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30/06/2006
-
10h58
DIÓGENEZ MUNIZ
da Folha Online
O segredo para se manter na TV com a mesma fórmula por 16 anos é simples: a falta de vergonha de seu público. A opinião é do apresentador Serginho Groisman, para quem a coragem de sua platéia em cutucar figuras públicas com perguntas "desencanadas" é o maior chamariz de seus programas desde os anos 90.
Famoso pelo bordão "Fala, garoto!", Groisman completou 56 anos nesta quinta-feira (29), em um "Altas Horas" especial. Apesar dos bons índices de audiência, ele deixou claro que um ótimo presente de aniversário por parte da Globo seria a reorganização de seu horário na grade. "O programa está indo muito tarde", diz ele, comparando a atração com uma rave (festas que começam de madrugada e terminam de dia).
Em entrevista à Folha Online, o apresentador comentou ainda sua experiência no teatro com a peça "Asfaltaram a Terra", dirigida por Gerald Thomas, e a adaptação pela qual precisou passar quando entrou na Globo.
Groisman começou a carreira televisiva na década de 80, apresentando o extinto "TV Mix", na TV Gazeta. De lá foi para a Cultura fazer o "Matéria Prima", passando ainda pelo SBT, com o "Programa Livre", até ir para a Globo, em 1999.
Folha Online - Como tem sido sua experiência no teatro?
Serginho Groisman - Nós recomeçamos agora, na próxima terça-feira, no Sesc Ipiranga. Vamos nos apresentar às terças e quartas no mês de julho. Depois a peça viaja para Santo André, Santos, Araraquara e São Carlos. É a primeira vez que faço teatro, mas não estou com frio na barriga. Tive, mas já passou. Aliás, eu consegui superar isso com uma coisa infeliz na minha vida, que foi a morte da minha mãe (19 de abril), dez dias antes da estréia da peça. Fiquei todos os dias seguintes sem ensaiar, mas resolvi ir à estréia. Com o tempo, a vontade de fazer foi crescendo, fui pegando gosto.
Folha Online - Já pegou gosto a ponto de trocar a TV pelo teatro?
Groisman - Não, espero não largar a televisão. Adoro fazer TV e tenho muito tempo nela ainda. E o bom desse estilo de programa, que faço há 16 anos, é que eu vou produzindo conforme as coisas vão acontecendo. Nós experimentamos muito.
Folha Online - Por que você acha que há 16 anos continua no ar com a mesma fórmula?
Groisman - Porque as pessoas que fazem as perguntas no meu programa, os jovens, não têm compromisso com editor, com fonte, com família. Estão numa fase em que levantam e perguntam para o [ex-presidente] Collor o que ele achou de ter roubado o país. Perguntas que todo mundo gostaria de fazer, mas às vezes não pode.
Folha Online - Houve mudanças no seu projeto de programa desde que você veio para a Globo, em 1999?
Groisman - Olha, mudou muita coisa. Quando você tem mais condições de trabalho, tem mais condições de criar outras coisas para a sua atração. A tecnologia traz a possibilidade de criar.
Folha Online - Mas ela [tecnologia] também não cria limitações em ter de realizar tudo em um único padrão?
Groisman - Não, não me limita. Isso é uma coisa que, quando eu vim para cá [Globo], eles já sabiam que não iria mudar. Nem precisei comentar, porque eu não trabalho sem liberdade. Não conseguiria fazer o programa com perguntas marcadas ou entrevistados censurados. Mas tem uma coisa coisa que eu acho que poderia melhorar, que é o horário do programa. Gostaria de trocar, que tivesse numa faixa que fosse entre meia-noite e meia e uma da manhã. Mas hoje ele já está mais tarde. Uma vez começou às 2h20 e acabou às 5h20. Aí já não dá, é um exagero. Já é uma rave, e não um programa.
Folha Online - Você acha que os jovens que começaram a assistir aos seus programas na década de 90, e que hoje não são mais tão jovens, continuam te acompanhando?
Groisman - Acho, porque eles passaram de freqüentadores de auditório para espectadores. O programa não é feito para jovens. Não é um programa só sobre espinhas, gravidez na adolescência e rock. A gente trabalha com coisas externas também, como política. É um programa feito sob o ponto de vista jovem, mas com uma temática mais ampla. Na medição de audiência nós percebemos tanto jovens quanto gente de idade. Não somos obcecados pelo jovem.
Folha Online - Houve algum tipo de adaptação das suas primeiras emissoras para Globo?
Groisman - Rolaram modificações, mas a liberdade se mantém. Sou eu que dirijo o programa, por exemplo. A gente muda quadro, muda cenário, mas não muda coisa básica, como a iluminação que é igual para todos, seja convidado, seja platéia. Outra coisa da qual não abrimos mão é de as pessoas se expressarem. É claro que às vezes a gente cai em redundância. Eu nunca sei quem vai falar algo inteligente.
Folha Online - O que você acha da Globo utilizar figuras com perfil mais "cidadão", como o seu, para fazer marketing social da empresa?
Groisman - Quando fui da Cultura para o SBT, fui com a benção do meu canal anterior. Eles falaram assim: vai falar com mais gente, porque nós temos um público restrito. Se isso serve de marketing para empresa, eu não sei, mas acredito que não exista essa estratégia. O que eu acho inadmissível é que haja apresentadores sem conexão alguma com o dia-a-dia. As pessoas acham que é só apresentar? Se você traz um rapper, tem que saber dos acontecimentos da periferia, por exemplo. Como comecei como jornalista, até hoje leio muito. Acho o fim da picada as pessoas estarem na TV sem ler.
