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06/06/2006
-
10h29
SILVANA ARANTES
da Folha de S.Paulo
Por pouco, o cantor e compositor Hyldon não realiza seu sonho: "Queria que todo mundo conhecesse minha música e que ninguém me conhecesse". Autor de "Na Rua, na Chuva, na Fazenda" e "As Dores do Mundo", entre outros hits do repertório romântico brasileiro, Hyldon viu suas músicas continuarem sendo sucesso, enquanto ele submergia em Teresópolis, na serra fluminense e bem longe dos palcos.
Era o início da década de 90. "O mercado estava muito ruim, e eu queria me isolar, me repensar", diz. O retiro durou quase dez anos, nos quais ele apoiou o coral da igreja local e gravou um disco para bebês. "Para dar jeito na música, tem que começar do berço", afirma. Hyldon foi "redescoberto" pelo cinema, quando sua canção mais popular, a que celebra a hipótese de um amor numa casinha de sapê, foi moldura para uma cena de "Cidade de Deus" (Fernando Meirelles).
Reconciliado com o Rio de Janeiro e com os palcos, Hyldon prossegue o casamento com o cinema. Hoje, ele faz show no Na Mata Café, em São Paulo, para lançar o clipe de "Na Sombra de uma Árvore". Dirigido pela cineasta Tata Amaral, o clipe é aperitivo do longa inédito "Antonia", que tem a música de Hyldon na trilha sonora.
Pocket show
Nesta noite, Hyldon é convidado da banda Grooveria. "Farei um pocket show." O repertório não terá inéditas, embora ele siga "compondo sempre". Com o paulista Renato Dias, por exemplo, o músico acaba de fazer "Tobayara Pysycaba", que em tupi quer dizer "a captura do inimigo", conta.
O enfoque do show em velhos sucessos é uma rendição de Hyldon a uma evidência que ele nem sempre quis admitir: "É muito chato ir a um show e ficar ouvindo música inédita". Ele, porém, acha muito chato tocar sempre as mesmas músicas. A solução foi montar uma banda de 12 integrantes (teclados, guitarras, bateria, baixo, sax, trompete, trombone, percussão e vocais) e abrir espaço para a improvisação. Mas sem exageros, dado seu histórico de crítico do improviso.
Quando preparava o LP (nos anos 70, antes da era do CD) "Na Rua, na Chuva, na Fazenda", Hyldon, 55, quis mandar um recado "para os caras que só queriam entortar [os sons]".
Jazz
Compôs então "Cuidado para Não Virar Jazz", música sem letra, mas cujo título esbarrou no crivo da censura. Encrencas com a censura eram uma nota muito fora do lugar na carreira de Hyldon. Assumidamente romântico --"meu engajamento é com o ser humano"--, ele estava habituado a "pagar o preço de ser chamado de alienado, enquanto o Geraldo Vandré e o Chico [Buarque] faziam as músicas engajadas".
Resultado: não quis nem saber de ir a Brasília se explicar e abriu mão de ter no disco a faixa "Cuidado para Não Virar Jazz". Hyldon diz que, "por ignorância da polícia", havia sido "detido para averiguações duas vezes" e não tinha a menor intenção de engordar a lista.
A primeira detenção, aos 14 anos, ocorreu na Bahia, onde nasceu e foi batizado Hyldon "graças à criatividade baiana" de sua mãe, dona Ildonete. "Outro dia olhei na internet e descobri que existe um hotel em Belfast e um dog alemão com o meu nome", conta.
A segunda dura da polícia alcançou Hyldon muitos anos mais tarde, em Teófilo Otoni (MG), onde ele e o compositor Cassiano faziam show e terminaram sendo considerados "suspeitos". Passado o tempo da tríade notável da black music brasileira --que ele formava com Cassiano e Tim Maia--, Hyldon hoje cultiva amigos em diversas vertentes sonoras e se diverte com o status de ídolo de rappers e adjacências. "Os brutos também amam", afirma.
Passado também o tempo da pujança das gravadoras --"Até o meu porteiro já gravou um CD de forró", diz--, Hyldon sugere uma fórmula para revigorar o mercado musical: "É preciso acabar com o jabá [pagamento para execução em rádio]. Deviam começar fazendo uma CPI das gravadoras, já que, antes de investigar o aliciado, é preciso investigar o aliciador".
