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19/07/2006 - 10h39

Marília Pêra confessa "prazer" no fracasso do longa "Irma Vap"

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LAURA MATTOS
da Folha de S.Paulo

Marília Pêra, 63 anos, quase 60 de carreira, diz o que pensa. Confessou, nesta entrevista, ter sentido "um certo prazer" incontrolável com a fraca bilheteria de "Irma Vap", lançado neste ano por Carla Camurati.

Marília dirigiu o fenômeno teatral encenado durante 12 anos por Marco Nanini e Ney Latorraca e, à época, se desentendeu com os atores. Ficou fora do projeto do longa-metragem, não viu e não gostou.

Aca Carolina F/Folha Imagem
A atriz Marília Pêra, após gravação da novela "Cobras & Largartos", da Rede Globo
A atriz Marília Pêra, após gravação da novela "Cobras & Largartos", da Rede Globo
Reclamou também das perguntas da Folha. Queria falar sobre o musical "Marília Pêra Canta Carmen Miranda", que, após temporada de sucesso no Rio, ela apresentará em SP no próximo final de semana. E queria falar das músicas, não relacionar a patrulha ideológica que sofreu por ter apoiado Collor em 1989 com a que a "pequena notável" enfrentou ao voltar dos EUA ("disseram que eu voltei americanizada").

Não está nem aí mesmo para esse papo de patrulha, tanto que elogiou a cantora Wanessa Camargo, de quem dirigiu o último show, disse que acha Sandy e Júnior "maravilhosos", adora Zezé e Luciano. Inspirada neles, pretende fazer "2 Filhas de Pêra". O nome é brincadeira, mas o projeto é sério. Na TV, faz sucesso com Milu, de "Cobras & Lagartos", que, acusações de plágio à parte, começa a "bombar" no Ibope. E a personagem de Marília só não é melhor do que a perua que fez em "Brega & Chique". Abaixo, divirta-se com a atriz.

FOLHA - A sra. vê paralelo entre a patrulha ideológica que Carmen Miranda enfrentou quando voltou dos EUA ["disseram que eu voltei americanizada"] e a que a sra. sofreu em 1989 por ter apoiado Fernando Collor?

MARÍLIA PÊRA - Qualquer patrulha é semelhante, porque representa um ciúme doentio, uma inveja, um sentimento de poder. Quando a Carmen voltou ao Brasil, depois de ter feito sucesso nos EUA, recebeu vaia de algumas pessoas, porque teria se vendido aos americanos. Nessa história de patrulha, o melhor mesmo é quando o tempo passa. Em 1968, sofri uma patrulha violentíssima por ter participado de "Roda Viva" [de Chico Buarque, que era encenada quando o teatro foi invadido pelo Comando de Caça aos Comunistas], fui presa, espancada, posta na rua, perseguida. Demorou muito, até que veio a abertura política, e hoje você vê que não se podia se tratar as pessoas assim.

FOLHA - Na música "O Vento Levou", o espetáculo brinca com o mensalão ["Onde está o dinheiro? O Valério levou, o Delúbio levou?"]...

MARÍLIA - [interrompendo] Isso era do ensaio geral, mudou. E o [Maurício] Sherman [diretor] vai mudando conforme os acontecimentos políticos. Mas isso não é o principal. O principal são as músicas da Carmen.

FOLHA - Era só para aproveitar a conversa sobre a patrulha ideológica que a sra. sofreu, porque...

MARÍLIA - [interrompendo] Mas é sobre patrulha a matéria? Eu achei que era sobre o show da Carmen Miranda.

FOLHA - É sobre o show e outros assuntos, se a sra. não se importar.

MARÍLIA - É que você só está falando sobre patrulha.

FOLHA - Vamos mudar de assunto. A sra. completa 60 anos de carreira em 2007. Haverá comemoração?

MARÍLIA - Não, nem tem importância. Na verdade, há uma dúvida na família se entrei no palco em 1947 ou 48, com quatro ou cinco anos de idade. Mas, quando olho para trás, vejo que as coisas que vivo hoje representam um lucro. É raro chegar a essa idade contente, trabalhando bastante, com filhos realizados, mãe viva. Mas não pretendo comemorar os 60 anos. O que quero é tirar umas férias longas no ano que vem.

FOLHA - Em quase 60 anos de carreira, a sra. já se cansou de algo? Dar entrevistas, por exemplo?

MARÍLIA - Não, depende do entrevistador. Sempre temos o maior prazer em dar entrevistas quando o entrevistador é bom, informado, respeitoso, conhece seu trabalho, sua vida. O terrível seria se eu não tivesse de dar entrevista nenhuma. É bom poder continuar falando do trabalho, da vida e ter interesse de um jornal importante.

FOLHA - Acredita que a Milu de "Cobras & Lagartos" irá desbancar a Rafaela de "Brega & Chique"?

