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27/10/2006
-
11h12
JOSÉ GERALDO COUTO
da Folha de S.Paulo
Se há um cinema de ficção que pode ser qualificado de etnográfico, "Khadak", da dupla Peter Brosens e Jessica Woodworth, faz parte do gênero.
Ambientado nas estepes da Mongólia, entre nômades criadores de ovelhas, o filme se concentra no drama do atormentado jovem Bagi (Batzui Khayankhyarvaa), que, segundo a tradição. está destinado a se tornar xamã. Para a medicina, contudo, sofre de epilepsia.
O conflito entre a cultura ancestral e a sociedade moderna globalizada está também no pano de fundo: sob o pretexto de que uma praga contaminou seus rebanhos, as famílias nômades têm seus animais confiscados e são removidas para um vilarejo onde funciona uma devastadora mina de carvão.
Há uma analogia evidente: do mesmo modo que as tradições culturais são conspurcadas pela mentalidade capitalista urbana, a magnífica paisagem da Mongólia é agredida por horrendas minas, escavadeiras, guindastes e chaminés.
Em meio à ameaça apocalíptica, emerge uma espécie de revolução de jovens, comandada por Bagi e por uma bela ladra de carvão (Tsetsegee Byamba), que lembra a Paulette Godard de "Tempos Modernos".
Um tanto simplista, talvez, no modo de encarar os dilemas de um país à margem da história, "Khadak" brinda entretanto o espectador com a construção de um mundo estranho e altamente pictórico, com o predomínio das grandes extensões desertas, pontuadas por um ou outro objeto solitário. Alguns planos -como o dos móveis da família removida perdidos na imensidão- lembram a pintura metafísica de um De Chirico.
Outro acerto, do ponto de vista cinematográfico, é o de entrelaçar a ação narrada com o plano dos delírios, sonhos e visões, sem distinguir uma esfera da outra a não ser pelo som. Em decorrência disso, o impacto do insólito universo criado vai muito além da "mensagem" política e ecológica do longa-metragem.
Vale lembrar que o belga Peter Brosens, um dos diretores de "Khadak", ganhou em 1998 o Prêmio da Crítica da 22ª Mostra de São Paulo, por seu "O Estado do Cão".
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da Folha de S.Paulo
Se há um cinema de ficção que pode ser qualificado de etnográfico, "Khadak", da dupla Peter Brosens e Jessica Woodworth, faz parte do gênero.
Ambientado nas estepes da Mongólia, entre nômades criadores de ovelhas, o filme se concentra no drama do atormentado jovem Bagi (Batzui Khayankhyarvaa), que, segundo a tradição. está destinado a se tornar xamã. Para a medicina, contudo, sofre de epilepsia.
O conflito entre a cultura ancestral e a sociedade moderna globalizada está também no pano de fundo: sob o pretexto de que uma praga contaminou seus rebanhos, as famílias nômades têm seus animais confiscados e são removidas para um vilarejo onde funciona uma devastadora mina de carvão.
Há uma analogia evidente: do mesmo modo que as tradições culturais são conspurcadas pela mentalidade capitalista urbana, a magnífica paisagem da Mongólia é agredida por horrendas minas, escavadeiras, guindastes e chaminés.
Em meio à ameaça apocalíptica, emerge uma espécie de revolução de jovens, comandada por Bagi e por uma bela ladra de carvão (Tsetsegee Byamba), que lembra a Paulette Godard de "Tempos Modernos".
Um tanto simplista, talvez, no modo de encarar os dilemas de um país à margem da história, "Khadak" brinda entretanto o espectador com a construção de um mundo estranho e altamente pictórico, com o predomínio das grandes extensões desertas, pontuadas por um ou outro objeto solitário. Alguns planos -como o dos móveis da família removida perdidos na imensidão- lembram a pintura metafísica de um De Chirico.
Outro acerto, do ponto de vista cinematográfico, é o de entrelaçar a ação narrada com o plano dos delírios, sonhos e visões, sem distinguir uma esfera da outra a não ser pelo som. Em decorrência disso, o impacto do insólito universo criado vai muito além da "mensagem" política e ecológica do longa-metragem.
Vale lembrar que o belga Peter Brosens, um dos diretores de "Khadak", ganhou em 1998 o Prêmio da Crítica da 22ª Mostra de São Paulo, por seu "O Estado do Cão".
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