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27/08/2006 - 09h00

Gianecchini estrela peça "Sua Excelência, o Candidato"

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LAURA MATTOS
da Folha de S. Paulo

Seis anos após a traumática estréia como mocinho da novela das oito da Globo, Reynaldo Gianecchini decide ser político.

Eduardo Knapp/Folha Imagem
Galã Reynaldo Gianecchini estrela peça "Sua Excelência, o Candidato" em São Paulo
Galã Reynaldo Gianecchini estrela peça "Sua Excelência, o Candidato" em São Paulo
Com o sucesso de Pascoal, o mecânico cômico da novela "Belíssima", sente-se mais seguro para adentrar a politicagem brasileira a partir desta sexta, como o protagonista da nova montagem de "Sua Excelência, o Candidato", sucesso do teatro nos anos 80. O candidato Gianecchini, 33, quer conquistar as massas, não liga para "adversários" da classe artística que têm preconceito com o que é popular e não é "cabeça".

Nesta entrevista à Folha, além de política, ele fala da pressão imposta pelos próprios colegas, entre eles Carolina Dieckmann, mulher de seu personagem em "Laços de Família", sua primeira novela.




Folha- De quem foi a idéia de te escalar para esse papel cômico?

REYNALDO GIANECCHINI - O Marcos Caruso [autor] e o Alexandre Reinecke [diretor] me chamaram. Não podia, estava comprometido com outro projeto, mas depois que li o texto adorei e resolvi abandonar o filme que ia fazer, uma co-produção com outro país. Não tenho preconceito com a comédia, como muitos de meus colegas, que sempre acham que devem fazer uma coisa mais cabeça. Minhas experiências anteriores no teatro foram com diretores de vanguarda, Zé Celso [Martinez Corrêa], Gerald Thomas. Adorava, mas não achava que tinha comunicação total com a platéia. Tinha vontade de fazer algo popular, que se comunicasse muito com o público. Se a peça for bem escrita, como essa, é maravilhoso que seja popular.

Folha - O convite veio em razão do Pascoal, de "Belíssima"?

GIANECCHINI - É, acho que ninguém nunca pensou que eu pudesse fazer comédia, até porque sempre fiz o mocinho, sofredor, príncipe, herói, romântico. E isso devo ao Sílvio [de Abreu, autor de "Belíssima"]. Sempre busco na minha carreira dar uma quebra, não porque acho o galã ruim, mas não quero fazer só o galã, acho muito chato fazer uma carreira baseada em uma coisa só.

Folha - E o Sílvio te avisou que iam te criticar muito no primeiro mês da novela, mas que o personagem depois seria um sucesso.

GIANECCHINI - É verdade. Quando eu estreei, as pessoas tinham resistência em me ver naquele papel e diziam que eu estava exagerado. Com um tempo, vieram críticas boas, mas na verdade nunca mudei.

Folha - É melhor desempenhar o papel cômico do que o de mocinho?

GIANECCHINI - É mais divertido, com certeza. Você pode trazer elementos para compor o papel cômico. Já o mocinho é muito flat [chato] nesse sentido. Qualquer coisa que coloque a mais fica over, ele tem que ser simples. Mas o mocinho tem uma carga dramática interessante.

Folha - O texto da peça passou por alguma adaptação? Entraram mensaleiros, sanguessugas, cuecas?

GIANECCHINI - Incrível, mas não houve nenhuma, a não ser valores, moedas. Por enquanto, ainda não colocamos esses elementos, pode ser que apareçam depois. A peça, no geral, é muito atual. Ela fez sucesso há 20 anos, quando estávamos saindo das Diretas Já, uma época de esperança louca para o Brasil, todo mundo querendo mudar tudo. Hoje, nessa reestréia, vivemos o oposto, todo mundo está totalmente sem esperança, embora seja época de eleições. Naquela época, parecia que o Brasil ainda podia ser salvo. Hoje em dia acho que não. Não tenho muito a que me apegar. O partido em que todo mundo depositou as últimas fichas, o PT, foi uma catástrofe. Eu não tenho meu candidato ainda.

Folha - Como é o político da peça?

GIANECCHINI - A peça é uma comédia, o objetivo principal é o entretenimento mesmo, não é fazer grandes questionamentos. Ninguém quer mudar a vida de ninguém nem sair de lá pensando coisas incríveis. Esse candidato é um espelho do Brasil. É filho de políticos, cresceu numa casa onde imperou o universo da política com todas as suas falcatruas, a corrupção. Não tem a menor vocação para ser político, mas quer usufruir de tudo o que a política pode lhe dar, desde dinheiro até todas as facilidades. Aí se envolve em milhões de confusões, tendo sempre essa mentalidade do brasileiro, essa coisa nossa de colonizado, em que impera a corrupção, os pequenos delitos, o jeitinho brasileiro, seu interesse em detrimento dos interesses gerais. O legal é que a mentira sempre deixa uma perninha e tudo vem à tona.

