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11/06/2006 - 00h09

MV Bill conclui trilogia "Falcão" e mostra RPB em novo trabalho

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MARY PERSIA
da Folha Online

Sim, é de protesto. Mas é mais do que isso. O novo CD do rapper MV Bill, "Falcão - O Bagulho É Doido" (Chapa Preta/Universal) fecha a trilogia iniciada com o documentário e o livro "Falcão - Meninos do Tráfico" --para o tema dedica duas faixas--, mas não se limita a afinar e afiar a rima. Se o chamariz é o discurso, o disco "pega" pela música (batidas, samplers, instrumentação e afins), que segue a corrente do "rap popular brasileiro" (RPB).

"[O RPB] Não é um movimento, mas uma movimentação. O Brasil, a exemplo de outros países, precisava identificar a sua cultura ao rap que é feito aqui", explica MV Bill, que no novo trabalho traz Sandra de Sá ("Olhos Coloridos"), Caetano Veloso ("Qualquer Coisa") e Vanusa ("Cinema Mudo") em samplers, além do samba-rock "Minha Flecha na Sua Mira (Me Leva)". "A música brasileira não deve ser identificada somente através do samba. Esse é somente um dos vários caminhos que ela segue."

Reprodução
Disco de MV Bill traz "rap popular brasileiro"
Disco de MV Bill traz "rap popular brasileiro"
No disco anterior, "Declaração de Guerra" (2002), uma fórmula parecida já trazia samplers de Hyldon e Djavan e o samba-rock "Marginal Menestrel". No mesmo sentido de continuidade, se o rapper abusou do funk/soul retrô em "A Noite" ("Traficando informação", de 1999), agora traz "Junto e Misturado" (com participação da irmã Kmila) e "Enquanto Eu Posso" (com Hannah Lima) para as pistas.

"Quanto mais discos e pesquisas feitos, mais autenticidade o rap brasileiro vai ter. O que fizemos no disco passado e nesse são só contribuições", diz ele, que prefere não citar nomes de outros rappers que seguem o caminho do RPB. "É complicado dizer nomes. Tem muita gente desconhecida. No Ceará estão procurando colocar som de lá na música deles, em Pernambuco também. O disco da Nega Gizza [irmã do rapper] também vai trazer isso. E outros já fizeram no passado."

Além da "brasilidade", o trabalho de Bill se destaca de boa parte das produções do rap nacional por conta da introdução de elementos orgânicos --algo visto há anos no exterior, mas que ainda soa novo por aqui. Sem se limitar ao sampler, o rapper aposta na fusão de instrumentos, que chegam a dominar as faixas "Minha Flecha" e o rap-rock-reggae "Não Acredito".

"Iniciamos isso [o uso de instrumentos] em 1999, em meio à crítica de parte do hip hop que prefere manter a raiz com DJ e MC --que é um formato legal também, usamos nas nossas apresentações. Mas confesso que me sinto mais seduzido quando o rap, que nasceu de uma mistura, se mistura a outras coisas."

Os shows desse novo trabalho começam no Rio, no final de julho. A agenda ainda não está fechada, mas naturalmente São Paulo, berço do hip hop nacional, está no roteiro.

"Falcão"

A faixa-título do disco traz as frases que, vindas de um adolescente, chocaram muitos espectadores do "Fantástico" ("Se eu morrer vem outro, ou melhor, ou pior. [...] Nessa vida não dá pra sonhar, não. [...] É muito esculacho nessa vida"). Rap de batida profunda, "O Bagulho É Doido" traz a rima seca que serve à crítica: "Seu vício é que me mata/ Seu vício me sustenta/ Antes de abrir a boca pra falar demais/ Não se esqueça: Meu mundo você é quem faz".

O primeiro clipe do disco é justamente dessa faixa. Foi gravado na Cufa (Central Única das Favelas) do Ceará por jovens de duas comunidades, Quadra e Lagamar, que participaram de um curso de audiovisual promovido pela entidade. As imagens estão em edição na Cufa do Rio de Janeiro. O segundo clipe, "O Preto em Movimento" (que traz o sampler de "Olhos Coloridos), será produzido pela gravadora.

Formado o tripé, porém, o rapper diz que o projeto "Falcão" ainda não resultou em benefícios para as comunidades carentes e para as ações da Cufa. "Por enquanto, [não há] nada além do que a gente já faz, é só a nossa batalha mesmo", diz ele. Então, MV Bill tem esperança de quê? "A esperança que eu tenho é de que isso seja discutido e resolvido. Ao menos, que haja mobilização das pessoas sobre esse assunto. Se tenho você me entrevistando e fazendo essa pergunta, já é alguma coisa que está acontecendo." Como dizem: o barato é louco e o processo é lento.

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