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14/11/2000 - 05h37

Filme revive Revolta da Vacina no Paraná

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JOSÉ GERALDO COUTO, da Folha de S.Paulo

A Folha presenciou, na pequena Antonina, no litoral do Paraná, um encontro que nunca existiu: o do médico sanitarista Oswaldo Cruz com Prata Preta, um dos líderes da célebre Revolta da Vacina, reação popular à vacinação obrigatória contra a febra amarela no Rio, em 1904.

O diálogo de surdos entre os dois -de um lado o iluminista que quer implantar na marra a saúde pública no país, de outro o representante de um povo escaldado pelas iniciativas que vêm de cima- é um dos pontos cruciais do filme "Sonhos Tropicais", que o cineasta André Sturm, 34, está rodando no Paraná.

A cena é também um dos momentos em que o filme se distancia do romance de Moacyr Scliar que o inspirou.

Segundo Sturm, outra liberdade que o roteiro de Fernando Bonassi e Victor Navas tomou, diante do livro, foi a de aumentar a importância da personagem Esther -uma judia polonesa que vem ao Brasil para casar e acaba se prostituindo nas ruas do Rio.

"O livro é basicamente uma biografia romanceada do Oswaldo Cruz. Nós criamos um segundo eixo, que é a história das polacas, desenvolvida em torno da Esther", explica o diretor.

Sturm, que é dono da distribuidora de filmes Pandora e está estreando no longa-metragem depois de realizar três curtas ("Arrepio", "Nem Tudo que É Sonho Desmancha no Ar" e "Domingo no Campo"), foi ousado na escolha do elenco.

Entre os protagonistas, apenas Bruno Giordano, que interpreta Oswaldo Cruz, trabalhou anteriormente em longas, mas sempre em papéis secundários.

Para viver Esther, foi escolhida a bela atriz global Carolina Kasting. Para encarnar Prata Preta, o cantor e dançarino Bukassa Kabengele. Nenhum dos dois havia trabalhado em cinema antes.

Já no elenco secundário abundam atores experientes, como José Lewgoy, Claudio Mamberti, Nelson Dantas e Ingra Liberato.

De acordo com Sturm, Scliar (que também é médico sanitarista) serviu como uma espécie de consultor, para evitar que o roteiro tivesse erros históricos ou médicos, mas não quis interferir.

"Ele sempre foi um entusiasta do projeto, e apoiou nossa iniciativa de
aumentar a importância de Esther", afirma o cineasta.

Vários fatores levaram Sturm a filmar nas cidades paranaenses de Castro e Antonina uma história passada no Rio de Janeiro do início do século 20.

"Em primeiro lugar, seria impossível rodar um filme desses no Rio ou em São Paulo. Optamos por uma abordagem realista da época, então não pode aparecer carro, avião, antena de TV, barulho de moto", diz o diretor.

Além disso, filmar em cidades pequenas proporciona uma maior concentração da equipe. "E as autoridades locais dão apoio logístico. Fecham o trânsito, cedem locais, essas coisas."

Segundo a produção, metade da equipe é paranaense, e 20 atores locais foram incorporados ao elenco, sem contar os figurantes.

Primeiro Sturm descobriu Castro, onde já havia sido rodado o longa infanto-juvenil "Os Xeretas", de Michael Ruman (em finalização). Depois vasculhou o Paraná e encontrou Antonina, cidade colonial à beira-mar.

A escolha foi importante para fazer render o dinheiro curto do filme.
Seu orçamento oficial é de R$ 2,8 milhões, mas Sturm diz que com menos da metade disso vai "colocar o filme na lata". Depois precisará captar mais recursos para fazer a montagem e a finalização, o que deverá ocorrer no início de 2001.

Por enquanto, os grandes investidores de "Sonhos Tropicais" são o Banespa, por meio da Lei do Audiovisual, e a TV Cultura, por meio de seu Programa de Integração Cinema-TV (PIC).

Mas o cineasta diz que o "orçamento ajustado" não o impediu de ter uma produção caprichada e grandiosa. "Em Antonina, fizemos cenas com 200 figurantes e mais de 20 barcos."

Para maximizar os recursos, usa-se a criatividade. Em Antonina, o mesmo local -um antigo armazém- serve para duas locações: na parte da frente, é uma típica "venda" do início do século, cuidadosamente reconstituída; nos fundos, faz as vezes do barraco onde mora Prata Preta.

Para a sequência em que as autoridades sanitárias tentam exterminar os ratos do Rio, foram utilizados 460 ratos, emprestados pelo Biotério de Curitiba.

Segundo o técnico de efeitos especiais Arnaldo Zidan, como eram ratinhos brancos de laboratório, eles tiveram de ser tingidos de cinza, um por um. "Esse tipo de artesanato está em extinção", diz ele. "Em breve, tudo será feito por computador." Será mais rápido e barato -mas certamente menos divertido.
 

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