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19/09/2006 - 09h15

Atração do Tim Festival, Devendra Banhart nega rótulo "freak folk"

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THIAGO NEY
Enviado especial da Folha de S.Paulo a Dublin

O cantor Devendra Banhart diz que ele e sua banda não costumam ensaiar. "A última vez que tocamos juntos foi no Japão." Quando foram esses shows? "Não sei. Podem ter sido dias atrás, podem ter sido anos atrás... Não tenho muita noção de tempo."

Passar alguns momentos com Devendra Banhart é como ser levado a um mundo em que o tempo é realmente relativo --o universo riponga paz e amor dos anos 1960.

Isso é notado tanto na entrevista a jornalistas brasileiros, em seu camarim, como logo depois, no show do festival Electric Picnic, no interior da Irlanda --show que traz ao Brasil em outubro, quanto toca no Rio, em 27/10, e em Vitória, em 29/10, dentro do Tim Festival.

Aos 25 anos, fluente em espanhol, aprendido durante a infância passada em Caracas (seu pai é norte-americano, e a mãe, venezuelana), Devendra se aproxima com um "hola". Ele veste uma camiseta branca com desenhos em preto, vários colares, óculos de lente laranja, calça jeans rasgada e chinelos que deixam à mostra uma meia preta e outra azul nos pés.

Tem várias tatuagens pelo corpo, cada uma com um significado próprio. A pedido, ele vai exibindo os desenhos: duas estrelas na mão esquerda, outras duas, maiores, no peito, um círculo de pontos vermelhos na mão, quatro riscas vermelhas no antebraço... "Essa daqui não me lembro por que fiz. Estava meio bêbado", diz, sobre um inseto tatuado no braço.

Com vários discos nas costas, como "Niño Rojo" e o mais recente, "Cripple Crow" (2005), bastante elogiado, Devendra é tido como o embaixador do que foi chamado de freak folk, ao lado de gente como Mica Hinson, Joanna Newson, Vetiver etc. Ele se apressa em descartar o nome --e aparece com outro. "Esse rótulo é embaraçoso.

Não soa bem. E não foi feito nem sugerido por nenhum de nós. Foi fabricado pela imprensa. Várias vezes ouvi de jornalistas: "Fui eu quem inventou o termo freak folk". Ok, obrigado, babaca. Um nome apropriado seria algo inspirado no tropicalismo. Por isso eu chamo de naturalismo."

E explica: "Não queremos ser vistos como exclusivistas, ser anti alguma coisa. No final, tudo é derivado da natureza. Este copo de plástico [no qual bebe vinho branco] é derivado da natureza. Também pensei em chamar de saturnália, como um oposto de tropicália..."

O termo freak folk serviria para descrever música que traz influência tanto do country e do folk como do rock psicodélico e do tropicalismo --artistas deste último, como Mutantes e Gil, são citados por Devendra como ídolos. Caetano Veloso, para ele, é seu "number one".

"A idéia do tropicalismo foi inspirada no "Manifesto Antropofágico", de Oswald de Andrade, e ele era aberto a todas as culturas, aos diferentes estilos de música, e ainda mantinha uma brasilidade. Os Mutantes se relacionam com os Beatles.

Os Beatles expuseram ao mundo vários tipos de música, como a indiana, o soul, canções tradicionais britânicas, Bach, e cada canção tinha um sabor próprio. Já os Mutantes te levam em uma viagem com uma única canção. E eles faziam graça disso. Em "Meu Refrigerador Não Funciona", estão fazendo graça com Janis Joplin."

Mais: "O tropicalismo foi um momento que aconteceu no Brasil nos anos 60, mas para mim é algo que existe fora da dimensão do tempo e está sendo redescoberto por várias pessoas. É algo contínuo e que me inspira, mas falar que é uma influência seria dizer que eu teria alguma habilidade musical... Não tenho. Sou muito bom sendo um músico ruim...".

No Electric Picnic, evento com vários palcos e artistas como PJ Harvey, Mogwai, Massive Attack etc., Devendra diz que preparou um set especial. "Um festival significa estar suspenso em um momento de união com várias pessoas estranhas, em que os músicos estão apenas fornecendo o pano de fundo. Por isso, não quero me apresentar apenas com minha guitarra, faria isso num lugar intimista, então trouxe a banda completa."

Avião e aliens

O show visto na Irlanda no primeiro fim de semana deste mês deve ser parecido com o que ele fará no Brasil (e ele planeja gravar parte de seu próximo disco no Rio, com a ajuda de Arto Lindsay). Parecido porque depende de quem Devendra encontrar no avião...

É que, a certa altura do show, entram no palco umas dez pessoas fantasiadas como guerreiros. Tudo é tão surreal que parece que estamos assistindo a uma apresentação do Grateful Dead no meio do set de filmagens de "Ben Hur". Mais tarde, o guitarrista da banda diz que aquelas pessoas eram atores, mas não sabe o nome da companhia. Conta que se conheceram no avião e que ele os convidou a participar do show...

Ao vivo, Devendra Banhart tinha tudo para ser uma chatice sem tamanho. Mas seu hipismo e misticismo, em vez de atrapalhar, dão graça ao show, que é mais rock do que folk.

Além dos quatro músicos da banda, ele é acompanhado no palco por um maluco que veste um manto branco, uma faixa cobrindo o rosto, óculos escuros e que passa toda a apresentação pulando e dançando.

Devendra, com o rosto pintado de azul e grandes óculos escuros de aro vermelho, olha para o céu. "A chuva é uma manifestação extraterrena. Se ela cair, é porque talvez os aliens estejam querendo se juntar a nós. Que seja bem-vinda." A certa altura, chama um garoto para subir ao palco. Ele encara a multidão, canta uma música e depois ganha um grande abraço do ídolo. "Nós somos todos cidadãos da Terra", afirma Devendra Banhart.
Lóki.

O repórter THIAGO NEY viajou a convite da produção do Tim Festival

Especial
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