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da Folha Online
O segredo para se manter na TV com a mesma fórmula por 16 anos é simples: a falta de vergonha de seu público. A opinião é do apresentador Serginho Groisman, para quem a coragem de sua platéia em cutucar figuras públicas com perguntas "desencanadas" é o maior chamariz de seus programas desde os anos 90.
Famoso pelo bordão "Fala, garoto!", Groisman completou 56 anos nesta quinta-feira (29), em um "Altas Horas" especial. Apesar dos bons índices de audiência, ele deixou claro que um ótimo presente de aniversário por parte da Globo seria a reorganização de seu horário na grade. "O programa está indo muito tarde", diz ele, comparando a atração com uma rave (festas que começam de madrugada e terminam de dia).
Em entrevista à Folha Online, o apresentador comentou ainda sua experiência no teatro com a peça "Asfaltaram a Terra", dirigida por Gerald Thomas, e a adaptação pela qual precisou passar quando entrou na Globo.
Divulgação |
Serginho Groisman completou 56 nesta quinta-feira (29), em um "Altas Horas" especial |
Folha Online - Como tem sido sua experiência no teatro?
Serginho Groisman - Nós recomeçamos agora, na próxima terça-feira, no Sesc Ipiranga. Vamos nos apresentar às terças e quartas no mês de julho. Depois a peça viaja para Santo André, Santos, Araraquara e São Carlos. É a primeira vez que faço teatro, mas não estou com frio na barriga. Tive, mas já passou. Aliás, eu consegui superar isso com uma coisa infeliz na minha vida, que foi a morte da minha mãe (19 de abril), dez dias antes da estréia da peça. Fiquei todos os dias seguintes sem ensaiar, mas resolvi ir à estréia. Com o tempo, a vontade de fazer foi crescendo, fui pegando gosto.
Folha Online - Já pegou gosto a ponto de trocar a TV pelo teatro?
Groisman - Não, espero não largar a televisão. Adoro fazer TV e tenho muito tempo nela ainda. E o bom desse estilo de programa, que faço há 16 anos, é que eu vou produzindo conforme as coisas vão acontecendo. Nós experimentamos muito.
Folha Online - Por que você acha que há 16 anos continua no ar com a mesma fórmula?
Groisman - Porque as pessoas que fazem as perguntas no meu programa, os jovens, não têm compromisso com editor, com fonte, com família. Estão numa fase em que levantam e perguntam para o [ex-presidente] Collor o que ele achou de ter roubado o país. Perguntas que todo mundo gostaria de fazer, mas às vezes não pode.
Divulgação |
Paulo Miklos e o grupo Paralamas do Sucesso e Skank foram convidados |
Groisman - Olha, mudou muita coisa. Quando você tem mais condições de trabalho, tem mais condições de criar outras coisas para a sua atração. A tecnologia traz a possibilidade de criar.
Folha Online - Mas ela [tecnologia] também não cria limitações em ter de realizar tudo em um único padrão?
Groisman - Não, não me limita. Isso é uma coisa que, quando eu vim para cá [Globo], eles já sabiam que não iria mudar. Nem precisei comentar, porque eu não trabalho sem liberdade. Não conseguiria fazer o programa com perguntas marcadas ou entrevistados censurados. Mas tem uma coisa coisa que eu acho que poderia melhorar, que é o horário do programa. Gostaria de trocar, que tivesse numa faixa que fosse entre meia-noite e meia e uma da manhã. Mas hoje ele já está mais tarde. Uma vez começou às 2h20 e acabou às 5h20. Aí já não dá, é um exagero. Já é uma rave, e não um programa.
Folha Online - Você acha que os jovens que começaram a assistir aos seus programas na década de 90, e que hoje não são mais tão jovens, continuam te acompanhando?
Groisman - Acho, porque eles passaram de freqüentadores de auditório para espectadores. O programa não é feito para jovens. Não é um programa só sobre espinhas, gravidez na adolescência e rock. A gente trabalha com coisas externas também, como política. É um programa feito sob o ponto de vista jovem, mas com uma temática mais ampla. Na medição de audiência nós percebemos tanto jovens quanto gente de idade. Não somos obcecados pelo jovem.
Folha Online - Houve algum tipo de adaptação das suas primeiras emissoras para Globo?
Groisman - Rolaram modificações, mas a liberdade se mantém. Sou eu que dirijo o programa, por exemplo. A gente muda quadro, muda cenário, mas não muda coisa básica, como a iluminação que é igual para todos, seja convidado, seja platéia. Outra coisa da qual não abrimos mão é de as pessoas se expressarem. É claro que às vezes a gente cai em redundância. Eu nunca sei quem vai falar algo inteligente.
Folha Online - O que você acha da Globo utilizar figuras com perfil mais "cidadão", como o seu, para fazer marketing social da empresa?
Groisman - Quando fui da Cultura para o SBT, fui com a benção do meu canal anterior. Eles falaram assim: vai falar com mais gente, porque nós temos um público restrito. Se isso serve de marketing para empresa, eu não sei, mas acredito que não exista essa estratégia. O que eu acho inadmissível é que haja apresentadores sem conexão alguma com o dia-a-dia. As pessoas acham que é só apresentar? Se você traz um rapper, tem que saber dos acontecimentos da periferia, por exemplo. Como comecei como jornalista, até hoje leio muito. Acho o fim da picada as pessoas estarem na TV sem ler.
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