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11/07/2006 - 10h21

Festival de Cinema Latino-Americano exibe filme sobre Allende

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SYLVIA COLOMBO
da Folha de S.Paulo

Toda vez que o cineasta chileno Patricio Guzmán vai à Europa atrás de patrocínio para uma nova produção, tem de ouvir a piada: "Lá vem aquele cara pedir mais dinheiro para fazer mais um filme sobre o Chile".

E o assunto, ao que tudo indica, está longe de se esgotar, como promete Guzmán, realizador de um dos mais importantes documentários latino-americanos (sobre o Chile, é claro), que narra, no calor dos acontecimentos, os momentos que precederam a queda do governo socialista de Salvador Allende. "A Batalha do Chile" (1975-1979), inclusive, serve de base para "Salvador Allende" (2004), filme que será exibido amanhã dentro do Festival de Cinema Latino-Americano, que acontece em São Paulo até o domingo, dia 16.

Para hoje, está programada a exibição do curta "Meu Julio Verne", em que Guzmán foge um pouco de seu assunto principal e vai atrás de pessoas que viveram aventuras baseadas nos livros de Verne.

De Paris, onde está, justamente, buscando recursos para um filme sobre o Chile dos dias de hoje, Guzmán, 65, conversou com a Folha, por telefone.

Disse que quer contar a história de um país que está, de novo, em busca da identidade. "Nos anos 50, tivemos a revolução social-cristã de Eduardo Frei, depois, o regime socialista de Allende e a ditadura militar. Essas experiências mudaram a sociedade, que precisa se encontrar novamente." Mas, por quê? Qual o sentido dessa busca? Guzmán explica: "Somos um país que não se sente latino-americano. A elite costuma dizer que o Chile é um grande país, mas que está num bairro muito ruim. É uma idéia horrível. É preciso mudar isso por meio de um diálogo com o passado. E o cinema pode ajudar."

Allende
Se você for assistir a apenas um filme de Guzmán neste festival, escolha "Salvador Allende". Trata-se de um documentário bem pessoal sobre o presidente socialista do Chile, que governou entre 1971 e 1973, quando um golpe militar pôs fim a sua gestão e à sua vida. Nele, imagens de época (muitas tiradas de "A Batalha do Chile") se misturam às do país hoje.

Guzmán entrevista amigos de infância de Allende e gente que conviveu com ele fora da esfera política. Como se pode esperar, esses relatos trazem à tona curiosidades sobre como era seu dia-a-dia e o que gostava de comer, mas também uma visão interessante sobre como os amigos interpretavam a sua trajetória política. "Seus amigos sempre foram muito leais e estiveram com ele até o fim, mas tinham uma visão crítica sobre suas opções. E hoje, por exemplo, não aceitam que as pessoas o considerem um marxista, e reforçam que Allende era contra a ditadura do proletariado e o partido único. Gostam de reforçar que era um homem democrático", diz.

Uma surpreendente entrevista com o embaixador norte-americano na época é o ponto alto do filme. Nela, ele conta, em detalhes, como os EUA realmente estimularam o golpe. "Foi surpreendente, porque geralmente norte-americanos nessas posições não falam nunca. Mas este estava magoado com Nixon e com Kissinger, por isso falou tanto."

E, aos que ainda perguntam a Guzmán porque continuar fazendo filmes sobre o Chile tendo Allende e o golpe militar como foco, a resposta é direta. "Porque se não filmássemos aquilo, ninguém poderia dizer que aconteceu. E porque foi um momento extraordinário em que a história se acelerou. E ainda há muito o que compreender sobre o que se passou."

Confira os destaques de hoje no Festival de Cinema Latino-Americano:

Memorial da América Latina
Sala 1
Às 16h: "Machuca", de Andrés Wood (Chile/Espanha/Inglaterra/França, 2004)
Sala 2
Às 17h: "Os Esquecidos", de Luís Buñuel (México, 1950)
Às 21h: "Madame Satã", de Karim Aïnouz (Brasil, 2002)
Sala 3
Às 18h30: "Meu Julio Verne", de Patricio Guzmán (Chile/França/Canadá/Alemanha, 2005)
Mini-auditório
Às 10h30: Debate "Novo Cinema Latino-Americano", com Edmundo Aray (Venezuela), Miguel Littin (Chile), Nelson Pereira dos Santos (Brasil), Octavio Getino (Argentina); com mediação de Sergio Muniz (Brasil)

Cinesesc
Às 17h: Viva Cuba", de Juan Carlos Cremata Malberti (Cuba/França, 2005)
Às 21h: "Separado", de Mario Handler (Uruguai, 2002)

Sala Cinemateca
Às 15h: "Tire Dié", de Fernando Birri (Argentina, 1960)

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