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10/11/2000 - 13h53

Leia bate-papo do O Rappa com leitores da Folha feito em 99

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da Folha de S.Paulo

A Folha promoveu, há um ano, um encontro de leitores da Folha com a banda carioca O Rappa.

Participaram do encontro Falcão (vocalista e guitarrista), Marcelo Yuka (baterista), Xandão (guitarrista), Marcelo Lobato (tecladista) e Lauro Farias (baixista).

Veja a seguir trechos do bate-papo, publicado na edição de 15 de novembro de 1999.

Priscila, 19 - Vocês concordam com a diminuição da idade penal para 14 anos?
Yuka
Acho uma atitude nazista. Num país onde o Estado não cuida de suas crianças, fazer isso vai deixar basicamente preto e pobre nas prisões.
Falcão - A gente trabalha com criança carente, damos oportunidade para a criança virar alguém. Botar o cara para conhecer um instrumento é uma oportunidade que se está dando. É como dar um livro, abrir uma academia para ele fazer boxe. Se eu não tivesse tido uma oportunidade, o caminho mais fácil teria sido botar a mão no cano. Agora é a gente que briga para que ninguém bote a mão no cano.

Carlos, 24 - Queria que vocês comentassem a religiosidade presente no novo CD.
Yuka-
Quando estamos está falando sobre diferentes entidades religiosas, não estamos fazendo apologia a nenhuma delas. Estamos fazendo apologia a uma esperteza negra, escrava, de ter conseguido adorar seus santos num país onde o que predominava era o catolicismo.

Débora, 20 - A música precisa de que para ter importância cultural?
Xandão -
Eu sou nordestino. Sempre soube que a cultura nordestina é muito forte. Mas acho que foi só nesta década que vi o jovem valorizando a cultura brasileira. Fomos tocar no Abril Pro Rock, e vi neguinho sentir orgulho da música pop do Brasil. Hoje a gente vê jovem falando sobre maracatu. Isso, sim, demonstra a importância da música.

Érico, 18 - Quais são as influências musicais de vocês e o que vocês acham dessa mulher que gastou uma grana pra fazer festa para o cachorro?
Lobato -
Talvez ela pudesse adotar uns seres humanos...
Yuka - Ela é ícone de uma classe que, no Rio de Janeiro, é conhecida como emergente. Eles se concentram basicamente num bairro. Tornaram-se ricos "milagrosamente" e se esqueceram das raízes. Quando a gente faz show lá, volta e meia tem que interromper por causa de algum "pit boy" que quer meter porrada em todo mundo. Sobre nossas influências? Todos nós gostamos de samba. O Lobatinho gosta mais de música africana e rock dos anos 70. O Lauro gosta de coisas do tipo Banda Black Rio, e o Falcão se amarra em rap e reggae.

Flávio, 16 - Na música "Minha Alma" vocês falam da "paz que eu não quero seguir". O que quer dizer isso?
Falcão -
É uma paz que tem que ser plural. Você não pode achar que, só porque estudou, fez faculdade, conseguiu tudo, você é diferente da rapaziada. Tem que estar bom pra mim e pra você, sacou? E, se você comprou seu carro importado com o seu trabalho honesto, deve andar nele na boa.
Yuka - A gente faz trabalho comunitário em algumas regiões violentas, e nunca aconteceu nada com a gente. O cara que manda no morro sabe o que a gente está indo fazer, qual é a nossa. A única coisa que pode proteger mesmo, muito mais que um alarme, uma grade, um cachorro, é a consideração. A consideração que você tem no seu prédio, na sua rua, no seu trabalho. É isso que as pessoas estão se esquecendo de ter.

Lauro, 26 - O que é Furto?
Yuka -
É uma grife que a gente tem, que vai começar a aparecer em breve. Significa Frente Urbana de Trabalhos Organizados.

Raquel, 26 - Vocês têm pretensão de levar o trabalho comunitário a outros Estados?
Yuka -
Estamos apoiando uma ONG chamada Fase, que capta recursos e distribui para ONGs que trabalham com crianças e adolescentes carentes. Foi uma maneira de a gente sair um pouco do universo do Rio de Janeiro. E é sempre bom frisar que a gente não criou nada. Os projetos que a gente apóia têm vida própria. No encarte do disco há inclusive uma conta bancária para quem quiser fazer doações (Bradesco - Botafogo, agência 227-5, conta 94996-5). Assim, podemos criar frentes de trabalho.

Luciana, 18 - Tem uma música no "Rappa Mundi" que fala sobre brancos e negros. É um protesto contra o racismo?
Yuka -
Acho que só teremos um convívio mais saudável quando o problema racial não for mais do negro, do branco, mas da sociedade. Não é mudar o mundo. Mas é preciso pensar o seguinte: eu não faço parte dessa putaria de racismo, não quero isso.

Leila, 25 - O que você acha do preço do CD nacional e da pirataria?
Falcão -
CD por R$ 25 não dá para comprar, né? E, se tem alguém ganhando dinheiro com isso, não é a gente. O que podemos fazer mesmo é música. A partir do momento em que você entrega o CD para a gravadora, já não tem controle sobre aquilo. A gente fez show em Foz do Iguaçu, passou a fronteira, e veio um cara vender CD do Rappa pra mim, por R$ 1.
Yuka - O que induz à pirataria é o preço do CD. A gravadora tem que baixar. Tem lojista que vende por R$ 25, e outros que vendem por R$ 18. O negócio é comprar de quem vende mais barato.
Lobato - O governo tem uma uma forma hipócrita de combater a pirataria. É engraçadinho o rolo compressor passando por cima dos CDs, mas só isso não resolve o problema.
 

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