Folha - Você acredita que na política da vida real também seja assim?

GIANECCHINI - Claro. Nesses últimos anos foi só o que vimos, mentiras sendo descobertas.

Folha - Em quais políticos se inspirou para compor esse candidato?

GIANECCHINI - Ele é um pouco de alguns desses aí que vimos nos escândalos. Mas não gosto de dizer quais são exatamente.

Folha - Tem algum mensaleiro?

GIANECCHINI - É, esses que foram pegos com a boca no botija. Até fisicamente tem alguns em que procurei buscar uma postura. Ele é elegante.

Folha - É o Collor?

GIANECCHINI - É você que está dizendo [risos]. É, o Collor tem uma postura, é um cara elegante, fino, tem carisma. Nesse lado dá para pensar muito nele.

Folha - Você acha que beleza ajuda na política também?

GIANECCHINI - No fundo, em segundo plano, a beleza sempre ajuda um pouco. Todo mundo quer estar do lado de pessoas mais apresentáveis. Já vi uma reportagem de uma pesquisa que diz que a mãe trata melhor o filho bonitinho. Mas na política o que deveria contar é a honestidade, o interesse em cuidar do bem público.

Folha - Rir da tragédia de nossa política atual é uma boa solução?

GIANECCHINI - A comédia é uma solução boa para se discutir tudo, através dela você pode mostrar toda a realidade, lançar todos os questionamentos de forma bem humorada, porque ela atinge rapidamente as pessoas. Nessa peça, todo mundo ri muito, mas também é triste constatar que hoje nada mais nos choca, de tão escaldado que estamos. A gente abre o jornal, é tudo tão patético, que até rimos.

Folha - Você tem alguma trajetória política? Movimento estudantil?

GIANECCHINI - Não, até fiz faculdade de direito na PUC, mas confesso que não sou politizado. Procuro só acompanhar um pouco o que acontece no Brasil para exercer meu direito de cidadão da melhor forma. Não sou a favor do voto nulo, quero votar e para isso vou pesquisar, fico de olho no que está acontecendo. Na última eleição, votei no Lula, era uma esperança.

Folha - Nem nas questões de política cultural você se envolve?

GIANECCHINI - Nunca me envolvi. Acompanho, leio, até porque me interessa. Mas também nunca fui chamado. Acho que sou meio moleque, isso é mais para gente grande [risos].

Folha - Seis anos após sua estréia como Edu, de "Laços de Família", como avalia sua trajetória na Globo?

GIANECCHINI - Televisão é uma coisa ingratíssima. Estreei em um veículo dificílimo para quem não tem experiência. É tudo contra você, não há tempo para ensaiar, para decorar, tem que chegar e se virar. Foi muito penoso, estreei sem experiência, estava bem despreparado.

Folha - Por que te colocaram de cara naquele furacão, como protagonista de uma novela das oito?

GIANECCHINI - Porque eles sempre têm necessidade de trazer gente nova e contam muito com o que você já é. Fiz um jovem muito parecido comigo, tinha a minha idade, uma relação com uma mulher mais velha. Eles pensam "é quase ele", e na verdade não é bem assim. Essa profissão é muito difícil. E a TV é a arte do que dá para fazer naquele momento. São 30 cenas por dia. Fui me virar dentro dessa máquina, penei muito na primeira novela porque sabia que meu trabalho estava insuficiente. Tirando todas as críticas, eu mesmo sabia que era insuficiente. Então fui correr atrás, estudar. Levo a sério, respeito muito essa profissão e o mínimo que espero das pessoas é respeito, porque não sou um babaquinha. Procuro sempre oferecer o meu melhor, porque respeito o público. No começo meu melhor era muito pouco, mas fui aprendendo. Mas teatro ainda me assusta. Tenho o maior medão de fazer teatro.

Folha - Você sofreu resistência até de colegas da Globo. Hoje essas pessoas te tratam melhor?

GIANECCHINI - Acho que conquistei alguma coisa. Podem não me achar bom ator, mas espero respeito como alguém que está indo lá ralar, buscar algo. Acho que me respeitam mais, mas ainda sinto que tenho que matar um leão por dia.

Folha - Houve a história com a Carolina Dieckman [mulher de Gianecchini em "Laços de Família"]. Quando você gravou um depoimento para homenageá-la no "Faustão", abordou por alto o problema.

