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28/08/2006
-
09h31
SÉRGIO DÁVILA
da Folha de S.Paulo, em Washington
"O que está faltando? Qual pode ser a razão para a mesma pessoa, mais tarde na vida, ser incapaz de competir consigo mesma quando era um jovem artista? Há algo mesmo faltando, ou a resposta é simples: que a cada pessoa é dada apenas uma ou duas idéias que realmente valem a pena, como duas flechas num coldre?"
O autor das inquietações acima, colocadas na forma de três entradas de texto num blog, é Francis Ford Coppola. O mesmo que dirigiu a trilogia "O Poderoso Chefão" (1972-1990), que definiria no imaginário coletivo o conceito de "família real" do crime. O mesmo que criou o drama-de-guerra-para-acabar-com-todos-os-dramas-de-guerra, o épico "Apocalypse Now" (1979). O mesmo que ganhou cinco Oscars.
Depois de 1997, após dirigir dois filmes medíocres ("Jack" e "O Homem que Fazia Chover"), o cineasta guardou a câmera no bolso e se recolheu. Desde então, se dedica mais à sua vinícola no Vale do Napa, no norte da Califórnia, uma das cinco maiores dos EUA, e aos seus dois hotéis-butique em Belize, na América Central, embora sua produtora, a American Zoetrope, continue envolvida em diversos projetos.
Mas, por onde anda Coppola, o diretor? Principalmente, por onde anda Coppola, o grande diretor?
"Tenho pensado no que parece ser um padrão: artistas que se destacam quando são jovens e então nunca mais conseguem atingir aqueles níveis de novo. Há muitos exemplos, especialmente na literatura, no teatro e, é claro, no cinema", escreve ele, em outra entrada. O cineasta, que tinha 32 anos ao fazer o primeiro "Chefão", cita Tennessee Williams, Norman Mailer e J. D. Salinger como exemplos.
"Muitos artistas alcançam o que parece ser o auge de suas carreiras quando são muito novos e, embora tentem com esforço, percebem que, aos olhos dos críticos, de seus leitores ou espectadores e talvez até mesmo aos próprios olhos, nunca alcançam ou superam o trabalho de sua juventude", continua. Há uma saída?
"Tenho pensado que o único jeito lógico de lidar com esse dilema é se tornar jovem de novo, esquecer tudo o que eu sei e tentar ter a cabeça de um estudante", escreve. "Reinventar-me esquecendo completamente que eu tive uma carreira no cinema; em vez disso, sonhar em ter uma." Pois é o que ele pretende fazer com "Youth without Youth" (juventude sem juventude), seu primeiro longa em uma década.
Na semana passada, o diretor se encontrou com 600 estudantes da Universidade da Califórnia, fãs e alguns jornalistas em Los Angeles. A ocasião era o lançamento do pacote de DVDs "Apocalypse Now - The Complete Dossier". Aproveitou para dizer em que pé anda o novo longa. Baseado no conto homônimo do escritor romeno Mircea Eliade (1907-1986), avança pela 2ª Guerra ao contar a história de um professor (Bruno Ganz), que, eletrocutado por um raio, volta à juventude.
Coppola contou que ficou anos se debatendo com um projeto de orçamento altíssimo --a refilmagem de "Metrópolis", o clássico de Fritz Lang de 1927-- mas que finalmente desistiu ao ver sua filha, Sofia, 35, fazendo filmes como "Encontros e Desencontros" (2003), criativos e baratos. Resolveu então ele mesmo se reinventar e pensar "com a cabeça de um estudante", como escreve nos três textos nos diários de produção do filme.
Daí a idéia do longa de baixo orçamento (US$ 5 milhões), todo feito na Romênia em tecnologia digital. "Em quatro anos, ninguém mais vai estar filmando em celulóide", previu no encontro de Los Angeles. Agora, ele volta a Bucareste para terminar a montagem de "Youth", fazer mais dois ou três planos e diminuir a duração (atualmente, 2h46). De lá, só volta com o filme pronto, o que deve acontecer até dezembro.
O que ele fará a seguir? Já escreveu 40 páginas de um roteiro original, mas acha que não tem talento para a profissão (roteirista). Odiou o videogame baseado na trilogia "O Poderoso Chefão" e odiou ainda mais o fato de só ter sido avisado quando o jogo já estava pronto. "Nunca mais ouvi falar, acho que foi um fracasso e espero mesmo que tenha sido."
Por fim, deu seu conselho... à juventude. "Construam algo a partir do que fizeram as pessoas que vieram antes de vocês. Eles viveram para que vocês possam fazer uso da experiência, e os que virão depois de vocês farão uso da sua experiência." Isso, disse Coppola, 67, "é imortalidade".
