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08/11/2000 - 05h34

Lou Reed canta poesia das metrópoles em São Paulo

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SYLVIA COLOMBO, editora-adjunta da Ilustrada

Por que ouvir mais uma vez a voz serena e rouca de Lou Reed, celebrizada há mais de 30 anos? Por que acompanhar de novo os acordes repetitivos, quase monótonos, de muitas de suas antológicas canções? Por que a sua postura, tão transformadora nos anos 60 e 70, ainda incomoda?

As respostas podem não estar em seu mais recente, e pouco inspirado, álbum ("Ecstasy", lançado aqui neste ano pela Warner). Mas podem ser encontradas em suas letras, luminosas e atuais; em seus personagens, figuras que representam um submundo que continua vivo nas ruas sujas das grandes cidades; em seu questionamento sobre o tempo -esse, sim, seu principal assunto.

Lou Reed, que revolucionou o rock com o Velvet Underground no fim dos anos 60 e consolidou uma postura ao mesmo tempo contemplativa e ácida nos 70 e 80, está de volta para uma apresentação única em São Paulo, no dia 14 de novembro, no Credicard Hall. E, por mais que já se tenha visto esse filme, sua mensagem ainda merece ser ouvida novamente.

Em entrevista à Folha, sem disfarçar seu aborrecimento por ter de atender jornalistas, Lou Reed catimbou, jogou as perguntas de volta e ainda fantasiou, para ganhar tempo, que alguém estaria interceptando a ligação.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista, por telefone, de Buenos Aires, onde faz apresentações antes de vir ao Brasil.

Folha - Você é um poeta do submundo das grandes cidades, e Nova York é sua maior fonte de inspiração. Qual é sua opinião sobre as grandes cidades latino-americanas que conheceu, como Buenos Aires, Rio de Janeiro e São Paulo?
Lou Reed -
Eu não as conheço o suficiente para responder. Preciso ir aos lugares secretos, obscuros, para formar uma opinião sobre uma cidade. Mas acho que você e as pessoas que vivem aí podem me dizer. Eu gostaria de saber. Sou um visitante. Sim, já estive aí. Mas não foi o suficiente. Você pode me educar sobre isso, não?

Folha - Há uma música ("Modern Dance") em seu novo CD em que você fala de vários lugares ao redor do mundo. Nova York te cansou?
Reed -
Falo desses lugares com muito senso de humor e não tem nada a ver com globalização, essas coisas. Tem a ver com pessoas. Tem a ver com a idéia de deixar Nova York. A cidade não me cansou, mas é uma realidade dos que vivem lá que é uma boa idéia deixar Nova York.
Você ouviu isso?

Folha - Isso o quê?
Reed -
Um barulho. Alguém está ouvindo a nossa conversa.

Folha - Não ouço nada, desculpe. Podemos prosseguir?
Reed -
Tá bom. De onde você está falando?

Folha - Estou em São Paulo.
Reed -
Há muita pobreza aí, não? Andei lendo que a cidade tem sérios problemas sociais, uma área muito pobre. Por quê?

Folha - Não é muito fácil explicar, mas qual sua opinião sobre o que leu a respeito de São Paulo?
Reed -
Bom, parece que há um problema econômico muito grande, não é? Há inflação, certo? A economia está à beira do colapso? Acho que é um problema muito grande.

Folha - Você disse que gostaria de visitar museus aqui. Está interessado na cultura brasileira?
Reed -
Sim. Estou interessado na cultura brasileira. Mas... quem mais está no telefone? Estou ouvindo o barulho de novo.

Folha - Não há mais ninguém. Você ouviu algo?
Reed -
Sim, alguém mais está na linha. Você não ouviu uma voz? Você está brincando. Parece alguém com um celular.

Folha - Não, não ouvi nada. Deixa eu fazer outra pergunta?
Reed -
Tá bom, pode continuar.

Folha - Estávamos falando sobre sua visita a museus no Brasil. O que você quer ver?
Reed -
Quero ver a cultura antiga do Brasil. Velhas pinturas, velha arquitetura. Porque eu adoro conhecer as raízes de uma cultura.

Folha - Eu nasci no ano em que você lançou "Transformer" (1972), e sua música ainda é atual e influente. Você algum dia imaginou que sua obra fosse ter tal dimensão, que você ainda seria entrevistado sobre ela tanto tempo depois?
Reed -
Não, nunca pensei, nem nos meus pensamentos mais selvagens. Sou muito agradecido. Acho que sou um homem de muita sorte.

Folha - Qual é o seu melhor álbum?
Reed -
Entre os que fiz, é o mais recente ("Ecstasy"). Mas o melhor mesmo ainda está por vir. Será o próximo. Se você pensa apenas nos hits, particularmente, vai se voltar aos que eu gravei nos anos 70. Mas não é uma forma de avaliar qual é o melhor álbum. O melhor é este, de agora.

Folha - Na última vez em que tocou em São Paulo, em 96, você fez dois shows diferentes. Um mais intimista e outro mais dançante. Como vai ser desta vez?
Reed -
Eu não pensei nisso ainda. Mas sei que será alto. Terá velhas canções e o repertório de "Ecstasy". Um pouco disso, um pouco daquilo. Será surpresa.

Folha - Músicas antigas costumam ganhar um tratamento novo quando você as interpreta ao vivo. Isso vai acontecer de novo?
Reed -
É preciso diferenciar o momento em que se grava. Quando se faz um disco, o resultado é único, só poderia ser feito naquele dia, naquela hora. A razão pela qual eu improviso ou mudo as características de músicas antigas é porque nunca tento tocar exatamente como nos discos.

Folha - No álbum "Set the Twilight Reeling", você gravou uma belíssima canção ("The Finish Line") em homenagem ao guitarrista Sterling Morrison (um dos fundadores do Velvet, morto em 94). Era também uma música sobre o tempo. Você pensa constantemente sobre o tempo e sobre o fim?
Reed -
Nunca penso no fim. Nessa música, eu estava escrevendo apenas para Sterling. Não estava pensando em mim. Sobre o tempo eu estou escrevendo o tempo todo. Sobre o fim, não. Mas agora é o fim, o fim da nossa entrevista. Desculpe, mas eu tenho que acabar. O homem da gravadora está aqui atrás.
 

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