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19/09/2006 - 10h11

Museu parisiense resgata olhar europeu sobre cultura aborígine

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MARIA CARMONA
da France Presse, em Paris

Selvagem temido ou "bom selvagem", curiosidade exótica ou objeto de estudo científico. A primeira exposição temporária organizada pelo novo Museu do Quai Branly de Paris mostra a partir desta terça-feira a evolução do olhar europeu para as culturas aborígines de América, África e Oceania.

A imagem do outro é construída em função da imagem que se quer dar de si mesmo. Por isto, a exposição não pretende "falar de diferentes culturas em si, mas evocar as diversas formas de vê-las dentro de uma sucessão de configurações culturais ocidentais", explica Yves Le Fur, curador da mostra.

Intitulada "De um olhar a outro - história da visão européia de África, América e Oceania", a mostra convida o visitante a uma revisão das representações das outras culturas na Europa do século 15 até os nossos dias, o que ensina mais sobre os homens que as formularam do que sobre os que eram objeto desta representação.

Dividida em cinco períodos cronológicos, subdivididos por temas, a exposição reúne 1.400 peças, entre quadros, desenhos, estátuas, fotografias e objetos variados.

No século 15, as fronteiras do mundo se ampliaram. Por isso, a exposição começa com um globo terrestre elaborado por volta de 1507 e atribuído a Martin Waldseemüller, o primeiro a chamar de América as terras recém-descobertas, as quais representou como um continente separado da Ásia por um oceano.

Junto dele, está disposta uma jóia única de ourivesaria, um relógio automático em forma de navio, chamado "Nau de Carlos V". Em seguida, o visitante entra na sala denominada 'Teatro do Mundo', dedicada ao período 1450-1700. As representações se sucedem, dos "selvagens" cobertos com pêlos e cenas de canibalismo aos enormes retratos de negros e índios brasileiros feitos por Albert Eckhout, nos quais os graus de civilização são representados em função da mestiçagem progressiva com os europeus.

Vários objetos mostram a utilização como adornos de prestígio pelos europeus de matérias-primas exóticas ou preciosas vendidas no Novo Mundo, e também sua transformação: uma máscara pré-colombiana de turquesa transmutada em peça de ourivesaria européia, ou dois 'Cristos' do artista espanhol Murillo pintados em óleo sobre obsidiana (por volta de 1670), peça na qual "recobriu literalmente de cenas de sua própria religião um objeto cerimonial de outra crença", destaca o curador.

No século 18, os europeus continuam explorando o mundo, mapeando-o, classificando-o. O estudo das ciências naturais inclui os aborígines e suas produções. Ao mesmo tempo, a descoberta dos povos da Oceania alimenta o mito idílico do "bom selvagem". Cem anos depois, a imagem do outro evolui, a abolição da escravatura se aproxima e uma visão romântica da natureza produz obras que influenciam a formação do imaginário do novo mundo. Ao longo do século, a teoria evolucionista marca o mundo científico e a antropologia surge como ciência, em um contexto colonial.

Finalmente, o século 20 é o do reconhecimento estético. Os até então objetos exóticos passam a ser considerados verdadeiras obras de arte, colecionadas por grandes artistas, como Pablo Picasso e George Braque, e inspiram a arte moderna.

Inaugurado em junho passado, o Museu do Quai Branly de Paris é dedicado às artes e civilizações de África, Ásia, Oceania e América, e se propõe a ser um local de diálogo das culturas.

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