Especial
Leia o que já foi publicado sobre Francis Ford Coppola
Diretor de "O Poderoso Chefão" prepara 1º filme em uma década
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da Folha de S.Paulo, em Washington
"O que está faltando? Qual pode ser a razão para a mesma pessoa, mais tarde na vida, ser incapaz de competir consigo mesma quando era um jovem artista? Há algo mesmo faltando, ou a resposta é simples: que a cada pessoa é dada apenas uma ou duas idéias que realmente valem a pena, como duas flechas num coldre?"
O autor das inquietações acima, colocadas na forma de três entradas de texto num blog, é Francis Ford Coppola. O mesmo que dirigiu a trilogia "O Poderoso Chefão" (1972-1990), que definiria no imaginário coletivo o conceito de "família real" do crime. O mesmo que criou o drama-de-guerra-para-acabar-com-todos-os-dramas-de-guerra, o épico "Apocalypse Now" (1979). O mesmo que ganhou cinco Oscars.
Reuters/2005 |
Francis Ford Coppola, de "O Poderoso Chefão", volta a dirigir depois de uma década |
Mas, por onde anda Coppola, o diretor? Principalmente, por onde anda Coppola, o grande diretor?
"Tenho pensado no que parece ser um padrão: artistas que se destacam quando são jovens e então nunca mais conseguem atingir aqueles níveis de novo. Há muitos exemplos, especialmente na literatura, no teatro e, é claro, no cinema", escreve ele, em outra entrada. O cineasta, que tinha 32 anos ao fazer o primeiro "Chefão", cita Tennessee Williams, Norman Mailer e J. D. Salinger como exemplos.
"Muitos artistas alcançam o que parece ser o auge de suas carreiras quando são muito novos e, embora tentem com esforço, percebem que, aos olhos dos críticos, de seus leitores ou espectadores e talvez até mesmo aos próprios olhos, nunca alcançam ou superam o trabalho de sua juventude", continua. Há uma saída?
"Tenho pensado que o único jeito lógico de lidar com esse dilema é se tornar jovem de novo, esquecer tudo o que eu sei e tentar ter a cabeça de um estudante", escreve. "Reinventar-me esquecendo completamente que eu tive uma carreira no cinema; em vez disso, sonhar em ter uma." Pois é o que ele pretende fazer com "Youth without Youth" (juventude sem juventude), seu primeiro longa em uma década.
Na semana passada, o diretor se encontrou com 600 estudantes da Universidade da Califórnia, fãs e alguns jornalistas em Los Angeles. A ocasião era o lançamento do pacote de DVDs "Apocalypse Now - The Complete Dossier". Aproveitou para dizer em que pé anda o novo longa. Baseado no conto homônimo do escritor romeno Mircea Eliade (1907-1986), avança pela 2ª Guerra ao contar a história de um professor (Bruno Ganz), que, eletrocutado por um raio, volta à juventude.
Coppola contou que ficou anos se debatendo com um projeto de orçamento altíssimo --a refilmagem de "Metrópolis", o clássico de Fritz Lang de 1927-- mas que finalmente desistiu ao ver sua filha, Sofia, 35, fazendo filmes como "Encontros e Desencontros" (2003), criativos e baratos. Resolveu então ele mesmo se reinventar e pensar "com a cabeça de um estudante", como escreve nos três textos nos diários de produção do filme.
Daí a idéia do longa de baixo orçamento (US$ 5 milhões), todo feito na Romênia em tecnologia digital. "Em quatro anos, ninguém mais vai estar filmando em celulóide", previu no encontro de Los Angeles. Agora, ele volta a Bucareste para terminar a montagem de "Youth", fazer mais dois ou três planos e diminuir a duração (atualmente, 2h46). De lá, só volta com o filme pronto, o que deve acontecer até dezembro.
O que ele fará a seguir? Já escreveu 40 páginas de um roteiro original, mas acha que não tem talento para a profissão (roteirista). Odiou o videogame baseado na trilogia "O Poderoso Chefão" e odiou ainda mais o fato de só ter sido avisado quando o jogo já estava pronto. "Nunca mais ouvi falar, acho que foi um fracasso e espero mesmo que tenha sido."
Por fim, deu seu conselho... à juventude. "Construam algo a partir do que fizeram as pessoas que vieram antes de vocês. Eles viveram para que vocês possam fazer uso da experiência, e os que virão depois de vocês farão uso da sua experiência." Isso, disse Coppola, 67, "é imortalidade".
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