamente natural que abordasse o tema do PCC com ele?

FÁTIMA - A sua avaliação jornalística vai depender do veículo para o qual trabalha. A minha avaliação jornalística é que a opinião do Parreira sobre o PCC vale tão pouco quanto a minha. Você está vendo pêlo em ovo, sinceramente. Está querendo dizer que eu estava maquiando a entrevista. Meu Deus, nós tivemos quatro blocos apresentados de São Paulo.

FOLHA - Não digo perguntar a opinião do Parreira sobre o PCC, mas sobre o fato de a tão esperada convocação, que deveria ser festa, se dar num dia tão trágico para o país. Outras TVs fizeram essa relação.

FÁTIMA - Isso está implícito. O telespectador é inteligente e não precisa dessa obviedade. É claro que o telespectador pensou nisso. Nós tínhamos muito mais coisas para colocar no ar sobre seleção. Tínhamos um jornal festivo, que foi para o lixo. Só não dava para derrubar a entrevista com o Parreira, que estava negociada há meses.

FOLHA - A exclusividade e os privilégios da Globo na Copa não fazem com que haja certa animosidade dos outros jornalistas, especialmente os de TV, em relação a você?

FÁTIMA - Não, de jeito nenhum. Em 2002, fiz fotos com vários, me pediram autógrafos para as mães. Cada um está fazendo o seu trabalho. Muitos ficavam do meu lado para pegar os depoimentos ao mesmo tempo que eu. A maioria das minhas entrevistas era áreas mistas, onde qualquer um tinha acesso.

FOLHA - Em tempo de mensalão e PCC, a expectativa pela Copa é imensa. Você e a Globo se prepararam para cobrir eventual derrota?

FÁTIMA - O brasileiro tem sempre uma expectativa imensa em relação à Copa. Acho que em 1994 estávamos precisando mais do título, porque estávamos há 24 anos sem ganhar. Não vejo essa relação. Em 2002, tivemos o Tim Lopes com aquela morte horrorosa. Já deu para dissociar, inclusive de eleição. A Copa é um hiato mesmo. Se acontecer de o Brasil ser desclassificado, venho embora. Estamos preparados para isso, claro. Temos o esquema para todas as possibilidades, porque há uma logística enorme, muitos equipamentos. Há reservas de passagens para o final da primeira fase, porque muitos profissionais voltariam se o Brasil fosse eliminado.

FOLHA - Você diz que o espectador é inteligente. Com vê o episódio do Homer Simpsons [Bonner comparou o telespectador ao personagem meio bobão do desenho animado]?

FÁTIMA - Primeiro que não quero falar disso porque a entrevista é sobre Copa. Agora, acho que aquilo foi um grande equívoco, uma injustiça daquele professor [Laurindo Lalo Leal, da USP, escreveu artigo relatando ter ouvido do apresentador a comparação], e é a única coisa que vou dizer sobre isso. Acho um absurdo, o jornal como ele é feito, com o capricho e o cuidado que a gente tem com o telespectador, e com uma audiência que reflete isso, aquilo ser levado a um termo que parecia uma, uma... não sei nem dizer o que acho. Só acho uma grande injustiça. Mas o tempo é senhor da razão e ele vai falar mais alto.

FOLHA - O que falta até embarcar?

FÁTIMA - Falta fazer a mala. Acho que fico adiando um pouquinho porque tem as crianças, e quando mexo com mala elas já começam a sentir que está chegando a hora. Embora a gente converse muito sobre isso, não é muito fácil deixar três crianças e partir para prováveis 40 dias fora.

FOLHA - Por que os filhos não vão?

FÁTIMA - Eles vão entrar de férias depois do fim da Copa. Além disso, crianças e um trabalho como esse são coisas incompatíveis. O "JN" entra no ar à 1h30, no horário de lá, e vou ficar acordada até as 2h30, quando o jornal sai do ar. Tenho que acordar às 8h30, 9h para acompanhar os treinos. Fora que vamos mudar muito de cidade. Não há condições de trabalhar num evento assim perto de filhos pequenos.

FOLHA - E como fica o marido, sabendo que você estará cercada por tantos homens?

FÁTIMA - Ah, nós temos um casamento de 16 anos tão estável, tão franco, que esse tipo de preocupação não passa nem na minha cabeça quando ele vai viajar a trabalho e nem na dele, quando vou eu. Isso é bobagem para a gente.

FOLHA - Você volta como musa?

FÁTIMA - Ah, não, pelo amor de Deus! Aos 43 anos! Tenha santa paciência [risos]. Acho isso tão engraçado. Nem me lembro direito como isso começou. Para ser sincera, nunca revi a fita de quando o Cafu me entregou a taça. Achei que aquilo ia ser falado ali e ia passar, mas todo mundo me pergunta disso, gente! Aquilo era um momento de festa, de alegria, eles não tinham o que falar e disseram aquilo de brincadeira. Foi legal.

FOLHA - Quem vai ser o grande destaque da Copa?

FÁTIMA - Acho que de novo vamos ficar na dupla Ronaldinho e Ronaldo.

FOLHA - Que adversário escolheria para a final?

FÁTIMA - Nenhum latino, nem a Inglaterra. Escolheria a Alemanha, mesmo dona da casa, porque eles são fraquinhos. Argentina, se possível, que vá embora na primeira fase com tango tocando.

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