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11/09/2006 - 09h45

Livro narra história de selo que incentivou jazz de vanguarda

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CARLOS CALADO
Colaboração para a Folha de S.Paulo

Como outros apreciadores do jazz, o jornalista Ashley Kahn lembra-se com detalhes do dia em que comprou seu primeiro álbum da Impulse. Tinha 15 anos quando viu o LP "Mingus, Mingus, Mingus, Mingus, Mingus" em uma loja de discos usados, em Cincinnati (EUA). Fanático por rock e reggae, na época, ainda não conhecia o jazzista Charles Mingus, mas decidiu levá-lo.

"Odeio dizer isso, mas me interessei por causa da capa", admite Kahn, 45, falando à Folha por telefone, de New Jersey, nos EUA, onde acaba de lançar o livro "The House that Trane Built" (A casa que Trane construiu). Nele, narra a história do cultuado selo de jazz Impulse, cuja trajetória se confunde com a do saxofonista John Coltrane (1926-1967), ícone do jazz de vanguarda.

Com capas duplas em papel de alta qualidade, fotos avançadas e vistosas lombadas em preto e laranja, os álbuns da Impulse se destacavam nas estantes das lojas, nos anos 60 e 70. "Claro que, se a música não fosse tão boa, a capa não importaria, mas a Impulse sabia que as pessoas comprariam discos de Coltrane, Mingus e Gil Evans, mesmo que custassem mais por causa das capas."

Kahn decidiu escrever o livro ao finalizar o anterior "A Love Supreme" (Viking, 2002), que narra os bastidores da gravação do cultuado álbum homônimo de Coltrane, lançado pela Impulse, em 1965. Ao rever as dezenas de depoimentos que colheu entre músicos, produtores e executivos, percebeu que tinha material suficiente para contar a história do selo.

Simultaneamente ao lançamento do livro, a gravadora Universal, hoje detentora do catálogo Impulse, lançou a série "The Impulse Story", em comemoração aos 45 anos do selo. São dez CDs com gravações de expoentes do elenco da Impulse, que chegam ao mercado brasileiro a partir de outubro.

"Embora jamais tenha sido independente, a Impulse atuava como gravadora de jazz independente", diz Kahn. "Ela produzia música inovadora e experimental, mas era subordinada à ABC-Paramount, uma companhia de discos bem comercial, que tinha no elenco artistas pop como Paul Anka e Eydie Gourmé".

Diversidade

O responsável por esse bolsão criativo, dentro do segmento mais comercial da indústria fonográfica dos EUA, foi o produtor Creed Taylor, que fundou a Impulse, em 1960, e já no ano seguinte contratou Coltrane. "Taylor convenceu as pessoas certas a investir no selo. Conseguiu que a máquina de uma grande gravadora de música pop trabalhasse a favor do jazz", conta Kahn.

Outra característica da Impulse, que a diferenciava de selos de jazz como o Blue Note ou o Prestige, era a diversidade de seu catálogo. "Em meio à era do rock'n'roll, ela gravou desde swing até vanguarda", analisa Kahn. "Nenhum selo da época tentou gravar tantos estilos, nem teria dinheiro para isso. Durante 15 anos, a Impulse foi vista como a casa do jazz criativo e experimental, algo raro nesse mercado."

Mas a Impulse seria a mesma sem Coltrane? "Absolutamente, não. Ela seria uma boa gravadora, mas a ligação com Coltrane a colocou em um nível superior", responde o escritor, destacando também o papel essencial do produtor Bob Thiele, que dirigiu a Impulse entre 1961 e 1969, após a saída de Taylor. "Ele permitia que Coltrane buscasse liberdade em sua música. Thiele discutiu bastante com Coltrane até convencê-lo a gravar dois discos de baladas, mas sempre deu muita liberdade aos artistas do selo".

Kahn vê na Impulse uma lição para indústria de hoje. "Quem está no comando hoje nas gravadoras? Os marqueteiros e os sujeitos da área financeira, que dizem: "Britney Spears vendeu muito. Precisamos de algo que venda tanto assim". A diferença é que, na Impulse, se permitia que a música indicasse a direção a tomar, não os números".

"The House That Trane Built
Autor: Ashley Kahn
Editora: W.W. Norton (352 págs.)
Quanto: US$ 29,95 (R$ 65, em média)

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