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14/11/2006 - 09h11

Encontro em quilombo reúne 14 grupos de dança e música

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LUIZ FERNANDO VIANNA
Enviado especial da Folha de S.Paulo a Valença (RJ)

O 11º Encontro de Jongueiros, realizado no fim de semana, foi um retrato da virada por que o jongo passou nos últimos anos. De manifestação que se apagava nas comunidades descendentes de escravos, ganhou fôlego nesses e em outros grupos, inspirando livros, discos e eventos como o encontro.

Catorze grupos de jongo se reuniram no quilombo São José da Serra, em Conservatória, distrito de Valença (sul fluminense), a 143 km do Rio. Apesar da chuva forte, cerca de 700 pessoas participaram da festa, feita sob uma grande tenda e com refletores em vez de fogueiras, estrutura montada com os patrocínios da Petrobras e da Natura.

"Nós éramos rejeitados, mas hoje temos apoio, graças aos amigos que vêm de fora", comemorou o líder do quilombo São José, Toninho Canecão, 60, filho da ex-matriarca da comunidade, morta há três anos. "O nosso jongo ficou meio capenga quando um grupo foi para São Paulo e nosso jongueiro foi junto, mas mãe Zeferina não deixou a tradição morrer."

Foi ela quem autorizou as crianças do São José a dançar o jongo, como acontece hoje em todas as comunidades. No passado, os mais velhos não permitiam, pois os pontos cantados eram considerados feitiços muitos fortes.
"No meu tempo isso não podia, mas agora é melhor, o jongo está valorizado", disse Manoel Seabra, 87, neto de Pedro Seabra, que criou o quilombo em 1850.

Até dois anos atrás, não havia luz elétrica nos 125 hectares. Eles foram delimitados na semana passada, primeiro passo para que os quase 200 moradores -de uma família só, pois se casam entre eles- se tornem proprietários da terra, onde cultivam plantas medicinais e hortas para consumo próprio. Embora o primeiro dono da fazenda prometido doar as terras aos escravos, seus herdeiros nunca cumpriram.

Umbigada e tambores

Patrimônio imaterial brasileiro e candidato a ser da humanidade, o jongo nasceu entre os negros bantos que trabalhavam como escravos nas fazendas de café do Vale do Paraíba, em áreas de Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais.

A tradição une dança --similar à umbigada, mas sem contato físico-- e música, marcada pelos tambores (o grave caxambu e o agudo candongueiro) e pelos pontos, em que se cantam o trabalho na roça, os antepassados, os santos e os orixás. Nos versos, o português se mistura a palavras de origem africana.

"Com o jongo, encontramos nossos antepassados. Na nossa comunidade, ele ficou adormecido por cerca de 50 anos, porque houve um branqueamento grande, havia muitos negros católicos, e as manifestações eram consideradas feitiçaria", contou Alessandra Ribeiro, 30, líder da Comunidade Dito Ribeiro, de Campinas, que reúne 50 pessoas.

Ela diz que, há sete anos, começou a ouvir em sonhos seu avô, Dito, lhe mostrar um preto velho que cantava jongos. Até hoje, afirma, ouve os pontos, que leva para o grupo.

Grupos de Pinheiral, Porciúncula e Quissamã, no Estado do Rio, e Guaratinguetá e Piquete, em São Paulo, foram outros que participaram do encontro, que começou às 22h30 de sábado -depois de uma hora de discursos com loas ao governo federal e uma apresentação de Dona Ivone Lara e Xangô da Mangueira- e se estendeu por toda a madrugada de domingo.

As histórias dos grupos estão contadas e cantadas no CD-livro "Jongos do Brasil" (R$ 45, encomendas pelo email brasil @brasilmestico.com.br), de Marcos André, lançado durante o evento.

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