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01/11/2006 - 12h56

Pela 1ª vez no Brasil, Vittorio de Seta defende empenho social no cinema

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ALINE BUAES
da Ansa

Memória viva de uma época de ouro do cinema italiano, quando o empenho político e social estavam na pauta de quase todos os diretores, o cineasta Vittorio De Seta apresentou nesta semana em São Paulo seu último filme, "Cartas do Saara" (2006), em que retrata o "dramático" fenômeno da recente imigração africana na Itália, e defendeu a função cultural do cinema de retratar a realidade, especialmente a temática dos povos marginalizados.

Pela primeira vez no Brasil, De Seta esteve nesta semana em São Paulo como convidado de honra da 30ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, no âmbito da Retrospectiva Cinema Político Italiano dos anos 60 e 70, em que apresentou seu filme "Banditi a Orgosolo" (1961), que retrata o banditismo entre os pastores na Sardenha, premiado melhor filme no Festival de Veneza daquele ano.

O diretor afirmou em conversa que a época do cinema de forte empenho social é lembrada pelo público de hoje da Itália com uma certa "nostalgia de uma época na qual muitos diretores puderam se expressar dentro de uma cultura de esquerda". Remontam a estes anos os filmes mais conhecidos de diretores como Bernardo Bertolucci, Mario Moniccelli e os irmãos Paolo e Vitório Taviani, os quais denunciavam os problemas sociais do seu país com forte engajamento político.

Mas De Seta destacou que discorda da maior parte dos seus colegas daqueles anos, que afirmam que este tempo acabou, declarando que "se quisermos, podemos continuar a fazer filmes como se fazia naquela época". "Eu pessoalmente sempre tentei continuar, realizando filmes que representassem a realidade", revelou De Seta, mas admitiu que a realidade está cada dia mais complexa, e que "a missão dos artistas de hoje não é fácil".

Após a realização de "Banditi a Orgosolo", em 1961, De Seta se dedicou basicamente a produção de documentários, tendo retratado principalmente as difíceis condições de vida dos trabalhadores da Sicília e da Sardenha. Após um longo período afastado, morando no interior da Calábria, o diretor voltou ao mundo do cinema com o filme "Cartas do Saara", apresentado em uma mostra especial no Festival de Cinema de Veneza deste ano.

O diretor afirmou que decidiu voltar ao trabalho pois estava "em busca de novos estímulos, queria conseguir interpretar um pouco esta complexa realidade", e por este motivo escolheu o tema da imigração, "tão dramático na Itália e na Europa de um modo geral".

"Cartas do Saara" conta a história de um jovem imigrante clandestino do Senegal, que interrompe seus estudos para emigrar para a Itália. De Seta explica que o filme possui uma mensagem de otimismo, afirmando que a única solução para uma convivência pacífica entre os povos "é o diálogo". "É preciso construir uma civilização multiétnica juntos", defende o cineasta, que não esconde seu projeto de empenho social, ao salientar que o cinema também possui "uma função cultural, não apenas de diversão".

O diretor explicou que foi procurado principalmente por professores e diretores de escolas públicas italianas, que desejam projetar o filme para seus alunos devido à importância do tema tratado, pois "nas escolas italianas, 10% dos alunos são estrangeiros não-europeus".

O documentarista De Seta confirma, deste modo, sua tendência de buscar retratar no cinema de ficção a realidade, especialmente a temática dos povos marginalizados. Os pastores sardos retratados em "Banditi a Orgosolo" eram marginalizados "porque eram considerados bandidos" na Sardenha dos anos 60, enquanto os imigrantes africanos retratados em "Cartas do Saara" são marginalizados porque "passam meses como clandestinos esperando por um visto de permanência" na Itália dos anos 2000.

Vittorio encerra a entrevista, reiterando sua posição sobre o cinema político, esperando "que se façam cada vez mais filmes e documentários com caráter de empenho social", ressaltando que "o cinema deve ser político, mas não partidário" e lembrando que o cinema e a televisão podem "permitir um percurso de aprofundamento incrível" e "auxiliar na formação das pessoas".

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