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06/10/2006 - 17h39

Crítica: "Dália Negra" é uma boa história mal contada

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JAMES CIMINO
da Folha Online

"Dália Negra" é o filme noir de Brian de Palma que abriu os festivais de Veneza e do Rio de Janeiro. Inspirado no livro homônimo de James Ellroy, narra a história de um brutal assassinato acontecido em 1947: a aspirante a atriz Elizabeth Short é encontrada cortada ao meio, e sua boca, aberta de orelha a orelha. O crime chocou Los Angeles, mas nunca foi solucionado.

O argumento serviu para que o escritor, cuja mãe também morrera em circunstâncias insolúveis, estudasse o caso da jovem --conhecida pela alcunha que dá nome ao livro-- a fundo e desenvolvesse ao seu redor uma trama policial paralela que revela a obsessão de dois policiais pela história da moça. Ou, a quem preferir a análise freudiana, sua própria obsessão.

Divulgação
Scarlett Johansson está em "Dália Negra", que estréia nesta sexta-feira no circuito nacional
Scarlett Johansson está em "Dália Negra", que estréia nesta sexta-feira no circuito nacional
Bucky (Josh Hartnett) e Lee (Aaaron Heckhart) são policiais que se conheceram nos ringues de boxe e passam a viver um implícito triângulo amoroso com Kay Lane (Scarlett Johansson). Gradativamente, contudo, são engolidos pela história da Dália por motivos tão obscuros que se tornam quase incompreensíveis, quando não, apenas especulativos, como reza a tradição do filme noir. Não bastasse isso, durante as investigações, Bucky conhece Madeleine (Hilary Swank) e os dois passam a ter um romance controverso, pois a moça teve um envolvimento com a morta.

De Palma é um excelente esteta. Dirige cenas impressionantes, dança com a câmera em um único set e, mesmo assim, capta tudo que seria necessário para explicar a trama --apesar de, na maior parte do tempo, isso servir mesmo é para confundir e diluir tudo no universo das aparências.

Há referências cinematográficas variadas, passando de "Um Corpo que Cai" a seu próprio "Os Intocáveis". Também é impossível de não comparar o longa a "Los Angeles Cidade Proibida" (também escrito por Ellroy) e, em alguns momentos, a "Cidade dos Sonhos", de David Linch.

A fotografia é impecável, mas o roteiro, mal desenvolvido. Ambos, cineasta e roteirista (Josh Friedman, de "A Guerra dos Mundos"), propõem uma gama de mistérios e conexões entre as personagens que o longa não consegue solucionar por meios próprios --e talvez nem tenha essa intenção. As coisas parecem sempre mais complicadas do que são, como aconteceu, perdoem a comparação, em "Belíssima": tudo parecia um grande problema, mas, ao fim, era apenas óbvio, ou sem muito sentido.

Embora o início do longa seja desinteressante, quem dá sentido e coesão a tudo é o núcleo familiar de Madeleine (cuja mãe Ramona da atriz Fiona Shaw dá um pocket-show à parte).

Quando Hillary Swank entra em cena é que a história começa a se encaixar, pelo menos aparentemente. Tudo, aliás, parecem ser aparências. E, nesse ponto, Swank se mostra como uma atriz magistral, pois brinca até com o fato de sempre ser convidada a interpretar papéis masculinizados --esse não é uma exceção.

Já Scarlett Johansson fica lá o tempo todo fazendo cara de diva, o que é bom para o filme, que se passa em Los Angeles, fala do sonho de Hollywood etc, mas cansa um pouco. Era de se esperar mais de uma atriz que já ganhou a pecha de novo símbolo sexual do cinema, pelo menos na cena de sexo de intimidade duvidosa que ela executa com Hartnett, seu namorado.

Para alguns olhos, o filme deverá parecer confuso, mas não se deve pensar que a história não seja instigante. Segura o público, mas decepciona, pois usa palavras para solucionar mistérios que, na tela, deveriam ser resolvidos por imagens.

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