Show com Hyldon e Grooveria
Quando: hoje, às 23h
Onde: Na Mata Café (r. da Mata, 70, SP, tel. 0/xx/11 3060-9010)
Quanto: R$ 20 (para homens) e R$ 10 (para mulheres)
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da Folha de S.Paulo
Por pouco, o cantor e compositor Hyldon não realiza seu sonho: "Queria que todo mundo conhecesse minha música e que ninguém me conhecesse". Autor de "Na Rua, na Chuva, na Fazenda" e "As Dores do Mundo", entre outros hits do repertório romântico brasileiro, Hyldon viu suas músicas continuarem sendo sucesso, enquanto ele submergia em Teresópolis, na serra fluminense e bem longe dos palcos.
Era o início da década de 90. "O mercado estava muito ruim, e eu queria me isolar, me repensar", diz. O retiro durou quase dez anos, nos quais ele apoiou o coral da igreja local e gravou um disco para bebês. "Para dar jeito na música, tem que começar do berço", afirma. Hyldon foi "redescoberto" pelo cinema, quando sua canção mais popular, a que celebra a hipótese de um amor numa casinha de sapê, foi moldura para uma cena de "Cidade de Deus" (Fernando Meirelles).
Reconciliado com o Rio de Janeiro e com os palcos, Hyldon prossegue o casamento com o cinema. Hoje, ele faz show no Na Mata Café, em São Paulo, para lançar o clipe de "Na Sombra de uma Árvore". Dirigido pela cineasta Tata Amaral, o clipe é aperitivo do longa inédito "Antonia", que tem a música de Hyldon na trilha sonora.
Pocket show
Nesta noite, Hyldon é convidado da banda Grooveria. "Farei um pocket show." O repertório não terá inéditas, embora ele siga "compondo sempre". Com o paulista Renato Dias, por exemplo, o músico acaba de fazer "Tobayara Pysycaba", que em tupi quer dizer "a captura do inimigo", conta.
O enfoque do show em velhos sucessos é uma rendição de Hyldon a uma evidência que ele nem sempre quis admitir: "É muito chato ir a um show e ficar ouvindo música inédita". Ele, porém, acha muito chato tocar sempre as mesmas músicas. A solução foi montar uma banda de 12 integrantes (teclados, guitarras, bateria, baixo, sax, trompete, trombone, percussão e vocais) e abrir espaço para a improvisação. Mas sem exageros, dado seu histórico de crítico do improviso.
Quando preparava o LP (nos anos 70, antes da era do CD) "Na Rua, na Chuva, na Fazenda", Hyldon, 55, quis mandar um recado "para os caras que só queriam entortar [os sons]".
Jazz
Compôs então "Cuidado para Não Virar Jazz", música sem letra, mas cujo título esbarrou no crivo da censura. Encrencas com a censura eram uma nota muito fora do lugar na carreira de Hyldon. Assumidamente romântico --"meu engajamento é com o ser humano"--, ele estava habituado a "pagar o preço de ser chamado de alienado, enquanto o Geraldo Vandré e o Chico [Buarque] faziam as músicas engajadas".
Resultado: não quis nem saber de ir a Brasília se explicar e abriu mão de ter no disco a faixa "Cuidado para Não Virar Jazz". Hyldon diz que, "por ignorância da polícia", havia sido "detido para averiguações duas vezes" e não tinha a menor intenção de engordar a lista.
A primeira detenção, aos 14 anos, ocorreu na Bahia, onde nasceu e foi batizado Hyldon "graças à criatividade baiana" de sua mãe, dona Ildonete. "Outro dia olhei na internet e descobri que existe um hotel em Belfast e um dog alemão com o meu nome", conta.
A segunda dura da polícia alcançou Hyldon muitos anos mais tarde, em Teófilo Otoni (MG), onde ele e o compositor Cassiano faziam show e terminaram sendo considerados "suspeitos". Passado o tempo da tríade notável da black music brasileira --que ele formava com Cassiano e Tim Maia--, Hyldon hoje cultiva amigos em diversas vertentes sonoras e se diverte com o status de ídolo de rappers e adjacências. "Os brutos também amam", afirma.
Passado também o tempo da pujança das gravadoras --"Até o meu porteiro já gravou um CD de forró", diz--, Hyldon sugere uma fórmula para revigorar o mercado musical: "É preciso acabar com o jabá [pagamento para execução em rádio]. Deviam começar fazendo uma CPI das gravadoras, já que, antes de investigar o aliciado, é preciso investigar o aliciador".
Show com Hyldon e Grooveria
Quando: hoje, às 23h
Onde: Na Mata Café (r. da Mata, 70, SP, tel. 0/xx/11 3060-9010)
Quanto: R$ 20 (para homens) e R$ 10 (para mulheres)
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