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18/08/2006 - 10h14

Filme de Marcelo Piñeyro mostra competição no trabalho

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MARIO GIOIA
da Folha de S.Paulo

O processo de escolha de um executivo por uma multinacional serve para que o diretor argentino Marcelo Piñeyro, 53, lance um olhar crítico à sociedade contemporânea em "O Que Você Faria?", seu sexto longa-metragem, que estréia hoje em São Paulo.

Produtor de um dos maiores sucessos do cinema argentino, "A História Oficial", de Luis Puenzo, e diretor dos celebrados "Plata Quemada" e "Kamchatka", Piñeyro estréia no cinema espanhol --a produção é argentina e italiana, mas os recursos predominantes são da Espanha. Ele utiliza atores em destaque naquele país, mesmo que argentinos, como Natalia Verbeke e Ernesto Alterio, e o roteiro é feito em parceria com Mateo Gil, de "Mar Adentro".

O filme levou dois Goya, a principal premiação do cinema espanhol, nas categorias roteiro adaptado e ator coadjuvante (Carmelo Gómez). A seguir, ele fala à Folha sobre o filme, em entrevista concedida durante o 1º Festival de Cinema Latino-Americano, ocorrido em São Paulo no mês passado.

Origem
Chegou às minhas mãos uma peça chamada "O Método Gronhölm". Me encantou a idéia de tomar como universo um processo de seleção de pessoal em uma multinacional. Achei que aí havia uma polaróide precisa e determinada sobre o comportamento da sociedade contemporânea. Com essa idéia, chamei Mateo Gil, que me veio com uma proposta. A peça tomou outro rumo no roteiro, ela tinha um tom de comédia, com um final surpreendente.

Pesquisa
Nenhum de nós tinha passado por tais processos de seleção. Era um mundo que desconhecíamos. Fizemos uma pesquisa em Madri e em Buenos Aires, em departamentos de recursos humanos e com gente que teve de passar por esses processos. Há muita literatura a respeito, todas as provas que estão no filme tiramos de manuais de dinâmica de grupo para seleção de pessoal. Havia algumas que achávamos, "ótimo, vamos colocá-las". Se puséssemos, ninguém acreditaria.

Microcosmo social
Acho isso por vários motivos. Primeiro, é bastante expressivo desvincular as ações das conseqüências, ou seja, ninguém é responsável por nada. É como se a conseqüência do que faço não tivesse a ver com minha ação. Esse sentido de não-responsabilidade gera uma perda de ética que é um signo de hoje. A competitividade e a não-solidariedade são conseqüências disso.

Outro signo é a obediência cega às regras do jogo. Você pode sentir asco, mas nunca as questiona. Há mais características atuais: quem perde é visto como alguém que teve uma peste, deve ser separado do restante porque tem algo contagioso; o ser humano é descartável a partir de certa idade.

Conformismo
Uns dois meses antes da rodagem, pude rever meus filmes e vi que, de certa forma, eles contam a história da colisão entre o protagonista e o sistema, uns por convicção, outros por acidente. Neste filme, não --os personagens acreditam que estão integrados ao sistema. Mas, ainda que se sintam parte, se sintam sócios, o que eles vão compreendendo é que não são parte nem sócios.

Planos externos
Quase não vemos o exterior. O que se vê dos protestos antiglobalização são imagens de TV, nada do que acontece naquele dia. Depois de umas seis versões do roteiro, achei que a "polaróide" estava manca. Foi quando apareceu a idéia de tudo ocorrer em um dia particular, o do encontro [do G-8]. Assim, "a foto" estava completa.

Especial
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