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11/09/2006 - 10h09

Livro "Minhas Pobres Canções" traz composições de Carlos Gomes

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IRINEU FRANCO PERPETUO
Colaboração para a Folha de S.Paulo

"Tão longe, de mim distante/ Onde irá, onde irá teu pensamento?" Os versos são de "Quem Sabe?", já gravada por intérpretes tão distintos como Ney Matogrosso, Agnaldo Timóteo, Nelson Ayres e Cristina Maristany, e item mais célebre entre a porção menos conhecida da produção do compositor campineiro Antônio Carlos Gomes (1836-1896): as canções.

Se, no teatro Municipal do Rio, há uma estátua dele na entrada, no de São Paulo sua efígie mira fixamente o público, acima do palco --e não por acaso. Com uma carreira de sucesso na Itália, Carlos Gomes foi essencialmente um compositor de óperas, e os acordes da abertura de sua criação lírica mais renomada, "Il Guarany", estreada no Scala de Milão, em 1870, ecoam até hoje no prefixo do noticioso "Voz do Brasil".

Na Sala São Paulo, o sinal da chamada para o público vem da "Alvorada" de outra ópera de Carlos Gomes, "Lo Schiavo".

Participante, no papel de Ceci, da primeira gravação do "Guarany", em 1959, a soprano Niza de Castro Tank, 75, natural de Limeira (cidade próxima a Campinas), e uma das principais intérpretes do compositor, resolveu resgatar sua produção para canto e piano. "Minhas Pobres Canções" traz as partituras das 41 modinhas e canções que compreendem a produção do autor no gênero.

Dialetos

Caprichada, com revisão musical do pianista e compositor Achile Picchi, a edição traz comentários estilísticos, técnicos e musicais de Niza sobre cada uma das obras. Professores de italiano foram consultados para a versão final dos poemas, já que Carlos Gomes chegou a empregar textos em dialeto vêneto e milanês. O livro é acompanhado por um CD duplo, no qual as obras são interpretadas por Tank e mais seis cantores, acompanhados por Picchi, nas tonalidades originais para as quais foram escritas.

"Eu não podia cantar tudo", diz Niza. "Sou soprano, até posso tentar a linha de mezzo-soprano, mas não dava para encarar as obras para baixo", brinca. Picchi e ela participaram, em 1986, de iniciativa análoga, que contemplou uma edição "quase completa" do cancioneiro do compositor, pela Funarte.

Para além dos três álbuns publicados pela editora Ricordi, de Milão, nos anos 80 do século 19, as obras encontravam-se dispersas; além de Campinas, cidade natal do compositor, e Belém do Pará, onde ele morreu, elas foram reunidas em pesquisas no Rio de Janeiro e Curitiba.

Barcarola inédita

Com relação à edição da Funarte, a maior novidade é "Eternamente", barcarola de 1867, em mi bemol maior, sobre texto em italiano de Marco Marcelliano Marcello (1820-1886), que se encontrava inédita. Se Niza ainda é prudente com relação a chamar sua edição atual de completa, prefere dizer que ela, agora, inclui todas as canções de Carlos Gomes "de que se tem notícia". Estilisticamente, o compositor classificou algumas das obras do livro de modinhas (como "Quem Sabe?", sobre versos de Bittencourt Sampaio), escritas em português e inseridas na tradição do gênero. As remanescentes são as canções propriamente ditas, divididas em românticas, dramáticas e satíricas.

"Carlos Gomes nasceu para fazer ópera e, nas canções, a gente sente o lírico que existe nele. Muitas delas são trechos de ópera", explica Niza. "Contudo, nas canções satíricas, a gente vê o espírito brasileiro e irônico que o acompanhou durante a vida toda." Em plena atividade, ela se apresenta quinta, às 21h, no teatro São Pedro, em São Paulo, acompanhada por Picchi, e mostrando a técnica impecável que a levou a ser reconhecida como uma das maiores cantoras líricas brasileiras de todos os tempos no registro de soprano coloratura.

"Minhas Pobres Canções
Autor: Antônio Carlos Gomes/Niza de Castro Tank
Editora: Algol
Quanto: R$ 120 (448 págs.); contém dois CDs
Lançamento: hoje, às 21h, no teatro São Pedro (r. Barra Funda, 171, Barra Funda, tel. 0/xx/11 3667-0499)

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