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31/07/2006 - 09h51

Obra de artista anglo-indiano Anish Kapoor chega ao Brasil

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DANIEL HORA
Colaboração para a Folha de S.Paulo

Criar um objeto que ao mesmo tempo seja um não-objeto. Esse é o propósito insólito pelo qual Anish Kapoor, 52, define a produção que vem desenvolvendo nos últimos 25 anos. É também o conceito fundamental da peça inédita que dá título à primeira mostra na América Latina dedicada exclusivamente ao influente artista indiano radicado em Londres. "Ascension" (em português, ascensão; 2003-2006) é uma coluna de vapor de água que subirá do piso à cúpula da sede carioca do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) a partir de hoje, quando ocorre a inauguração para convidados.

A distância do solo ao teto no CCBB do Rio é de 36 m. A fumaça a percorrerá numa velocidade de 120 km/h, formando um redemoinho controlado por um poderoso exaustor. A exposição também passará pelas unidades do CCBB de Brasília (a partir de 12/10) e de São Paulo (a partir de 29/1/2007).

A instalação deverá ficar dentro de uma câmara de 400 m2 de área e 7 m de pé-direito, em espaços externos próximos aos CCBBs locais (leia ao lado). "A obra atua como um objeto, mas é um objeto incerto, permanentemente a ponto de se desmanchar", explicou o artista por telefone à Folha.

Atmosfera católica

Kapoor vem entusiasmado para a abertura de sua exposição no Brasil. A última apresentação de um conjunto de peças de sua autoria por aqui já completa uma década. Ocorreu quando o escultor foi tema de uma das salas especiais da 23ª Bienal de São Paulo. "Creio que "Ascension" tem analogias com a cultura brasileira. Não sei ao certo, mas há uma espécie de atmosfera católica, ainda que eu não tenha buscado alusões diretas à Ascensão de Cristo."

Premiado na Bienal de Veneza de 1990 e ganhador no ano seguinte do prestigiado Turner Prize britânico, Kapoor participou em 1992 da Documenta de Kassel, na Alemanha, e possui trabalhos nas coleções de museus reputados de produção contemporânea como a Tate de Londres e o MoMA de Nova York. Em 2004, criou "Cloud Gate", uma das maiores e mais caras esculturas públicas da história, feita de aço inoxidável ao custo de US$ 25 milhões (cerca de R$ 55 milhões) e instalada num parque de Chicago.

Dessa trajetória admirável, o escultor recorda sua passagem anterior pelo Brasil pelas afinidades descobertas. "Fiz muitos amigos, como Cildo Meireles, Tunga e Nuno Ramos."

A realidade multiétnica londrina e brasileira é outra similaridade citada por Kapoor, ao comentar o lema "Como Viver Junto" da Bienal deste ano. "As evidências atuais, como a guerra no Líbano, advertem que não é plausível juntar diferentes culturas. Porém, não só creio que seja possível, como acho que devemos lutar para isso", defende o artista, filho de mãe judia e pai hindu.

Ante as calamidades em curso, Kapoor declara que "ser um artista é um ato político contra as forças negativas". Mas isso não quer dizer que pretenda oferecer em suas obras receitas diretas para a pacificação do planeta. "A arte é boa quando está livre de um fardo como esse. Daí, torna-se capaz de dialogar com vários tipos de pessoas. Não podemos querer que a arte faça política, ela não é boa para isso", afirma.

As criações do escultor estão, de fato, distantes das preocupações do dia-a-dia e se apegam aos problemas e dicotomias da metafísica, referentes à presença e ausência, à materialidade e imaterialidade das coisas. Ainda assim, Kapoor não quer romper com o cotidiano. "Minha missão é mostrar que é possível ver algo às avessas, de ponta-cabeça ou como inexistente. Há uma poética na incerteza", considera.

Anish Kapoor - Ascension
Quando: estréia amanhã para o público; de ter. a dom., das 10h às 21h; até 17/9
Onde: Centro Cultural Banco do Brasil (r. 1o de Março, 66, Rio de Janeiro, tel. 0/xx/21 3808-2020)
Quanto: grátis

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