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02/11/2006 - 10h18

Diretor faz cinema emotivo e popular sem apelar à estética da TV

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CÁSSIO STARLING CARLOS
Crítico da Folha de S.Paulo

Símbolo máximo do esporte coletivo, o futebol é a linha que organiza a ficção traçada por Cao Hamburger em seu segundo longa, "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias", após sua excelente incursão no universo das séries com "Filhos do Carnaval". Tendo como pano de fundo a Copa de 1970, o filme narra a descoberta do mundo de um garoto que fica sozinho depois que seus pais se lançam numa participação na luta armada.

Desta vez, contudo, a crônica dos anos de chumbo, tema recorrente no cinema brasileiro recente, não é o mote principal. Pois a política reaparece aqui só para acentuar o lugar a ser ocupado, tema construído com enorme eficácia pelo diretor com a presença magnética de Michel Joelsas no papel de Mauro, um garoto de 11 anos aficionado por futebol.

Divulgação
Filme narra a descoberta do mundo de um garoto cujos pais se lançam na luta armada
Filme narra a descoberta do mundo de um garoto cujos pais se lançam na luta armada
Significativamente, a posição favorita de Mauro no jogo é a de goleiro. Lugar atípico e contraposto ao coletivo que move a partida, pois a posição do goleiro é a da pura solidão. Ele precisa se mover quase exclusivamente pelo olhar sem se deslocar fisicamente de seu lugar, e é este o drama encenado por Hamburger tendo Mauro como protagonista. O garoto fica sozinho dentro do apartamento do avô morto, à espera de um contato que anuncie o retorno dos pais. Evita se deslocar deste espaço para não perder um eventual telefonema.

Desta posição única e inconfundível, Hamburger arma um jogo de relações que se expande pela vizinhança e pelas ruas do Bom Retiro, com sua multiplicidade racial, signo em escala reduzida do próprio Brasil.

A presença de uma criança como protagonista não é recurso incomum no cinema. Desse ponto de vista, os cineastas conseguem mostrar uma visão ainda não codificada, em construção, capturando o que se costuma designar "inocência do olhar". É esse aspecto de inacabamento, revelado por meio de cuidadosos exercícios de descoberta, que Hamburger alcança com enorme eficácia.

Para além de sua elaborada estrutura dramática e visual, "O Ano..." é uma proposta de cinema popular sem ser popularesco, sem se limitar à transposição de elementos da TV (atores e tramas) para se comunicar. Em suma, o que Hamburger realiza é um cinema emotivo e sofisticado e, com esse filme, marca um golaço.

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