GIANECCHINI - É, falo até para ela. Mas esse tipo de coisa acho que não sinto mais na Globo. Pelo menos em "Belíssima" não senti, parecia que todos estavam no mesmo barco, não me senti posto à prova pelo elenco. Mas isso existe. Essa peça muita gente verá com preconceito, porque estou fazendo algo popular. Tem muito preconceito na classe artística, de todos os tipos. Mas preconceitos estão aí para serem quebrado.

Folha - Quem é mais cruel: o público, a imprensa ou os colegas?

GIANECCHINI - [risos] Essa pergunta é difícil, está pau a pau. O público é o menos cruel, com certeza. Quando gosta, gosta. O ator ou o crítico às vezes até gosta, vai à peça, ri, mas aí começa a pensar, fazer mil conjecturas e aí decide que não é boa. Mas no fundo ele gostou.

FOLHA - Você é um candidato de esquerda, centro ou direita?

GIANECCHINI - [pausa] Acho que eu seria de esquerda.

FOLHA - Vai legalizar o aborto?

GIANECCHINI - Ai, meu Deus, tão difícil... Não tenho opinião formada. Ia propor um plebiscito. Isso precisa ser questionado, já que muita gente morre em aborto feito clandestinamente.

FOLHA - É a favor do casamento, da união civil entre homossexuais?

GIANECCHINI - Sou totalmente a favor. Não entendo como o sexo é posto tão em primeiro plano, como as pessoas julgam outras pelo que elas estão fazendo entre quatro paredes. Para mim, não interessa com quem a pessoa está transando, com homem, mulher, cachorro.

FOLHA - Legalização da maconha?

GIANECCHINI - [pausa] Eu sou a favor. Acho que o álcool tem um efeito muito mais devastador do que a maconha, é muito mais perigoso. Na verdade existe uma lenda dessa coisa de ser maconheiro. Por que não existe isso em relação à bebida? Até o cigarro normal é mais grave do que um cigarrinho de maconha.

FOLHA - Baixar música em sites de troca de arquivo e gravar no Ipod será crime no seu governo?

GIANECCHINI - [pausa] Caramba, que difícil [pausa] Ai, não sei. Em princípio acho que não. Acho horrível a pirataria, mas [pausa]... Estamos caminhando para outra coisa no futuro. Acho isso diferente de vender filme no camelô. É a evolução de um novo tempo.

FOLHA - Vai manter Gilberto Gil no Ministério da Cultura?

GIANECCHINI - [risos, pausa] Ai, ai, meu Deus [pausa] Acho que sim. Talvez jogando melhor com o novo governo, com uma mão um pouco mais firme.

FOLHA - Em que áreas iria puxar a orelha dele para mantê-lo no cargo?

GIANECCHINI - Essa questão do incentivo. Se essa lei não for totalmente reformulada... É tão difícil hoje fazer qualquer peça sem patrocínio, sem apoio.

FOLHA - Manterá a meia-entrada?

GIANECCHINI - Sou totalmente a favor da meia-entrada porque teatro é caro para quem paga. Mas é barato para quem faz. O governo deveria se responsabilizar e não deixar nas costas dos atores, produtores. Paga-se meia a advogado, dentista? Por que só para os atores? É muito difícil fazer teatro no Brasil.

FOLHA - Qual a primeira lei que gostaria de sancionar?

GIANECCHINI - [pausa] Ah, ia puxar a sardinha para a minha área. A lei de incentivo [à cultura] é uma bagunça. Está tão difícil para o teatro. Iria priorizar a cultura e a educação. Ouvi o presidente [Lula] dizer: "Temos mais comida hoje em dia". Está errado. Dando educação e cultura à população automaticamente haverá mais comida.

FOLHA - Se eleito, dará sua primeira entrevista para o "Jornal Nacional"?

GIANECCHINI - [risos] Realmente é uma prova de que as coisas estão indo bem para o seu lado. "JN" ou "Fantástico" são de grande tradição. Tomara!

FOLHA - Pensei que a primeira seria para [sua mulher] Marília Gabriela...

GIANECCHINI - Ai, não sei. Adorei as duas vezes em que fui entrevistado por ela, mas sempre é difícil. Sua mulher te entrevistando é uma exposição [risos].

SUA EXCELÊNCIA, O CANDIDATO
Quando: estréia 1º/9, às 21h30
Onde: Teatro Vivo (av. Dr. Chucri Zaidan, 860, tel. 0/xx/11/3188-4141)
Quanto: R$ 60 e R$ 30 (meia)
Classificação: 12 anos
 

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