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01/07/2006
-
09h00
EDUARDO SIMÕES
da Folha de S.Paulo
Em 1997, a professora Mary Kay Letourneau, 34, foi condenada a sete anos e meio de prisão por manter relações sexuais com o aluno Fualaau, então com 12 anos. Inspirada no caso, a jornalista e escritora inglesa Zoë Heller escreveu "Anotações sobre um Escândalo", romance que foi finalista do Booker Prize em 2004. "Gostei da idéia de examinar um relacionamento transgressor, o modo como uma pessoa se encontra numa situação romântica, que é considerada imoral e até mesmo repugnante por tantas pessoas", diz a autora em entrevista à Folha.
Letourneau cumpriu sete anos e casou-se com Fualaau, com quem teve duas filhas. No livro de Heller, seu duplo ficcional, Sheba, também professora e balzaquiana, não tem um final feliz para seu envolvimento com um aluno de 15, Connolly. O affair e conseqüente crise são relatados por uma colega de Sheba, Barbara, solitária mulher de seus 60 anos, ao mesmo tempo estopim do escândalo e abrigo da professora. É a partir daí que a ficção se divorcia, em parte, da realidade:
"O livro em geral é promovido como a história de um escândalo sexual. Seria mais apropriado descrevê-lo como uma história sobre a dor de se apaixonar pela pessoa errada", ressalva Heller. "O relacionamento entre Barbara e Sheba é uma síntese exemplar deste tema, como é o relacionamento de Sheba com Connolly."
Heller salienta que o affair de Sheba com o aluno não é uma apologia ao sexo pedófilo, ainda que sua narrativa inspire alguma solidariedade em relação às transgressões sexuais que descreve. "O livro sugere que fazer julgamentos morais sobre relacionamentos entre adolescentes e adultos pode ser complicado. É precipitado apontar quem tem o verdadeiro poder em relações assim."
A autora assume que o "escândalo" funciona como um chamariz em seu livro, um enredo com viés "devasso" que permite à sua verdadeira protagonista, Barbara, revelar sua natureza estranha e pouco confiável. "A uma certa altura o leitor deve ter uma sensação desconfortável de como a verdade está sendo filtrada através da excêntrica perspectiva de Barbara", sugere.
É aí que entra em cena a faceta persecutória de Barbara em relação a Sheba, uma relação que lembra, em parte, a trama de "O Talentoso Ripley". Como no romance de Patricia Highsmith, o leitor se vê dividido, ora desprezando, ora sentindo pena das personagens.
"O fato de que elas inspiram os dois sentimentos é um sinal de sucesso para mim. Fico decepcionada quando alguns leitores não se solidarizam com Barbara. Eu pessoalmente tenho muito carinho por ela. Barbara é uma mulher muito solitária, amarga, rude e bem maluca. Mas que também deveria soar engraçada."
Sensorial x sensual
Em "Anotações sobre um Escândalo", o lado "devasso" ou sexual do enredo aparece em descrições raramente gráficas. Cheiros, como o suor de Connolly ou seu hálito, atribuem aos sentidos o papel da sensualidade. "Acho mais fácil escrever sobre o odor ou gosto das coisas do que sobre sua aparência", justifica Heller, que também destaca a importância do papel das diferenças sociais de seus personagens.
"A mim me interessava muito descrever as fantasias e ilusões que as pessoas de diferentes classes têm umas das outras. Como o fascínio de Barbara pela família de classe alta de Sheba. E as noções superficiais de Sheba do que constitui a cultura da classe proletária."
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da Folha de S.Paulo
Em 1997, a professora Mary Kay Letourneau, 34, foi condenada a sete anos e meio de prisão por manter relações sexuais com o aluno Fualaau, então com 12 anos. Inspirada no caso, a jornalista e escritora inglesa Zoë Heller escreveu "Anotações sobre um Escândalo", romance que foi finalista do Booker Prize em 2004. "Gostei da idéia de examinar um relacionamento transgressor, o modo como uma pessoa se encontra numa situação romântica, que é considerada imoral e até mesmo repugnante por tantas pessoas", diz a autora em entrevista à Folha.
Letourneau cumpriu sete anos e casou-se com Fualaau, com quem teve duas filhas. No livro de Heller, seu duplo ficcional, Sheba, também professora e balzaquiana, não tem um final feliz para seu envolvimento com um aluno de 15, Connolly. O affair e conseqüente crise são relatados por uma colega de Sheba, Barbara, solitária mulher de seus 60 anos, ao mesmo tempo estopim do escândalo e abrigo da professora. É a partir daí que a ficção se divorcia, em parte, da realidade:
"O livro em geral é promovido como a história de um escândalo sexual. Seria mais apropriado descrevê-lo como uma história sobre a dor de se apaixonar pela pessoa errada", ressalva Heller. "O relacionamento entre Barbara e Sheba é uma síntese exemplar deste tema, como é o relacionamento de Sheba com Connolly."
Heller salienta que o affair de Sheba com o aluno não é uma apologia ao sexo pedófilo, ainda que sua narrativa inspire alguma solidariedade em relação às transgressões sexuais que descreve. "O livro sugere que fazer julgamentos morais sobre relacionamentos entre adolescentes e adultos pode ser complicado. É precipitado apontar quem tem o verdadeiro poder em relações assim."
A autora assume que o "escândalo" funciona como um chamariz em seu livro, um enredo com viés "devasso" que permite à sua verdadeira protagonista, Barbara, revelar sua natureza estranha e pouco confiável. "A uma certa altura o leitor deve ter uma sensação desconfortável de como a verdade está sendo filtrada através da excêntrica perspectiva de Barbara", sugere.
É aí que entra em cena a faceta persecutória de Barbara em relação a Sheba, uma relação que lembra, em parte, a trama de "O Talentoso Ripley". Como no romance de Patricia Highsmith, o leitor se vê dividido, ora desprezando, ora sentindo pena das personagens.
"O fato de que elas inspiram os dois sentimentos é um sinal de sucesso para mim. Fico decepcionada quando alguns leitores não se solidarizam com Barbara. Eu pessoalmente tenho muito carinho por ela. Barbara é uma mulher muito solitária, amarga, rude e bem maluca. Mas que também deveria soar engraçada."
Sensorial x sensual
Em "Anotações sobre um Escândalo", o lado "devasso" ou sexual do enredo aparece em descrições raramente gráficas. Cheiros, como o suor de Connolly ou seu hálito, atribuem aos sentidos o papel da sensualidade. "Acho mais fácil escrever sobre o odor ou gosto das coisas do que sobre sua aparência", justifica Heller, que também destaca a importância do papel das diferenças sociais de seus personagens.
"A mim me interessava muito descrever as fantasias e ilusões que as pessoas de diferentes classes têm umas das outras. Como o fascínio de Barbara pela família de classe alta de Sheba. E as noções superficiais de Sheba do que constitui a cultura da classe proletária."
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