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27/07/2006 - 15h36

"Miami Vice" recoloca cidade entre os destinos da moda

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RANDY NIEVES-RUIZ
da France Presse, em Miami

Estréia nesta sexta-feira, nos Estados Unidos, a adaptação para o cinema de "Miami Vice", a série, que nos anos 80, ajudou resgatar uma cidade que então estava mergulhada num verdadeiro caos.

Em 1984, quando o seriado estreou na TV americana, Miami era o retrato do "paraíso perdido" proclamado três anos antes pela revista "Time": um ninho de cocaína, crime e corrupção.

Ironicamente, foi a série sobre policiais combatendo o crime em Miami que fez a cidade reviver, mostrando seu lado obscuro, mas com elegância e glamour. Na tevê Sonny Cockett (Don Johnson) e Rico Tubbs (Philip Michael Thomas) desfilavam sua elegância em meio ao submundo e ambientes sórdidos.

Agora é a vez de Colin Farrell (como Sonny) e Jamie Foxx (o novo Rico) entrarem em ação nesta versão de Michael Mann ("Colateral", "Fogo contra Fogo"), ambientada na Miami dos dias atuais.

Não que as coisas tenham mudado muito desde 1984. Segundo o departamento Americano Antidrogas (DEA), a Flórida é o segundo estado mais violento do país, porta de entrada de drogas nos Estados Unidos e um dos maiores centros de lavagem de dinheiro.

No entanto, já não se registram mais as chacinas de antigamente, é possível caminhar com uma certa tranqüilidade por algumas áreas da cidade e Miami se tornou um centro turístico mundial --muito diferente de 1984, quando a cidade ainda era um caldeirão de crimes alimentado pela cocaína que provocava mais de 1.200 assassinatos, segundo dados do FBI.

Cartéis

Miami era um lugar a se temer, segundo Paul George, historiador do Miami-Dade College e especialista na cidade, comparável a outras cidades com alta incidência criminal na atualidade, como Johanesburgo, na África do Sul, ou o Rio de Janeiro. "'É preciso ter cuidado por onde se anda', 'não vá por ali à noite'. Essa era a mentalidade. Eu vivia em Little Havana, como hoje, e caminhava todos os dias, mas não à noite", disse George.

Embora no fim dos anos 1970 o tráfico de cocaína já ocorresse em larga escala na Flórida, 1979 marcou um ponto de inflexão nesta história: no centro comercial Dadeland Mall (sul de Miami), dois homens desceram de uma caminhonete em plena luz do dia e esvaziaram o cartucho das metralhadoras contra um traficante colombiano e seu guarda-costas, ferindo uma terceira pessoa.

"Eu estava em San Diego [Califórnia] e isso foi notícia de primeira página lá, e acho que esse momento demonstrou a nova ordem das coisas, que em Miami mandavam os cartéis da droga e seu dinheiro", disse George.

Segundo dados da DEA, em 1979 a cocaína já gerava lucros da ordem de US$ 10 bilhões no atacado. Os traficantes, segundo histórias que já fazem parte do folclore da cidade, viviam contando notas e comprando carros, iates e mansões pagando com caixas de dinheiro.

Um ano depois do incidente em Dadeland, chegaram de repente 125 mil imigrantes cubanos devido ao êxodo de Mariel, e foram registrados distúrbios raciais em Liberty City, bairro predominantemente negro onde morreram 18 pessoas. A criminalidade disparou.

"Muitos moradores de Miami achavam que viviam no pior lugar possível, refugiados e com distúrbios", disse George.

Cinema

A fama de crimes da cidade se cristalizou em 1983, quando Brian De Palma lançou o clássico "Scarface", a história de um traficante expulso de Cuba no êxodo de Mariel que proclamava ser o dono do mundo.

A chegada de "Miami Vice" expôs em uma vitrine a face violenta e criminosa da cidade, mas de forma elegante. "Muita gente achou que, porque era uma série policial com violência, as autoridades locais ficariam incomodadas. Mas se voltava à moda, ao encanto, ao mistério" da cidade, explicou Jeanne Sullivan, da agência de Turismo e Convenções de Miami. "Isso ajudou a cidade a reviver", acrescentou.

Policiais "fashion" a bordo de Ferraris, usando jaquetas leves e camisetas, navegando veleiros, lanchas rápidas e um cenário internacional colocaram Miami no mapa novamente. Desta vez como destino turístico de praias, festas constantes e construções em estilo art déco, que viveram épocas de esplendor, mas estavam abandonados e correndo risco de demolição.

Esses prédios obtiveram reconhecimento mundial com a série, segundo a Liga de Preservação do Design de Miami. As leis para derrubá-los ficaram mais rígidas e agora eles abrigam luxuosos restaurantes, hotéis e clubes onde as celebridades costumam passar suas férias.

Dessa época, no entanto, ficaram suvenires ainda vendidos em lojas de South Beach. Entre os mais curiosos estão fotos de "Scarface" exibidas em um porta-retratos de pistolas falsas, montes de notas de dinheiro ou bolsas de cocaína. "Rimos disso agora, mas sobrevivemos a tempos muito difíceis", lembrou o historiador.

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