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22/10/2006 - 08h46

Novela da Globo lança vírus ideológico, diz dono da Band

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LAURA MATTOS
da Folha de S. Paulo

Depois da Record, agora é a Band que corre atrás da Globo e tenta emplacar como produtora --e exportadora-- de novelas. "Paixões Proibidas" estréia no próximo mês, com Felipe Camargo, Graziella Moretto e alguns outros poucos globais.

De época, é co-produzida pela RTP, emissora pública de Portugal, e deverá ser veiculada simultaneamente nos dois países. Por isso, o elenco traz astros da TV portuguesa.

A história é baseada em três romances do escritor português Camilo Castelo Branco (1825-1890), com roteiro de Aimar Labaki e direção de Ignácio Coqueiro, que já atuaram na teledramaturgia da Globo.

Dono da Band, João Carlos Saad fala à Folha sobre o investimento em teledramaturgia e alfineta a Globo com uma tese inusitada: a de que suas novelas disseminam internacionalmente "determinados vírus ideológicos". A Globo não quis comentar. A seguir, Saad explica essa e outras teorias.




FOLHA - Por que fazer novela?

JOÃO CARLOS SAAD - Por acreditar que é um gênero importante na cultura latina. Uma emissora latina tem de ter novela.

FOLHA - Além da dificuldade financeira, um outro motivo levou a Band a abandonar novelas por anos?

SAAD - A parada não foi só na produção de novela, mas em tudo. Não há programação que resista à quantidade de esportes que exibíamos. Transmitíamos todos os eventos esportivos que comprávamos. Arrebentamos com a programação, não havia como acertá-la diante de tantas mudanças de horários dos jogos. Hoje, se tivéssemos regras corretas, detentores de direitos esportivos teriam de exibir o que compram. É injusto e incorreto comprar eventos esportivos e não exibir.

FOLHA - A parceria da Band com a RTP reflete a demanda por novelas locais e não "enlatadas" brasileiras. Por isso a Globo perdeu espaço

SAAD - A [rede portuguesa] TVI [concorrente da SIC, que exibe novelas da Globo] foi ao primeiro lugar em razão disso.

FOLHA - Em resposta a essa tendência, que parece mundial, a Globo montou um novo modelo de negócio, no qual tentará exportar não só a novela pronta, mas seu formato, para que seja produzida uma nova versão em cada país. O que acha?

SAAD - Já ouvi de países vizinhos problemas com a novela brasileira, seja em razão do excesso de "tempero", seja de determinados vírus ideológicos.

FOLHA - Que vírus ideológico?

SAAD - Vários. Pega o "Rei do Gado" [1996/97]. O que foi glamourizado? O que saiu do noticiário e entrou na dramaturgia? O MST [Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra]. Lembra que o [senador petista Eduardo] Suplicy entrou na novela? Procure ver aonde foi a novela [a mais de 30 países, entre eles Cuba e Argentina]. Vi muito país dizer "Não quero". A TV aberta no mundo é muito conservadora. Só não é aqui [no Brasil], onde você vê muito tema com o qual se incomoda por estar com seu filho na sala. Se é menina, então, fica mais grilado. Mas com menino também.

FOLHA - Já foi publicado é que a novela da Band será "apimentada".

SAAD - Tem que perguntar ao autor e ao diretor. O horário de exibição [22h] até permite.

FOLHA - As novelas da Globo, e agora isso chegou à Record, passaram a abrir um espaço para debater o preconceito em torno dos gays...

SAAD - [interrompendo] Se olhar o tratamento dado ao tema lá fora, verá que o nosso é muito mais [procura a palavra]... liberal. "Escrava Isaura", que foi um baita sucesso mundial, é clássica e conservadora.

FOLHA - Por isso a Bandeirantes optou por uma novela de época?

SAAD - A escolha foi em torno de um grande escritor. E novela de época não tem merchandising, mas é atemporal. É bom para exportação, reexibição.

FOLHA - Por que a Band, assim como a Record, é paulistana mas levou a produção da novela para o Rio?

SAAD - O governo de SP ainda não sabe o que é essa indústria, não a olhou estrategicamente. O do Rio, que sabe a importância dessa indústria para geração de impostos, empregos, marketing, é bem mais ágil. A vantagem vai desde custo de estúdio até liberação de ruas para gravações, menos impostos.

FOLHA - Mudando de assunto, o que achou do debate da Band?

SAAD - Como empresário de TV, fiquei feliz. Como brasileiro, triste e preocupado, porque muita gente não assistiu. Apesar de a audiência ter sido grande para nós, 70% dos brasileiros não viram. Há alienação.

FOLHA - Quem ganhou o debate?

SAAD - A pesquisa dá essa resposta. Para as camadas mais humildes, o formato agressivo do Alckmin não funcionou.

FOLHA - O que achou de o "Jornal Nacional" (Globo) ignorar o debate?

SAAD - Lamentável.

FOLHA - Por último: telejornais da Band fizeram reportagens sobre supostas irregularidades do SBT quando a TV Alphaville, de Silvio Santos, trocou a Bandnews pela Globonews. Isso não é submeter o jornalismo a interesses comerciais?

SAAD - [pausa] Precisa voltar à época [1º semestre], se não embola tudo e confunde. São coisas separadas que podem estar próximas. Acho que não tem a ver, pode ter sido coincidência.

FOLHA - E, para você me expulsar [risos]: vai renovar contrato com o pastor RR Soares [que paga para ocupar o horário nobre da Band]?

SAAD - Pensei: "ela arrasta uma asa por ele, não vai deixar de perguntar" [risos]. Não sei.

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre João Carlos Saad
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