MARÍLIA - A Rafaela era mais frágil, a Milu toma mais atitude. Mas, de novela, essas são as personagens de que mais gosto.

FOLHA - Como a sra., que trabalhou em "Central do Brasil", dirigido por Walter Salles com roteiro de João Emanuel Carneiro, viu as denúncias de que o autor de "Cobras" plagiou personagens de filme do cineasta?

MARÍLIA - Adoro os dois. Como são pessoas tão talentosas, decidi que, em vez de comentar, vou esperar que se entendam. Deus queira, porque quero fazer outro roteiro do João Emanuel dirigido pelo Waltinho.

FOLHA - Como foi dirigir o show da cantora Wanessa Camargo?

MARÍLIA - Ela me procurou porque queria uma coisa mais teatral, do tipo de "Vitor ou Vitória" [musical da Broadway cuja versão nacional foi estrelada por Marília em 2001]. Nas roupas, eu me meti muito pouco, disse para ela usar aquilo com que se sentisse melhor. Pedi só que usasse um sapatinho que brilhasse. Fiz com ela os primeiros ensaios, depois entreguei para a minha irmã, Sandra Pêra, e retornei nos últimos.

FOLHA - O elogio de Caetano Veloso a Wanessa rendeu polêmica, assim como o apoio a Sandy. No seu caso, não houve alarde em torno da parceria. Como consegue ser discreta no mundo das celebridades?

MARÍLIA - Tenho uma vida discreta, sou cada vez mais calma e não quero desperdiçar tempo com o que não me acrescenta. O Chico Buarque também gravou com o Zezé Di Camargo e Luciano. Especialmente na música popular, não pode haver esse tipo de divisão, como antigamente, quando não podia haver guitarra na MPB.

FOLHA - Patrulha de novo [risos]! É como se Marília Pêra não pudesse dirigir Wanessa Camargo?

MARÍLIA - Já ouvi gente falar: "Ah, mas você deve ter cobrado uma fortuna!". Não, cobrei o mesmo que cobraria para trabalhar com qualquer pessoa. E ela tem uma voz muito bonita. Também sou fã, mas muito fã, da Sandy e do Junior, acho os dois maravilhosos. E fiquei fã da Wanessa ao conhecê-la mais de perto, adoro o Zezé & Luciano, gosto de Chitãozinho & Xororó. Há uns anos dirigi o show de Christian & Ralf. Não é muito o meu mundo, mas, quando paro e ouço, presto atenção nas vozes, na coisa apaixonada... E esse filme "2 Filhos de Francisco" mostra bem o quanto essas pessoas lutam. Falei para o [cineasta] Miguel Faria [Jr.] fazer "2 Filhas de Pêra", eu e a Sandra passando fome na infância. Fiquei tocada quando vi em "2 Filhos" o quanto eles lutaram para vencer e me identifiquei. Isso houve com a Carmen Miranda também. As pessoas patrulham porque não conhecem as histórias.

FOLHA - A sra. tem mesmo o projeto de fazer um filme sobre sua vida?

MARÍLIA - Um dia, quando parar de trabalhar tanto, quero juntar um autor, um roteirista para contar essa historinha.

FOLHA - A sra. viu "Irma Vap - O Retorno" [filme de Carla Camurati baseado no fenômeno teatral dirigido por Marília, que não participou da adaptação para o cinema]?

MARÍLIA - Não fui, não fui, não fui... Não tive vontade de ir... Não fui convidada para a estréia, e acho que não era para ser convidada mesmo, e não tive interesse de ir.

FOLHA - E, enquanto a peça foi sucesso estrondoso, o filme está com bilheteria fraca [247 mil pessoas] ...

MARÍLIA - É, eu... [risos] Eu te digo até que não pude controlar um certo prazer nisso. Assim de leve, porque quero ser uma pessoa do bem, civilizada e querer bem a todo mundo, mas me dá uma pontinha de vaidade pensar que a peça ficou 12 anos em cartaz e ter a certeza absoluta de que, se dois ótimos atores montassem de novo com a minha direção, seria sucesso de novo. E minha direção nem é assim tão criativa, Charles Ludlum [autor] é que é um gênio.

FOLHA - A peça pode voltar?

MARÍLIA - Não sei, porque os atores é que carregam aquilo, que teriam que decidir uma coisa dessas. Mas, se voltasse, evidentemente teria que ser com a minha direção. Não sei que atores teriam o fôlego para cento e tantas trocas de roupa. Se montarem com a minha direção, será o sonho do sonho.

MARÍLIA PÊRA CANTA CARMEN MIRANDA
Direção: Maurício Sherman
Quando: sexta (21) e sábado (22), às 22h; domingo (23), às 20h
Onde: Tom Brasil - Nações Unidas (r. Bragança Paulista, 1.281, SP)
Quanto: R$ 40 a R$ 100 (venda pelo 0/xx/11/2163-2000, www.tombr.com.br e www.ingressorapido.com.br)

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